Um ano desde que Lionel Messi tocou o céu

Rute RibeiroDezembro 15, 20237min0

Um ano desde que Lionel Messi tocou o céu

Rute RibeiroDezembro 15, 20237min0
Rute Ribeiro estreia-se no Fair Play com um texto sobre a vitória da Argentina e Lionel Messi de há um ano no Mundial 2022

Crescemos com o ensinamento de que devemos sempre, em qualquer competição torcer pelo nosso país. Dizem que isso faz de nós patriotas, que é a altura em que todo um país se une a uma só voz e se esquecem as diferenças clubísticas. Sempre fiz isso. No EURO 2016 acreditei até ao fim, festejei cada golo e vibrei com a conquista que o golo do Éder nos proporcionou.

Mas o Mundial de 2022 foi diferente. Não estou com isto a dizer que torci pelo insucesso da nossa seleção, longe disso! Temos um plantel muito bom, com vários jogadores que admiro e que acho que merecem atingir os níveis mais altos que o futebol lhes permitir. No entanto, há alturas em que o nosso coração fala mais alto nesta modalidade que tanto nos apaixona. Porque há um jogador que admiramos mais, porque achamos que é alguém que já merecia há muito conquistar aquele troféu, etc… podem ser vários os motivos.

Para os fãs de Lionel Messi, a dor do Mundial que lhe escapou em 2014 ainda estava bem presente. Há quem diga (à luz dos acontecimentos mais recentes) que o melhor que podia ter acontecido a Messi (e a quem tanto desfrutou do seu futebol) foi essa derrota no Brasil. Porque isso criou nele a vontade de continuar a correr atrás de um sonho, a sede de conquistar mais e fazer melhor. Há os que defendem que se ele conquistasse esse Mundial, teríamos perdido os anos incríveis que ele nos deu a seguir. Nunca saberemos se teria sido assim, mas a verdade para quem o acompanhou ao longo da carreira era só uma – o mundo, o futebol, estavam em dívida para com ele. Ele não podia encerrar a carreira sem atingir a glória pelo seu país, sem levantar o troféu mais cobiçado e terminar assim com uma espera que parecia interminável para o povo argentino e para ele mesmo.

O Mundial arrancou mal, Lionel Messi abriu cedo o marcador, mas a Argentina acabou derrotada pela a Arábia Saudita. Um feito dos sauditas que teve direito a grandes celebrações e compensações aos jogadores. Não vou mentir, temi. Pensei ali que se “La Scaloneta” não conseguia vencer à Arábia Saudita como é que iria vencer contra outros adversários teoricamente mais difíceis?

Veio o segundo jogo, este contra o México, e só havia um resultado permitido – a vitória. Mas ela tardava em chegar. Foram precisos 64 minutos para Lionel Messi marcar e colocar a equipa em vantagem. Uma pequena luz ao fundo do túnel, o início de um sonho que tinha que se realizar. Era o último Mundial em que ele podia tentar alcançar o que lhe escapava há muito. Ganharam! O ponto de viragem para “La Scaloneta”. Entravam todos em campo com a mesma vontade – dar a vida se fosse preciso, mas era o ano em que iam conquistar “La Tercera”.  Dibu Martínez voltou a fazer o que sabia melhor (e que já tinha demonstrado na conquista da Copa América), defender tudo como se a vida dele dependesse daquilo. Mac Allister, Enzo, Julián Álvarez, o sangue novo que Lionel Scaloni pôs em campo e que trouxe frescura e vigor à construção de jogo. Aquela equipa estava pronta para tudo.


Passaram a fase de grupos em primeiro lugar e o percurso até à final começou a desenhar-se – Austrália, Países Baixos e Croácia. O mais sofrido, foi sem dúvida contra os Países Baixos, o ambiente extra campo e pré-jogo levou a que fosse um jogo quentinho e se a isso juntarmos ainda a presença de Lahoz na arbitragem, tínhamos a receita perfeita para o caos e os nervos sempre em níveis absurdos e nada saudáveis. Expulsões, porrada, troca de palavras, tempo extra e decisão nas penalidades, tivemos de tudo e no final a Argentina foi mais feliz e seguiu em frente.

A Croácia que eliminou de forma incrível o Brasil era então a única equipa que podia impedir a Argentina de chegar à final, mas felizmente proporcionou um dos jogos mais tranquilos em termos de resultado.

Restavam agora 90 minutos (ou bem mais como percebemos a 18 de dezembro) para a Argentina conseguir o desfecho que lhe fugia há 36 anos.

Que jogo! Naquele dia vivi todas as emoções num curto espaço de tempo e acredito que dificilmente voltarei a viver um jogo assim. A Argentina tinha pela frente aqueles que eram os detentores do troféu após vencerem a edição anterior. Equipa cheia de talento, com um selecionador competente e com Mbappé a ter já afirmado que para ele os maiores candidatos ao título eram as seleções europeias. Não censuro a afirmação dele, tem muitos pontos que dão razão ao que disse, mas a Argentina tinha algo diferente. O que podia faltar em campo em alguns jogadores menos competentes, era compensado a um nível absurdo pela vontade e raça demonstrada. Eles tinham uma missão, eles tinham um foco muito bem definido e eu acredito que isso teve muita influência no desempenho deles.

O jogo começou. 2-0 para a Argentina, foram para o intervalo a ganhar. Era impossível não acreditar que estava tudo à distância de 45 minutos. Mas a reviravolta aconteceu. Mbappé aconteceu. Em 2 minutos a Argentina foi do céu ao inferno e os medos de uma repetição de 2014 voltaram a surgir. Messi arriscava-se a ver o troféu fugir definitivamente, o povo argentino arriscava-se a prolongar a espera por mais 4 anos. Veio o tempo extra – a meia hora em que mais sofri. O Messi marcou, eu fiquei quase sem voz e voltava a acreditar. Era só segurar o 3-2, não faltava assim tanto tempo. Mas um erro individual levou a novo penalti para os franceses e Mbappé sem misericórdia nenhuma, fez o golo do empate.

A decisão por grandes penalidades começava a ser o mais certo, até que o coração de muitos parou. Otamendi não apanhou a bola e deixou Kolo Muani com todo o espaço para fazer o que quisesse. Pareceu uma eternidade aquele frente a frente com o Dibu. Não aguentei, confesso. Não estava preparada para os ver derrotados e mudei rapidamente de canal com um sentimento de tristeza a invadir-me. Voltei meio minuto depois e a surpresa foi enorme. Ainda havia esperança. Veio o apito e com ele as grandes penalidades. Messi e Mbappé cumpriram a missão, Dybala seguiu o conselho do Dibu e atirou para o meio, Dibu fez as suas defesas e tudo se resumiu ao momento em que Montiel pegou na bola e marcou, encerrando assim o Mundial, terminando assim com uma espera de 34 anos longos anos e cumprindo assim o sonho de muitos – naquele dia, Lionel Messi ganhou o Mundial, conquistou o que tanto sonhava e tocou o céu. Maradona ficaria orgulhoso. 


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