Union Berlin no palco dos gigantes europeus

Rute RibeiroDezembro 17, 20236min0

Union Berlin no palco dos gigantes europeus

Rute RibeiroDezembro 17, 20236min0
O Union Berlin terminou no dia 12 de dezembro a sua primeira passagem pela Champions League. Uma campanha breve, mas merecedora de análise

O Union Berlin, para os mais atentos ao futebol alemão, tem sido, nos anos mais recentes, autor de feitos considerados históricos para o clube. Urs Fischer (recentemente despedido após uma série de maus resultados) assumiu o comando técnico da equipa na época de 18/19, quando ainda estavam na segunda divisão e guiou-os ao 3º lugar, colocando-os dessa forma nos play-offs de acesso à Bundesliga. Esse acesso foi disputado a duas mãos contra o VfB Stuttgart e após dois empates garantiram a subida através da vantagem dos golos fora.

Estrearam-se no topo do futebol alemão – a Bundesliga – e sob o comando do mesmo treinador seguiram-se 4 épocas em que apresentaram cada vez melhores resultados: 19/20 asseguraram o 11º lugar, 20/21 garantiram o acesso à Conference League com o 7º lugar, 21/22 chegaram à Europa League ao atingir o 5º lugar e na última época conseguiram encerrar a campanha no top 4 e garantir dessa forma o primeiro acesso de sempre na sua história à competição dos gigantes – a Champions League.

O sorteio a 31 de agosto ditou os 3 adversários que teriam que enfrentar: Real Madrid, Napoli e Braga. Grupo difícil para um pequenino seguir em frente neste mundo de gigantes.
Mas se havia os que achavam que eles iam baixar os braços após ver este sorteio que não foi lá muito favorável, eles decidiram demonstrar que isso não ia acontecer, que estavam aqui para tentar até ao último minuto e que nem o dono da competição em títulos e golos marcados lhes iria impor medo.

O jogo de estreia pela Champions foi no temível Santiago Bernabéu e se Los Blancos acharam que seriam “favas contadas”, o Union fez questão de mostrar o contrário. O jogo manteve-se a zeros até bem perto do apito final, algo que, olhando para a diferença entre as equipas, surpreende, mas (e aqui entra um fator que eu falo regularmente) se não garantes que “matas” o Real Madrid, eles voltam e fazem-te isso a ti e o golo de Bellingham aos 90’+4 provou isso mais uma vez.

Seguiu-se o jogo contra o Braga, em que vimos um Union um pouco diferente daquele que apareceu na primeira jornada. Desta vez, a equipa teve os 3 pontos na mão com 2 golos de Becker nos primeiros 45’ e acabou por adormecer na segunda parte, permitindo ao Braga alcançar o empate (o golo de Bruma é irrepreensível, que remate, que potência, nenhum defeito) e posteriormente a vitória, ironicamente aos 90’+4 mais uma vez.

Com o Napoli a história não correu melhor, acabaram derrotados numa jogada desenhada por Kvaratskhelia que vai até à linha final, invade a área e encontra a linha de passe perfeita para Raspadori que apenas teve que garantir que a bola só parava num fundo da baliza do Union. Com esta derrota o Union atingiu as 9 derrotas consecutivas e, se achávamos que isso podia ser motivo para vermos adeptos revoltados, eis que eles provaram a todos o contrário, dirigindo-se aos jogadores no fim do jogo com palavras de conforto e pedindo que levantassem a cabeça e tivessem orgulho no caminho que estavam a percorrer.

3 jogos, 3 derrotas. O Union, por mais que se esforçasse, chegou a meio da fase de grupos sem conquistar qualquer ponto, mas isso estava perto de mudar.

O primeiro ponto chegou na quarta jornada, com o empate a uma bola em casa do Napoli. Um jogo que podia ter caído para qualquer um dos lados e que esteve recheado de oportunidades para os alemães que mesmo a fechar a primeira parte tiveram a possibilidade de igualar num livre direto, mas o poste negou-lhes o golo. Teria sido muito positivo se esse golo acontecesse porque iriam com um ânimo diferente para o intervalo. No entanto, isso não os demoveu do objetivo e voltaram do balneário com imensa vontade de lutar pelo resultado e a prova disso foi o golo que não tardou em aparecer.

Numa combinação que envolveu Roussillon, Becker e Fofana, a bola terminou lá dentro e foi talvez a forma que Fofana encontrou para se redimir do golo anulado na primeira volta contra os italianos. Becker e Fofana foram ao longo dos jogos mostrando que são uma dupla muito interessante, com movimentações rápidas e com uma excelente ligação em campo. A partir daqui o jogo animou, porque se o Napoli tinha acalmado após o golo que marcou tendo adotado mais a postura de manter o resultado, o empate obrigou a abrir novamente o jogo que passou a ser bastante disputado por ambas as partes. Uma montanha russa de emoções para os adeptos das duas equipas que sofreram até ao último minuto à procura do golo que poderia desfazer a igualdade.

Ficar na Champions era impossível, mas a esperança em permanecer nas competições europeias através da Europa League continuava bem firme e a deslocação a Portugal para a penúltima jornada da fase de grupos trazia o desejo de vitória na bagagem. Não foi isso que aconteceu e quem viu o jogo sabe que o Braga, apesar de ter estado a perder, podia até ter arrecadado os 3 pontos, porque mesmo a jogar com 10 desde o minuto 30 conseguiu impor ao Union um jogo em que por vezes parecia que eram os alemães a jogar com menos um. O empate acaba por encaixar naquilo que as equipas foram mostrando ao longo dos 90 minutos e com isso o Union adiou as decisões de quem ia à Europa League para a última jornada.

Nesta fase o pensamento era geral – na teoria o Union estava ainda na luta pela Europa League, mas na realidade todos sabiam que o mais certo era a campanha ter terminado em Braga. Um pensamento mais que válido, tendo em conta que o adversário da última jornada. O desfecho foi o esperado, mas que isso não nos faça esquecer os 90 minutos que vimos a acontecer no Olympiastadion.

O Union despediu-se em grande e ainda conseguiu sonhar por momentos com o terceiro lugar. Foram do inferno ao céu num minuto – penalti provocado pelo Leite, defesa do Rønnow (e aqui entra a conversa de que quando um guarda-redes defende dizem que o jogador falhou, mas para mim falhar é mandar para fora da baliza e tira até mérito ao guarda-redes atribuírem o não golo à falha do jogador e não à defesa que ele faz) e logo no minuto a seguir o golo de Volland que coloca os alemães na frente do marcador. O sonho europeu desvaneceu-se após o Joselu bisar, mas voltou (ainda que brevemente) quando Král empatou aos 85’. O Union só precisava de um golo, mas o mesmo acabou por vir do lado dos Merengues aos 89’. Terminou assim a primeira e curta passagem do Union Berlin pela Champions League.

Foi uma campanha repleta de euforia e esforço que infelizmente acabou numa mão cheia de nada. Resta agora o campeonato onde eles (desta vez) estão perto dos lugares de despromoção e com isso surgem algumas questões. Conseguirão eles salvar-se como quase pareceu acontecer na Champions? Ou tal como no jogo contra o Real, o sonho vai escapar, tendo desta vez como consequência o regresso à segunda divisão?


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