Jorge Humberto, um jogador-estudante com nacionalidade italiana
O Convite do Inter de Milão…
Jorge Humberto era um jogador-estudante da Associação Académica de Coimbra, antes de Helénio Herrera ter encontrado um talento excecional no seu jogo e foi-lhe proposto um contrato no famoso Inter de Milão.
O jogador da Académica estava no último ano do curso de medicina, e tinha vindo a resistir aos pedidos para se tornar profissional de futebol, mas a figura de Helénio Herrera e o Inter de Milão conseguiram seduzir o jovem jogador-estudante. Inicialmente foi-lhe proposto um contrato no valor de mil contos, mas foi recusado. Após o período de negociações e de incertezas que o atormentavam, Jorge Humberto acabou por firmar contrato com o Inter.
A naturalização de Jorge Humberto, ou então, de Giorgi Humberto..
Os problemas começaram quando a lei italiana só permitia a inscrição de dois estrangeiros e as duas vagas no Inter já estavam preenchidas pelo jogador inglês Hitchens e por Suarez, a grande estrela espanhola do Euro 64. A única hipótese que restava ao jovem Jorge Humberto era a naturalização. Foi aqui que começou a tragicomédia.
Foi escrito na imprensa desportiva espanhola, mais concretamente no diário madrileno a “Marca”, que Helénio Herrera se havia debruçado sobre a árvore genealógica de Jorge Humberto, e descobriu que o jogador era oriundo de emigrantes italianos, clandestinamente saídos de Itália, em data desconhecida, para se radicarem em Portugal.
Mas o Inter acabou por mudar de planos para a naturalização e o plano acabou por ser diferente. E no dia 25 de Agosto de 1961 Jorge Humberto tornou-se cidadão italiano, com o nome de Giorgi Raggi, filho natural de Vittorio Raggi, de 74 anos de idade. Raggi declarou, sob juramento, ter conhecido a mãe de Jorge Humberto em Cabo Verde. Como a mentira tem perna curta, o esquema do Inter de naturalizar Jorge Humberto acabou por ser descoberto. Todo o caso deixou Jorge Humberto bastante triste com esta fraude e chegou a afirmar: “Sinto-me raso como um tapete”. Numa brincadeira, os colegas da Académica chamavam-o de “Georgi Humberto” quando regressou a Portugal em 1964.
A experiência em Itália…
Estreou-se com três golos aos checos do Sparta Praga, o resultado foi de 7-1. Mas no Inter de Milão fez poucos jogos, uma vez que só podia jogar quando um dos dois estrangeiros estivesse indisponível. Fez mais jogos europeus que domésticos, uma vez que a lei das competições europeias permitia a utilização de três estrangeiros, e marcou 5 golos da Taça das Cidades Com Feira na temporada 1961-62. Na época seguinte é emprestado ao Lanerossi Vicenza, onde fica durante duas temporadas. Em Vicenza jogou mais vezes e ajudou a equipa a conseguir o sétimo e sexto lugar na Série A.
Em Itália continuou com os estudos de medicina onde fez várias cadeiras, primeiro na Universidade de Milão e nos dois anos seguintes na Universidade de Pádua.
Regresso a Portugal e a Académica…
Após a experiência em Itália onde jogou com Luis Suárez, Mario Corso, Sandro Mazzola, Giacinto Facchetti e Lorenzo Buffon (primo do avô de Gianluigi Buffon), “Giorgi” Humberto regressa à Briosa. Os estudantes vencem o FC Porto no estádio das Antas na sua “estreia”. Jorge Humberto fez mais duas épocas na Académica e colocou um ponto final na carreira de futebolista em 1966, no mesmo ano em que terminou o curso de medicina.