A grande (e surpreendente) final da WNBA

Lucas PachecoOutubro 4, 20257min0

A grande (e surpreendente) final da WNBA

Lucas PachecoOutubro 4, 20257min0
Mercury e Aces estão na final da WNBA 2025 e Lucas Pacheco tenta te revelar quem está mais perto do título de campeão

Eis que chegamos à grande final da temporada 2025 da WNBA e temos uma final surpreendente. Las Vegas Aces (segundo na fase de classificação) e Phoenix Mercury (quarto) começam a série, em melhor de sete partidas, na próxima sexta (03/10), em Las Vegas. Se todos contavam com a repetição da final de 2024, entre New York Liberty e Minnesota Lynx, ninguém esperava pela rapidez com que Phoenix se reconstruiu.

A franquia, três vezes campeã, perdeu sua grande estrela, a protagonista das conquistas, Diana Taurasi, aposentada. A segunda lenda, a pivô Brittney Griner, optou em testar o mercado e acabou rumando para Atlanta, restando tão somente duas jogadoras da fraca campanha de 2024 (Kahleah Copper e Natasha Mack). As mudanças no elenco possibilitaram a guinada, a partir de um excelente trabalho de prospecção, obra do GM Nick U’Ren; Phoenix investiu a maior parte de sua folha salarial em três grandes estrelas, formando um trio de ouro com Copper (remanescente), Satou Sabally e Alyssa Thomas.

O trio, sozinho, já alçaria Phoenix à concorrência do título. Faltavam 9 vagas, com pouco espaço na folha salarial para completar o elenco. U’Ren apostou no trabalho de scouting e incorporou jogadoras pouco conhecidas, muitas das quais calouras ainda que com experiência internacional. Absolutamente todas preenchendo o perfil de boas defensoras, espaçadoras da quadra e arremessadoras de três, além de muita intensidade. Montado o elenco, aparentemente desequilibrado, a tarefa passava para o técnico Nate Tibbetts, em seu segundo ano na liga.

Phoenix sofreu com muitas contusões na primeira metade da temporada, sem que as ausências afetassem a construção da identidade do time (O novo e empolgante Phoenix Mercury): não importava quem estivesse em quadra, víamos uma equipe aguerrida, lutando por toda bola, com defesa forte e pressionada e volume ofensivo. Uma equipe formidável, que sofreu uma ligeira queda ao juntar suas três estrelas; depois do espasmo, natural para um conjunto novo, o time voltou a brilhar. A campanha acima do esperado não foi suficiente para facilitar os confrontos nos playoffs e o Mercury cruzou logo de cara contra as atuais campeãs de Nova Iorque.

Sendo a primeira rodada em melhor de três, a derrota na estreia (69 x 76) obrigou a vencer fora de casa e, de volta ao Arizona, o jogo desempate. O trio de ferro apareceu, contou com a oscilação do Liberty, e conquistou a vaga, depois de vitórias por 60 x 86 e 79 x 73, com direito a triplo duplo de sua principal protagonista, a power-guard Alyssa Thomas (20 pontos, 11 rebotes e 11 assistências). Despachada a campeã, Phoenix teria pela frente na semi-final a vice-campeã Minnesota Lynx, dona da melhor campanha da fase regular.

Novamente com derrota no jogo 1 (82 x 69), Phoenix virou a série e venceu os três duelos seguintes, reforçando a identidade desse time (físico, forte, atento, concentrado e intenso). No jogo 2, em Minneapolis, o Mercury reverteu uma desvantagem de 16 pontos no intervalo, forçando na prorrogação até ganhar por 83 x 89. Ao migrar a série para seus domínios, era a chance de fechar a semi; tarefa dada, tarefa cumprida. Phoenix novamente fechou o jogo de forma magistral, relegando o poderoso ataque do Lynx a meros 9 pontos no quarto final; a virada por 84 x 76 deixava o time a uma vitória da final. O lance decisivo, um roubo de bola de Thomas sobre Napheesa Collier, provocou intenso debate sobre uma possível falta; a jogada contundiu Collier e enfureceu a técnica Cheryl Reeve.

