A cereja do bolo: os playoffs da LBF

Lucas PachecoJunho 13, 20248min0

A cereja do bolo: os playoffs da LBF

Lucas PachecoJunho 13, 20248min0
Lucas Pacheco olha para o que vem aí das eliminatórias da LBF 2024 e quem terá a melhor chance de chegar ao título

A Liga de Basquete Feminino (LBF) chegou, enfim, aos playoffs. A temporada presenciou ampliação para 11 equipes participantes e São José, Catanduva e Ponta Grossa acabaram eliminados na fase regular. São José retornou à competição após anos de inatividade e, com um elenco novo, lutou até onde deu; processo similar ao estreante Ponta Grossa. Já o experiente Catanduva fez uma temporada para esquecer, com muito a ser reavaliado para 2025.

As quartas-de-final da LBF ocorrem em série melhor de três, com o primeiro confronto com mando da equipe pior classificada e os dois restantes (o terceiro, em caso de necessidade) na casa da melhor colocada na fase regular. A primeiro partida será disputada na quarta, 12/06, e se estende até o dia 23.

https://twitter.com/LBF_Oficial/status/1800904863511097647

Olhemos mais de perto cada um dos quatro duelos; não poderíamos deixar de opinar e apontar os aspectos principais de cada confronto.

Sampaio (1) x (8) Sodiê Mesquita

Sob qualquer perspectiva, a varrida maranhense aparece como o palpite certeiro. A equipe líder, com 19 vitórias e apenas 1 derrota, com investimento muito superior e elenco estrelado, encara a oitava colocada, com 7 vitórias e 13 derrotas. Os dois triunfos tranquilos do Sampaio na fase regular (76 x 62 em São Luís e 63 x 46 em Mesquita) reforçam a previsão.

O Sampaio entrará no playoff da LBF sem as duas estrangeiras (Chrislyn Carr foi dispensada), o desfalque da pivô Trinity Baptiste será sentido – nas poucas exibições na liga (5 jogos) ela liderou a equipe em eficiência. Porém o elenco recheado com jogadoras da seleção brasileira acostumou-se à formação enquanto as oriundas da Europa não entravam em cena. O time encaixou-se em torno de Sassá e Cacá, com forte defesa e distribuição ofensiva. O técnico Bruno Guidorizzi logo ajustou suas formações, com todas aceitando seus papéis para o sucesso coletivo.

Já a Sodiê Mesquita sentiu a ausência de sua estrela, a ala 2x MVP da liga, Thayná; ela disputou míseras 6 partidas e o time não poderá esperar mais. Ou ela faz duas partidas memoráveis, ou o time sucumbirá. Pelo nível de investimento, o projeto cumpriu com seu papel, tendo adicionado uma estrangeira de excelente nível (a armadora colombiana Mayra Caicedo) e dado oportunidade para jovens despontarem no cenário nacional. Mas, em algum momento, as ambições deveriam crescer – o núcleo duro do time (Thayná, Mayara e Brenda) é excelente e deveria acrescentar outras camadas à já sedimentada característica de entrega, intensidade e defesa. Difícil aguardar que a chave mude em tão curto espaço de tempo.

Palpite: Sampaio vence as duas primeiras e avança à semi-final

Sassa (Foto: LBF)

Ituano (2) x (7) Corinthians

A grande diferença nas campanhas obscurece a real dificuldade deste duelo. Enquanto o Ituano superou as expectativas (16v e 4d), o Corinthians passou pela fase de classificação de maneira protocolar (9v e 11d). Não se engane: os dois confrontos diretos foram vencidos pelas equipes visitantes (81 x 86 em Itu e 63 x 72 em São Paulo) e o equilíbrio deve prevalecer.

O criticado técnico Antônio Carlos Barbosa soube reinventar o padrão tático do Ituano; sem ma pivô de ofício, ele abriu o jogo e apostou no espaçamento de Gabi Guimarães (atacando linhas de infiltração, a partir do drible, iniciando no perímetro e abusando de sua habilidade em giros e finalização próximo ao aro) e Lee Lisboa (com sua marca registrada, os arremessos de três pontos). Ao lado de três armadoras da posição 1, a formação surtiu efeito e dirimiu as ausências das alas Leila e Patty, além de catapultar Gabi na busca do MVP da LBF. Nem a chegada tardia da pivô Monique mudou a forma de jogar, uma vez que a aposta em um basquete mais fluido e ofensivo deu resultado.

O Ituano liderou a liga em aproveitamento de três pontos (34,4%), sendo a quarta equipe em arremessos dessa distância. Nas duas partidas contra o Corinthians, o time chutou mais de três que de dois pontos – quando chegou nos 34%, venceu.

