O torneio “Rio-São Paulo”
Os últimos artigos sobre a história do futebol do Brasil trataram-se da selecção “Canarinha”, algumas curiosidades, particularidades e desempenho. A seguir uma linha do tempo, o mais recente texto abordou a equipa nacional e a conquista do Mundial da Suécia em 1958. Entretanto, simultaneamente o futebol do clubes no país Sul-Americano já era bastante intenso.
O Estádio do Pacaembu, em São Paulo, nos anos 1950 (prefeitura.sp.gov.br)
As principais equipas eram as do eixo Rio de Janeiro-São Paulo (cidades distantes aproximadamente 450 quilómetros). Os protagonistas: no Rio de Janeiro, o Botafogo de Futebol e Regatas, de Mané Garrincha, Zagallo, Amarildo e Nilton Santos. Em São Paulo, o Santos Futebol Clube, de Coutinho, Pelé, Pepe e Zito. As duas agremiações formavam a base da selecção brasileira. A histórica rivalidade entre estes dois estados, nos campos económico, cultural, social e político fazia reflexo no desporto e, claro, no futebol. Como mencionado em texto anterior, nos anos 1930 surgiu o torneio “Rio-São Paulo” entre clubes dos dois lugares. No entanto, só em 1954 ele passou a ser disputado anualmente e seria o embrião do actual “Brasileirão”.
Mengálvio, Coutinho e Pelé, grande trio do Santos Futebol Clube
Os estádios do Maracanã no Rio de Janeiro e o do Pacaembu, em São Paulo, eram as principais praças desportivas. Em paralelo aos campeonatos locais, o “Rio-São Paulo” proporcionou grandes espectáculos e permitiu para que os adeptos conhecessem o desporto-rei para além dos limites estaduais. Nessa linha de pensamento, no fim dos anos 1950 surgiu a “Copa Brasil”, cujo primeiro campeão foi o Esporte Clube Bahia, de Salvador. Simultaneamente, o desenvolvimento das comunicações contribuiu para a difusão do torneio. O rádio era o principal veículo, entretanto as emissões de televisão começaram no Brasil em 1950 e o primeiro jogo televisionado foi em 1953. O bom momento em que o vivia o país, de democracia, crescimento económico e desenvolvimento social contribuíram para esta conjuntura. E, em 1958 foi colocada a “Cereja do Bolo” com o Mundial conquistado na Suécia.
O Botafogo de Futebol e Regatas do fim dos anos 1950 e início da década de 1960
Além de Botafogo e Santos, outras grandes equipas que foram bem sucedidas no “Rio-São Paulo” foram a Portuguesa de Desportos (cidade de São Paulo) de Djalma Santos e Julinho Botelho; o Vasco da Gama, de Bellini, capitão da selecção Canarinha campeã do mundo em 1958 e o Flamengo do jovem Gérson, que seria campeão mundial com o Brasil em 1970.
A paulistana Portuguesa de Desportos, bicampeã do “Rio-São Paulo” nos anos 1950 (blog do Flávio Gomes)
Diante disso, este torneio interestadual foi bastante importante para a cultura futebolística brasileira. Nos anos seguintes, com o desenvolvimento das comunicações e o incremento da política de integração nacional, já não fazia mais sentido organizá-lo. Tentaram o seu retorno, sem sucesso, entre a última década do século XX e a primeira do XXI. Entretanto o futebol de competição no Brasil não se resumia a estas duas praças apenas. O “Rio-São Paulo” teve o seu tempo e foi muito bom enquanto durou.