SD Eibar: entre tornar-se em um dos demais, sem deixar de ser candidato

Ricardo LopesAgosto 29, 20246min0

SD Eibar: entre tornar-se em um dos demais, sem deixar de ser candidato

Ricardo LopesAgosto 29, 20246min0
Surpresa na LaLiga 2? O SD Eibar quer algo mais e o projecto promete arrancar alguns choques nesta temporada que arrancou

O SD Eibar arrancou a temporada 2024/25 novamente na La Liga Hypermotion. É o terceiro ano consecutivo do clebe basco na divisão de prata do futebol espanhol, depois de ter caído por três vezes consecutivas no play-off de subida. Em 2021/22 foi eliminado pelo Girona. Em 2022/23 sucumbiu aos pés de Deportivo Alavés. Já em junho de 2024, perdeu com o Real Oviedo, que nem conseguiu a promoção. Nas três ocasiões, a turma do Ipurua era vista como uma das favoritas à subida direta, podendo-se pensar que um apuramento para o play-off era algo que ficava aquém do esperado.

Este pensamento é normal. Apesar de vir de uma cidade pequena e de não se tratar de um histórico com relativo peso, o Eibar esteve sete temporadas na La Liga, antes de descer de divisão, sendo uma equipa ‘simpática’, com a sua humildade. O objetivo passava sempre pelo mesmo: atingir a manutenção. Contudo em 2020/21 o mesmo não foi cumprido. Nem em 2014/15, época em que foi ‘salvo’ pelo Elche, que acabou despromovido por incumprimentos financeiros. Podemos dizer que os armeros aproveitaram muito bem a segunda oportunidade que lhes foi dada, mantendo-se na elite por mais algum tempo.

O emblema passou de uma equipa que lutava por objetivos curtos, para um dos tubarões da La Liga Hypermotion, eterno candidato à subida, algo que ainda não ocorreu. O seu status permitia que lhe fosse feita essa avaliação. Ninguém se sentia (sente) confortável em jogar contra o Eibar. No entanto, 2024/25 apresenta-nos uma situação relativamente distinta. Se outrora, o conjunto orientado por Joseba Etxeberria estaria entre os 2/3 principais favoritos à manutenção, hoje em dia é colocado uns furos abaixo, mesmo com o ótimo começo de temporada. Para se explicar esta pequena queda, temos que voltar a 2021, jornada 37, onde foi selada a despromoção do Eibar. A La Liga, chefiada por Javier Tebas, decidiu dar 20 milhões de euros à equipa (tal como ao Deportivo Alavés), devidos às perdas que o clube sofreu durante o período em que o COVID 19 assolou o mundo do futebol (e não só). O conjunto decidiu dividir estes 20 milhões de euros em três temporadas, de modo a atenuar a quebra financeira e de possibilitar o investimento para uma subida imediata. Fazendo as contas, percebemos que o ‘dinheiro acabou’ precisamente neste verão, numa época em que a instituição apresentou perdas de cinco milhões de euros.

 

Assim sendo, teve que dar-se um passo atrás e isso foi entendido por Amaia Gorostiza, atual presidente. Foram vários os jogadores que saíram do Ipurua, alguns para a La Liga, como Stoichkov (Deportivo Alavés) Juan Berrocal (Getafe) e Álvaro Tejero (Espanyol). Porém, outros serão rivais na La Liga Hypermotion. Luca Zidane foi para o Granada, Ager Aketxe juntou-se ao Zaragoza, Yoel assinou com o Ferrol, entre outros. É inegável que a qualidade do plantel baixou, embora César Palacios tenha feito um trabalho agradável e promissor, pese as dificuldades que foram apresentadas ao diretor desportivo. Preocupou-se em trazer elementos com certa margem de progressão, como Jorge Pascual, Slavy, Jon Guruzeta, Álvaro Carrillo ou Jon Magunagoitia, além de outros com experiência de La Liga, mas que precisavam de dar um passo atrás, como nos casos de Xeber Alkain, Toni Villa, Antonio Puertas ou Martín Merquelanz (craque, mas assolado por lesões), que procuram relançar as carreiras.

Dá igualmente para entender que a turma ficou mais ‘basca’, bastando ler certos apelidos e essa identidade regional é muito importante, principalmente no País Basco, como se nota nos casos de Athletic Club, Real Sociedad ou Amorebieta. Além disto, o plantel que está a ser trabalhado por Joseba Etxeberria passou a ter vários componentes da cantera, movimentação inteligente que geralmente é aplicada quando não existe um bom momento financeiro. Oscar Carrasco, Ander Madariaga ou Hodei Arrillaga (em pouco tempo estará na La Liga) serão presença constante no onze inicial ou no banco de suplentes. Esta ‘quebra’ verifica-se no valor de mercado de todo o plantel. Em 2023/24 era de 31,68 milhões de euros, passando a ser 19,85 milhões de euros, na presente época.

A equipa não é nada má e tem um molde completamente diferente da anterior. Houve claramente um trabalho bem mais detalhado na montagem do mesmo, decidindo não se cometer nenhuma loucura. Joseba Etxeberria compreendeu o que aconteceu este verão e mostra-se ambicioso com o conjunto da Euskadi:

«Somos muito ambiciosos, mas temos de ver o desempenho deste plantel e também o nível real dos nossos adversários. Vamos dar tudo por tudo desde o início, porque penso que temos argumentos para ser uma boa equipa nesta categoria e sabemos que, se formos bons, podemos vencer qualquer equipa. Também com o potencial deste plantel. Gosto do que vi na pré-época», afirmou o técnico antes da primeira jornada.

Pese todos os elogios feitos e bom arranque da La Liga Hypermotion, que transmitiu vibrações muito positivas, há planteis mais fortes. O Almería está dois passos (ou três) à frente. Cádiz, Levante e Granada são igualmente candidatos à promoção direta. No ano passado, o Eibar inseria-se neste grupo. Hoje está no escalão abaixo, com Racing Santander, Real Oviedo ou Sporting Gijón, legítimos candidatos ao play-off e com a possibilidade de realizar uma ‘gracinha’.

No Ipurua soube-se dar o passo atrás, sem perder a ambição de alegrar os adeptos, que compreendem qual a situação do clube que tanto apoiam. Já assistimos a casos de alguns emblemas que decidiram voltar a arriscar, sem a existência de um colchão financeiro e com a possibilidade de ‘caírem mal’. Históricos como Málaga ou Deportivo de La Coruña, que até estão de regresso à La Liga Hypermotion, são dois bons exemplos disto. O Eibar quis evitar um cenário semelhante ao que ocorreu aos dois anteriores, que contam com uma massa adepta muito superior em número, o que acaba por dar uma grande ajuda nas contas.

O realismo e a consciência prevaleceram em relação à ‘gula’. A margem de crescimento deste projeto é enorme, mesmo dando o passo atrás, provocado pela crise financeira, sendo que vários jogadores podem ser vendidos, mais cedo do que tarde, a equipas da La Liga ou de outros campeonatos, já que têm capacidade para tal. O Eibar pode tentar apontar aos lugares perto do topo da classificação e até se pode apontar-lhe tal responsabilidade. Porém, terá que se bater palmas à gestão feita, que partiu do vermelho e procura estar no verde o mais depressa possível.


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