MLB: Após 100 dias de greve, a Major League Baseball está oficialmente iniciando em 2022
A temporada 2022 da Major League Baseball finalmente vai começar. Após praticamente 100 dias de espera, durante uma greve esperada e de difícil resolução, tanto o grupo de donos dos 30 times como o sindicato dos atletas profissionais aceitaram as demandas do novo acordo coletivo de barganha.
Com a decisão, os atletas das 30 equipes da MLB estão autorizados e aptos a retomar as atividades imediatamente. A expectativa é que a temporada tenha os 162 jogos como de costume (com reposição dos jogos cancelados na última semana), e inicie no dia 07 de abril. Para além disso, os fãs de beisebol podem esperar uma série de mudanças na liga!
Confira na coluna desta semana todas as novidades do novo acordo!
Demora era esperada, mas foi além da expectativa
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— MLB (@MLB) March 11, 2022
Esta foi a segunda maior paralisação trabalhista da história da Major League Baseball. Demorou, mas a decisão saiu. A discussão parecia que não teria fim, mas a pressão pela falta de jogos e perspectiva fez com que as partes reduzissem as pedidas. Não há como dizer se havia lados certos, mas certamente, quem mais perderia com o cancelamento de jogos seriam os torcedores.
Da forma como a negociação foi feita, em vários momentos vimos a opinião pública mudar o alvo das críticas durante a greve. Ao final, o tom é de vitória dos atletas, que consideram praticamente todas as demandas atendidas. Os pormenores do novo contrato ainda precisam ser ratificados pelos donos, mas em linhas gerais, a aprovação da proposta contou com 30 votos positivos entre os 30 donos, 26 votos positivos entre os 30 atletas que representam os times. Os votos contrários foram de 4 atletas representantes das equipes e de 8 executivos do sindicato dos atletas, a MLBPA.
Principais mudanças que afetam o jogo
Entre todas as alterações no novo contrato, algumas abrangem diretamente o andamento das partidas. A principal e há décadas discutida é a adoção de um rebatedor designado na Liga Nacional, assim como já existe na Liga Americana. A mudança traz uma óbvia padronização ao esporte, mas quebra uma das tradições mais duradouras: até ano passado, a Liga Nacional mantinha o arremessador como um dos 9 nomes na ordem de rebatedores, como historicamente havia sido.
A partir de abril, os 15 times da Liga Nacional terão a oportunidade de escalar um atleta que atuará apenas rebatendo nas partidas, sem necessidade por defender. Economicamente falando, são 15 novas ‘vagas de emprego’, que agradam principalmente atletas em processo natural de declínio físico – o que não quer dizer que ainda não tenham ‘lenha para queimar’.
Em 2022 não teremos mais jogos de apenas 7 entradas, regra que perdurou para 2021 após a temporada encurtada de 2020. Neste ano, mesmo jogos que sejam reposição de partidas adiadas, terão os nove innings regularmente. Outra regra que deixa de existir é a de os times começarem o turno de ataque das entradas extras com um corredor na segunda base. A medida, aprovada por muitos, havia sido testada para acelerar jogos – lembrando que a MLB é uma das ligas em que jogos não acabam se houver empate.
Por fim, a Liga passa a ter doze vagas na pós-temporada, ao invés dos 10 do ano anterior. Ainda não está clara como será a classificação, mas a proposta é que seja semelhante à utilizada na NFL (National Football League). Neste ponto, a proposta pelo aumento de vagas nos ‘playoffs’ era demanda de ambas as partes, mas torcedores entendem que a MLB perde competitividade ao adicionar mais equipes à corrida pela World Series.
Parte financeira era principal entrave
A causa de tanta demora em um novo contrato, gerando a longa greve, foi a dificuldade em as partes chegarem num consenso sobre a questão financeira. Há anos o Sindicato e os donos batalham por questões como uma distribuição mais justa da renda do esporte, e muito se discutia sobre as condições mínimas de trabalho dos atletas.
O novo acordo é considerado uma vitória dos atletas, uma vez que houve aumento no salário mínimo da MLB, bônus de performance e um limite maior na chamada Taxa Equilíbrio Competitivo. A CBT (sigla em inglês) é uma espécie de ‘teto’ salarial da liga (embora a MLB não tenha de fato um valor máximo que os times podem gastar, há uma multa para as equipes que tiverem despesas maiores que os totais determinados).
Em termos de salário mínimo, a base teve um aumento considerável e passa aos 700 mil dólares anuais (em 2021 o valor foi de 570,5 mil dólares anuais). A mudança não afeta tanto as principais estrelas, mas é essencial para manter atletas recém-promovidos ao principal nível do esporte. O valor terá aumento anual pelos próximos anos do novo contrato, chegando a 780 mil dólares anuais em 2026.
A CBT também subirá de valor conforme o andamento do contrato. Para 2022, os times terão um total de 230 milhões de dólares para gastar com folha de pagamento sem se preocupar com multas. Em 2026, o valor chegará a 244 milhões de dólares. A novidade permite aos times mais flexibilidade financeira para negociar novos contratos, e tranquiliza jogadores que, nos valores antigos, talvez fossem desconsiderados pelo alto valor salarial.
No caso dos novos bônus de performance, o sindicato demandava mais valorização de atletas em começo de carreira. Tradicionalmente, um jogador passa por uma série de arbitragens salariais com a equipe que o controla, até chegar num ponto em que ou assina uma extensão contratual com valores mais consideráveis, ou ganha a possibilidade de testar o mercado como agentes livres. Os atletas entendem que a MLB precisava remunerar melhor cada jogador antes que ele tivesse a oportunidade de realmente buscar um bom contrato.
A partir de 2022 haverá um ‘pool’ de 50 milhões de dólares a ser distribuído entre os atletas da liga, que receberão adicionais ao salário durante o período de arbitragens. Um exemplo é para o caso de premiações individuais – se o jogador for vencedor do prêmio de Jogador Mais Valioso (MVP) ou de Melhor Arremessador (Cy Young), o aumento substancial é de 2,5 milhões de dólares no contrato. De maneira geral, todos os jogadores terão algum aumento partindo deste pool de 50 milhões de dólares, com base nas estatísticas de performance.
Expectativa por aquecimento no mercado de atletas
Com o novo acordo alcançado, o contato entre times e atletas é retomado – o que gera ansiedade por novas contratações. Ainda há uma grande quantidade de verdadeiras estrelas do esporte que não assinaram contratos com nenhuma equipe antes da greve, e devem movimentar as conversas entre sexta-feira (11) e domingo (13).
No topo da lista estão o primeira-base Freddie Freeman e o interbases Carlos Correa. Ambos foram pilares de respectivamente Atlanta Braves e Houston Astros, sendo considerados referências das franquias por onde jogavam. Correa chama a atenção por ser um dos melhores da posição e estar no que é considerado auge da carreira (próximo dos 27 anos), e não deve demorar para garantir um contrato de 9 dígitos – muitos milhões de dólares por quase (ou mais de) uma década.
O caso de Freeman é um ‘incômodo’ ainda maior, uma vez que o atleta é cria das categorias de base do Atlanta Braves. Escolhido em 2007 no draft de jogadores, Freddie passou toda a carreira em Atlanta e criou identificação com os torcedores. Ainda há espaço para uma renovação de contrato, mas é estranha a demora por uma oferta do Braves, atual campeão da MLB. O atleta, premiado como MVP da temporada 2020, deve conquistar um contrato longo e bastante rentável, e desperta interesse de franquias como Los Angeles Dodgers, New York Yankees e até Tampa Bay Rays – conhecidos por raramente gastarem dinheiro.