Sem Phee e sem Reeve (suspensa do jogo 4), o Phoenix novamente precisou de um final espetacular para virar o jogo 4 e fechar a série com a vitória por 86 x 81. O que parecia improvável e um sonho longínquo no começo da temporada, virou realidade. O Mercury chega embaladíssimo à final, com favoritismo, em grande parte devido à altíssima intensidade demonstrada nos playoffs. Tibbetts reduziu a rotação e utiliza Thomas como a principal pivô na maior parte do tempo (inserindo DeWanna Bonner, contratada durante a temporada, no quinteto mais usual). Alyssa Thomas não é apelidada de ‘engine’ à toa, é ela quem dita o ritmo do Phoenix, sem eclipsar e tirar arremessos das outras duas estrelas – quando as três aparecem bem, é praticamente certa a vitória.

O time, sem pivozona fixa no garrafão, espaça a quadra com 4 chutadoras e dá plena liberdade para AT atacar a cesta. O ‘bloqueio invertido’ (inverted pick and roll, quando uma armadora bloqueia a marcadora de Thomas pelas costas, abrindo espaço para ela atacar o aro) foi o arroz com feijão de Phoenix até aqui nos playoffs, sem que Liberty e Lynx tenham achado antídoto. Se o arremesso não sai daí, Copper e Sabally trabalham nos lados da quadra, explorando o primeiro passo explosivo, os bons arremessos longos e cavando lances livres. Junte o ataque “simples” e eficiente a uma defesa pressionada na bola, com muitas trocas nos momentos derradeiros, e temos a fórmula de sucesso. Resta saber se será suficiente para o título – do outro lado estará a 4 vezes MVP, a dominante pivô A’ja Wilson.

Wilson capitaneia o Aces e o time de Las Vegas depende de sua grande estrela. O coletivo não é mais aquela máquina vista no bicampeonato de 2022 e 23 e o elenco possui menos peças confiáveis que na temporada passada. Se o Phoenix chega à final voando, o Aces chega capengando: sofreu horrores para derrotar o Seattle Storm na primeira rodada (2×1, com o Storm tendo o arremesso final para vencer e avançar), pelejou para bater um destroçado e resiliente Indiana Fever na semi-final (3×2, com a última partida vencida somente na prorrogação, contra um time sem Kelsey Mitchell – machucada – e Aliyah Boston – eliminada por faltas).

Nada disso tira as chances de título do Aces, cuja temporada foi marcada por oscilação e dividido ao meio: na primeira metade, a equipe lutava pela oitava posição, ameaçada de ficar fora do playoff; na segunda parte, o time engatou uma sequência de 17 vitórias que asseguraram a segunda posição na tabela. A reviravolta veio com a mudança de Becky Hammon, que inseriu Kierstan Bell no quinteto titular e conduziu Jewell Loyd à segunda unidade. A’ja cresceu ainda mais e trouxe suas co-protagonistas (Chelsea Gray e Jackie Young) consigo.

O Las Vegas Aces deu um jeito de se meter na final, com os problemas do início do ano voltando a aparecer nos playoffs. Ainda assim, o time tem experiência e um quinteto de muita qualidade para derrotar o Mercury na final (na temporada regular, Las Vegas ganhou o duelo particular por 3×1). Becky Hammon precisará de planos para conter o trio (ou ao menos uma das três) de Phoenix, além de subir a intensidade do conjunto; ela apostará, ainda, no encaixe dos confrontos individuais – Alyssa Thomas terá a MVP pela frente (no duelo particular nos playoffs, A’ja venceu a semi em 2020 e a final em 22).

Phoenix vem desafiando o histórico da WNBA na caminhada até a final, seja na montagem heterodoxa do elenco, seja na formação sem presença fixa no garrafão. O time chega com favoritismo perante um Aces que precisa retomar o bom e regular basquete do fim da fase classificatória; A’ja precisará de novas atuações épica para carregar um elenco menos brilhoso que as edições anteriores – e ela sabe o caminho das pedras.

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