Xavi, quédate

Matilde PinholMaio 29, 20235min0

Xavi, quédate

Matilde PinholMaio 29, 20235min0
Matilde Pinhol faz um simples pedido a Xavi Hernández: que fique em Barcelona e continue a fazer a mudança no emblema blaugrana

(Recomenda-se a leitura deste artigo ao som de Viva la Vida dos Coldplay)

28 de maio de 2023 em Espanha: dia de ir às urnas para as Elecciones Autonómicas y Municipales e de despedidas emotivas na cidade de Barcelona. O Camp Nou disse adeus a duas das suas maiores figuras das últimas décadas. Jordi Alba e Sergio Busquets, referências incontornáveis da La Masia, conquistaram tudo o que o futebol permite sonhar, despedindo-se agora do palco que os permitiu fazer arte.

Uma história de aparentes encantos foi, na verdade, bastante desoladora nas épocas antecedentes à de 2022/2023. O FC Barcelona do tiki taka, que em tempos deixou a Europa a seus pés, deu lugar a um clube eliminado nos oitavos e na fase de grupos da Champions, vergando-se perante adversários como o Bayern Munique ou o PSG. Ficou um campeonato por conquistar desde Ernesto Valverde em 2019 apesar de, pelo meio, ter conseguido duas Supertaças e duas Copas del Rey. No entanto, nunca era suficiente os adeptos culés exigiam mais. Luis Enrique (2014-2017), Valverde (2017-2020), Setién (2020) e Koeman (2020-2021) foram os últimos treinadores a passar pelo Barça e o tempo que permaneceram ao comando da equipa catalã pode evidenciar períodos de maior ou menor estabilidade.

Existiu durante a presidência de Bartomeu uma evidente falta de planeamento desportivo, marcado por mercados de transferências milionários e danosos para a saúde financeira do clube. Pelo meio, foi-se perdendo Neymar, Suárez, Messi, Iniesta e Rakitic. Em março de 2021, Joan Laporta foi eleito novamente presidente do Barcelona sob o mote de que faria os impossíveis para que o atual campeão do Mundo, Leo Messi, ali permanecesse. Alguns meses após o início da época 2021/2022, Ronald Koeman foi despedido do comando técnico para dar lugar a Xavi Hernandéz.

Com um pé quase na Liga Europa e fora dos lugares de acesso às competições europeias, Xavi mudou a filosofia e o modo de abordar o jogo, não descurando do ADN culé na utilização de táticas como o terceiro homem, revolucionando também a mentalidade do balneário. Mesmo eliminado da Liga Europa pelo Frankfurt (atual detentor do título), o impacto do treinador no campeonato espanhol fazia-se sentir. Terminando a temporada em 2.º lugar, inclusivamente derrotando o Real Madrid no Bernabéu por 4-0, renascia uma esperança numa nova era ao comando de um dos melhores jogadores da História.

Chegado o mercado de transferências e alegadamente condicionada pelos graves problemas financeiros, a equipa blaugrana reforçou-se com Bellerín, Marcos Alonso, Koundé, Raphinha, Kessié e Robert Lewandowski, a joia da coroa. A chegada do ponta-de-lança polaco veio acompanhada de uma imensa expectativa, servindo para colmatar, através da sua vasta experiência e a curto prazo, a falta de um jogador mais jovem que fosse eficaz e consistente naquela posição. Apesar de inicialmente despercebida, também a vinda de Christensen foi fulcral para que o Barça se consolidasse defensivamente, fazendo dupla com o uruguaio Ronald Araújo, um dos melhores centrais a jogar em Espanha e, quiçá, na Europa.

Havia uma clara diferença quando jogavam Eric Garcia ou Marcos Alonso nos seus lugares, este último mais competente que o primeiro e que acabou a época a experimentar jogar a 6. Esta poderá ser uma das falhas mais visíveis da nova era: a falta de um banco de suplentes suficientemente competente e capaz de acrescentar algo ao jogo quando os titulares se lesionam (situação preocupantemente recorrente) ou são castigados por acumulação de cartões. Outro exemplo significativo é o da ausência prolongada de Pedri. Passou a haver a carência de um jogador particularmente criativo no meio-campo a 4 de Xavi (Pedri, Gavi, Busquets e De Jong), alguém que rompesse linhas com a sua facilidade. Apesar das variadas ausências, o Barcelona foi capaz de segurar resultados contra adversários como o Atlético de Madrid ou o Real, sendo Ter Stegen, além de Christensen e Araújo, peça fundamental e principal figura em muitos desses momentos.

Finda da 2.ª época e o técnico catalão poderá orgulhar-se de haver conquistado um troféu de campeão da La Liga e outro de vencedor da Supertaça de Espanha, numa final disputada contra o Real Madrid. Mesmo que a vida não lhe tenha sorrido noutras competições, seja a Copa del Rey onde foi eliminado em casa pelos merengues, seja na Europa, novamente afastado na fase de grupos da Champions e, posteriormente, tendo o mesmo fim nos 16avos da Liga Europa em Old Trafford, há uma diferença gritante na equipa.

A dar continuidade a este projeto, destacando os jovens em ascensão, dando confiança àqueles que dela precisam (como é o caso dos espanhóis Ansu Fati e Ferran Torres) e reforçando a equipa de maneira planeada e verdadeiramente atenta às suas necessidades, acredito que possamos ver este clube novamente em busca de títulos ano após ano, reconquistando a glória europeia. Talvez o Barça de Laporta e Xavi seja a prova de que não devemos ter receio de voltar a onde já fomos felizes.


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