A fundação do Sindicato dos Jogadores, um legado de Jorge Sampaio

João FreitasSetembro 12, 20213min0

A fundação do Sindicato dos Jogadores, um legado de Jorge Sampaio

João FreitasSetembro 12, 20213min0
O falecido Presidente da República deixou uma marca em diferentes campos e o futebol não fugiu à regra. Fica a conhecer a história de Jorge Sampaio e o SJF

Em Fevereiro de 1972 – ainda sob a ditadura fascista – os jogadores de futebol portugueses decidiram se unir e resolver os problemas que assolavam a sua classe. Jogadores importantíssimos e com uma grande notoriedade pública, “chegaram-se à frente” por essa iniciativa: António Simões (SLB), Eusébio (SLB), Artur Jorge (FCP e SLB), Rolando (FCP) e Fernando Peres (SCP). Desta união de futebolistas portugueses saiu a fundação do Sindicato dos Jogadores. A escolha do seu advogado, não foi menos corajosa que a sua atitude. O nome dele era Jorge Sampaio, que mais tarde viria a ser Presidente da República Portuguesa, mas na altura era um jovem advogado, ligado ao movimento estudantil que se opôs à ditadura fascista, conhecido por defender em tribunais vários militantes antifascistas.

Jorge Sampaio, ao lado do advogado Jorge Santos, auxiliou os jogadores na redacção dos estatutos, acompanhando assim este movimento de proteção dos direitos dos jogadores. Recentemente, a antiga glória do Benfica e internacional português, António Simões, relatou que este movimento iniciou-se de forma espontânea com “a força dos homens da bola”. De acordo com uma das maiores referências do universo dos encarnados,

“depois, com Jorge Sampaio, alcançamos outro nível – é ele o responsável pelos estatutos. Lembro-me de ir, no início, ao Ministério das Corporações, às vezes acompanhado pelo Pedro Gomes, outras pelo Hilário, mais tarde com o Toni.”

De Jorge Sampaio, Simões guarda a imagem “De um homem sério e apaixonado pela causa. De um homem com uma cultura sensacional. Repare: ele é sportinguista mas ia a pé, às vezes à chuva, ver os jogos do grande Benfica da década de 60. Isto revela uma cultura desportiva acima da média”.

De entre os jogadores, Artur Jorge – muito por conta da sua formação académica, pois era formado em filologia Germânica em Coimbra e mais tarde, após abandonar o futebol, foi estudar para a conceituada Escola Superior de Educação Física de Leipzig (RDA), tirando os cursos (básico e pós graduação) de Futebol e Metodologia do Treino – foi escolhido como o primeiro presidente do Sindicato de Jogadores de Futebol, cargo que deteve durante os anos iniciais desta nova instituição portuguesa que visava “fim da “lei da opção” e respeito pelas garantias laborais dos jogadores”.

No momento em que vivemos, assistimos no futebol – e não só – a várias discriminações, que tomemos o exemplo destes jogadores, que colocaram de lado as suas rivalidades clubísticas para tratar de assuntos chaves da sua vida, que mesmo num período negro da nossa história recente, procuraram lutar pelos seus direitos. Jorge Sampaio, um homem dedicado à luta pela equidade, liberdade e respeito pelos direitos mais primordiais de cada função/ofício/situação humana, deixou, deste modo, uma marca pessoal na luta pela causa dos jogadores de futebol, ficando para sempre associado à formação do Sindicato dos Jogadores, nascido a 23 de Fevereiro de 1972, dois anos e dois meses antes de se dar início o ponto final da ditadura fascista portuguesa.

Uma figura e referência histórica que tem o seu nome para sempre associado ao sindicalismo português e à reivindicação de direitos, esse foi o papel de Jorge Sampaio até ao fim da sua vida.


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