Seu adversário, pelo contrário, é o segundo que menos arremessa de três e foca seu ataque no jogo das pivôs e nas segundas oportunidades, fruto de muitos rebotes ofensivos. Quando superou o Ituano nas tábuas, venceu.

As maiores dúvidas pairam nos muitos desfalques do Corinthians na reta final da fase regular. A armadora Micaela (principal parâmetro do time, a despeito de seus 16 anos) estará na seleção brasileira sub-18; Mari Dias, Clarissa e Tati Pacheco são dúvidas e suas ausências impactam demais em um elenco formado às pressas, cujo técnico Cristiano Cedra roda bastante. Para piorar, o ginásio do Corinthians passa por reformas e, a dois dias da abertura das quartas, não há definição do local da partida.

Tal qual na seleção, as esperanças e a responsabilidade recairão sobre a ala-armadora Tainá Paixão, reforço que disputou somente 5 jogos na temporada. Sem elenco de apoio, seus 36 minutos de média deverão subir ainda mais e aguardemos muitas jogadas de pick and roll dela, além da individualidade da ala Ariadna.

Palpite: os desfalques pesarão e o Ituano varrerá o Corinthians

Sesi Araraquara (3) x (6) Blumenau

Criador e criatura frente a frente nesta série da LBF. De um lado o poderoso Sesi, comandado por José Camargo, que saiu de Blumenau e deixou sua discípula Bruna Rodrigues à frente do projeto. Ambos utilizam o esquema difundido pelo atual técnico da seleção brasileira, com defesa pressionada (alternando individual com zona 2-3), premissa de ‘chegar jogando’ e muitos, muitos chutes de três pontos.

A diferença recai, obviamente, na qualidade dos elencos. Em Araraquara, com doze opções reais de entrar na partida, com muitas estrelas. Não que a campanha na fase regular tenha impressionado, pelo contrário as expectativas eram de domínio após o título de 2023, incompatível com as 14v e 6d. Um esquema manjado, cujas movimentações previsíveis fazem as defesas anteciparem os passes.

Gretter (Foto: LBF)

Contra um elenco recheado, Blumenau apostará suas fichas na melhor jogadora deste duelo da LBF, a armadora argentina Meli Gretter. Com 7 partidas disputadas, ela beira triplo-duplo de média (8,9 pts, 8,3 reb e 10,3 ast) e é capaz de produzir jogadas inesperadas, a partir de sua visão de quadra. A presença de Gretter e seu controle de bola destravaram o pick and roll de Maria Carolina e os arremessos longos de Mabel Martinez. Se a pivô Glenda estiver em plenas condições físicas, o duelo torna-se equilibrado, ainda mais com a viagem do Sesi no meio do confronto para a disputa da Liga Sulamericana.

Palpite: Sesi vai suar horrores e avançar somente no jogo três

Santo André (4) x (5) Unimed Campinas

Se no duelo anterior veremos dois estilos similares, nesta série da LBF teremos dois padrões opostos. Santo André surpreendeu a todos com seu estilo ainda mais veloz e acelerado que no ano passado, menos centralizado (Lays e Sassá, donas da bola em 2023, rumaram para o Sampaio) e mais agressivo na defesa. A modéstia do investimento fez as outrora coadjuvantes assumirem protagonismo: a voraz Evelyn Larissa nas infiltrações, a precisão de Tássia nos arremessos, a defesa impressionante e incansável de Yasmim.

Marcella Prande ganhou espaço e mostrou-se muito mais ligada à alta intensidade da equipe; a chegada das armadoras Bea e Isinha repôs a velocidade perdida com a saída de Lays. Não à toa o técnico Rafael Choco é franco candidato a ‘técnico do ano’. O retrospecto da fase regular pende para Santo André – duas vitórias, por 80 x 77 em Campinas e 68 x 63 em seus domínios.

Santo André chuta muito de três e possui fragilidade no garrafão (a única pivô de ofício, Letícia, machucou-se e está fora do restante da temporada); Campinas chuta pouco de três, possui rotação ampla na área pintada, joga em um estilo bem mais cadenciado e sem qualquer pressão na defesa.

Após o fiasco do começo da temporada, com a demissão do técnico Dyego Maranini, o time apostou no interino Bernardo e na experiência de suas duas armadoras, Casanova e Babi. O time encaixou um jogo voltado ao garrafão, com duas pivôs dominante (Fatou Diagne e Licinara), que venceram a batalha dos rebotes nas duas derrotas para Santo André.

Num duelo equilibrado como esse, o mando de quadra (e a intensidade defensiva) pode ser decisivo.

Palpite: Santo André vence por 2 a 1


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