2021: Um ano atipicamente épico para o judo português

João CamachoDezembro 11, 20217min0

2021: Um ano atipicamente épico para o judo português

João CamachoDezembro 11, 20217min0
João Camacho faz uma revisão ao que se passou no judo português em 2021, dos campeonatos do Mundo até a mais uma vitória de Telma Monteiro

Estamos a chegar ao final do ano de 2021, um ano que marcará a história do Judo Português. Nunca Portugal conquistou um conjunto de resultados como em 2021. Será desafiante, ou muito difícil, igualar o que foi conquistado: Destaco um Bronze Olímpico, a revalidação de um Título Mundial de Seniores, dois Títulos Europeus, um Bronze Mundial, quatro Bronzes nos Campeonatos da Europa, e vários pódios no Circuito Mundial.

Para terminar com chave de ouro, foi confirmada a realização de uma etapa do Circuito Mundial em Portugal, Grand Prix de Odivelas, que decorrerá no final de Janeiro, no Pavilhão Multiusos de Odivelas.

2021

Sou praticante de Judo há mais de 40 anos e face à realidade que presenciei, principalmente na década de 90 e devido aos constantes desafios, limitações, desorganização federativa, precariedade de condições, além de pouco conhecimento e falta de metodologia, tive sempre muitas dúvidas, confesso, que Portugal algum dia conseguisse uma excelência e consistência de resultados como aqueles que atualmente presenciamos.

O Judo é uma modalidade desportiva cada vez mais competitiva, onde muitos países já contam com estruturas totalmente profissionais, e onde Portugal se intromete com resultados de grande nível, apresentando um conjunto de atletas com uma notável consistência.

Voltando à década de 90, foi aqui que tivemos uma geração que começou a dar nas vistas. Michel Almeida, Pedro Soares, Filipa Cavalieri, Guilherme Bentes, Nuno Delgado, entre outros, abriram as portas e contribuíram decisivamente para que o Judo passasse a fazer parte do dia-a-dia dos Portugueses. Passámos a ter resultados consistentes, a marcar presença nas principais competições, com prestações de destaque, incluindo competições de equipas.

Tivemos importantes referências que antecederam esta brilhante geração da década de 90, é importante não esquece-las, mas, claramente, há um “antes” da Medalha Olímpica de Nuno Delgado e um” depois”. Foi a partir daí que o Judo Português se afirmou, passou a ter referências, com resultados que ultrapassaram algumas potências deste desporto, que contavam com orçamentos substancialmente superiores, como por exemplo o país vizinho, a Espanha, com um número de praticantes 10 vezes superior, e que tem tido um conjunto de resultados relevantes, porém, nos últimos 20 anos, inferior aos que os Judocas Portugueses têm conquistado.

2021 ficará para a história e colocou a “fasquia muito alta”. A maior parte dos nossos atletas de topo irá continuar até aos Jogos Olímpicos de Paris, em 2024, com a janela de qualificação a começar já em 2022. A exceção é a fantástica Joana Ramos, que colocou um ponto final à sua brilhante carreira, aos 39 anos, mas que continuará, e ainda bem, a dar uma preciosa contribuição como elemento da equipa técnica nacional. Acredito que no curto prazo, temos todas as condições para garantirmos novamente uma representação nuns Jogos Olímpicos com aspirações a chegar ao pódio. Recordo que em Tóquio, Portugal teve a sua melhor prestação de sempre, com o 5.º lugar de Catarina Costa nos 48Kg e o Bronze de Jorge Fonseca nos 100Kg.

Grand Prix Odivelas

Se 2021 já era, sem dúvida, um ano para recordar, a confirmação da realização do Grand Prix de Odivelas, etapa do circuito Mundial de 2022, foi a cereja no topo do bolo.

Portugal confirma a entrada no restrito conjunto de países que recebe uma etapa do circuito Mundial, uma clara recompensa para a visibilidade conquistada pelo Judo Português, mas também pela reconhecida capacidade de organizar eventos desta dimensão, como ficou demonstrado no Campeonato da Europa de 2021, que decorreu em Abril na Altice Arena, em Lisboa, um excelente exemplo cujo mérito foi reconhecido e louvado por diversas federações, seleções, individualidades e pelos media de vários países.

Parte dessa “responsabilidade” é, sem dúvida, de Catarina Rodrigues. Para além de ter um percurso de atleta de alta competição de muita qualidade, destacando-se a Medalha de Bronze nos Campeonatos do Mundo de Munique, em 2001, Catarina foi a primeira, e à data, a única mulher a assumir o cargo de Diretora Desportiva da União Europeia de Judo. A sua contribuição não pode deixar de ser destacada e é de enaltecer o mérito e a qualidade do seu trabalho.

O Grand Prix de Odivelas irá decorrer entre os dias 28 e 30 de Janeiro de 2022, está garantido para os próximos 4 anos e será a etapa que marcará o arranque do Circuito Mundial todos os anos. Uma oportunidade única de ver alguns dos principais Judocas da atualidade em ação, numa competição onde o apoio do público, e acredito que vamos ter público, será fundamental para que os Judocas Portugueses se superem e continuem a marcar presença nos pódios deste competitivo Circuito Mundial.

Campeonatos Nacionais 2021

A Federação Portuguesa de Judo (FPJ) conseguiu criar condições para organizar os campeonatos nacionais dos principais escalões etários (Veteranos, Cegos e Baixa Visão, Juvenis, Cadetes, Juniores, Seniores). Um esforço notável, especialmente do ponto de vista logístico, pois foi necessário definir e implementar um conjunto de procedimentos já que a pandemia continua por cá e era imperioso assegurar que os campeonatos decorreriam em segurança e sem colocar em risco todos os atletas, treinadores e staff.

O balanço é positivo, especialmente porque tivemos oportunidade de ver em ação alguns dos principais atletas da seleção nacional, como foi o caso de Telma Monteiro, que se sagrou Campeã Nacional da categoria dos 57Kg, após muitos anos de ausência. Não tem sido frequente ver os atletas de topo participarem na mais importante competição nacional e seria interessante que estes atletas marcassem presença com mais frequência, pois sabemos como são importantes estas referências para as gerações mais novas.

Por outro lado, preocupa-me a excessiva concentração de competições em Coimbra. A descentralização é saudável e promove a modalidade, mas o enorme esforço financeiro associado à deslocação, alojamento e aos testes que fazem parte da atual realidade dos competidores, numa altura em que muitos clubes e atletas atravessam um período muito conturbado e de grandes dificuldades, é uma questão a ter em conta. Atendendo a que a vasta maioria dos atletas são oriundos da região da grande Lisboa, era expectável alguma sensibilidade da Federação em não concentrar todas estas competições em Coimbra.

Outro ponto que merece uma reflexão, é a constatação de que existe um fosso, cada vez maior, entre os principais atletas da seleção nacional, a elite do Judo nacional, e os atletas que tentam chegar a este nível. Falta quantidade e, confesso, alguma qualidade e consistência, para que os resultados de excelência que alcançámos em 2021 continuem a acontecer num registo sustentável. Creio que é urgente um debate entre a Federação e os principais agentes da modalidade para definir uma estratégia e para que se criem condições e o Judo volte a crescer em número de praticantes, porque a base da pirâmide está, claramente, a diminuir e, para os menos entendidos em geometria, a pirâmide perde sustentabilidade com um base “fraca”…

Prometo voltar antes do final do ano para uma antevisão de 2022. Até lá, Boas Festas!

Telma Monteiro (Foto: FPJ)

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