Ruben Amorim, o Manchester United e o Benfica

Ricardo João LopesSetembro 21, 20256min0

Ruben Amorim, o Manchester United e o Benfica

Ricardo João LopesSetembro 21, 20256min0
Ruben Amorim, SL Benfica, João Noronha Lopes, Manchester United... o que têm umas coisas a ver com as outras? Ricardo João Lopes explica

Ruben Amorim transformou-se num dos nomes em que se centrou a campanha eleitoral para as presidenciais do Benfica. O antigo treinador do Sporting, sócio e adepto efervescente (pelo menos até chegar a Alvalade) do conjunto da Luz, foi apontado ao comando técnico dos encarnados, caso João Noronha Lopes vencesse as eleições. Tal insinuação já foi desmentida, mas o desejo era claramente real, dada a boa relação entre o treinador e o gestor.

Contudo, Ruben Amorim tem um trabalho e um contrato, algo que estava a ser visto como algo secundário pelos adeptos do Benfica. O antigo médio lidera o Manchester United, embora some resultados desastrosos. O técnico é cada vez mais contestado e não é novidade que o seu 3x4x3 ou (3x4x2x1) não funciona no Old Trafford. A sua inflexibilidade tem sido a sua maior inimiga, num campeonato tão rico taticamente, com os adversários a apresentarem várias nuances ao longo da época.

Ao contrário do que acontece em Lisboa, por Manchester o nome de Ruben Amorim não tem popularidade e os resultados até à próxima paragem de seleções serão fundamentais para ditar o seu destino. O técnico não está a apresentar argumentos para convencer os responsáveis de que vai dar a volta a situação e possivelmente já está resignado de que a porta dos fundos será a sua próxima paragem

João Noronha Lopes (e os adeptos do Benfica) agarraram-se a esta possibilidade. Ruben Amorim é um nome popular na Segunda Circular e os adeptos dos encarnados gostam desta espécie de contratações e o candidato presidencial sabe disso. Ángel Di María foi uma jogada acertada por Rui Costa, no que ao seu ranking de popularidade diz respeito. Bernardo Silva é desejado para causar o mesmo efeito. Os aficionados conseguem ver uma pinga de heroicidade nos dirigentes quando estes consegue fazer regressar estas peças. Não é de todo garantido que o internacional português regresse à Luz, mesmo que entre em final de contrato com o Manchester City a partir de janeiro. João Noronha Lopes até lhe pode propor um contrato, o que não significa que o mesmo seja aceite. Se Ángel Di María chegou ao Benfica perto do final da sua carreira, Bernardo Silva ainda não está nessa fase e pode desejar passar por Barcelona ou Paris antes de voltar a casa.

Certo é que uma jogada semelhante poderia ser feita por Ruben Amorim, até mesmo antes do dia 25 de outubro, caso o Manchester United perdesse a paciência. Neste caso, não podemos só referir João Noronha Lopes. Afinal, descontando Cristóvão Carvalho, quem é que não quereria um treinador como Ruben Amorim como promessa eleitoral? Certamente se estivesse livre no mercado, Rui Costa o abordaria.

Contudo, o Qarabag estragou os planos de todos (menos de Cristóvão Carvalho). Bruno Lage não conseguiu guiar o Benfica a uma vitória frente aos azeris, numa das noites mais negativas da história europeia dos encarnados. Rui Costa não teve outra solução sem ser demitir o setubalense. A sua opção foi simples: trazer um nome reputado que sirva igualmente de trunfo eleitoral para poder chegar a uma segunda volta. José Mourinho, conterrâneo de Bruno Lage, e grande admirador do plantel do Benfica de 2025/26, foi o escolhido. Mesmo que não se encontre no auge, trata-se de um nome conceituado, um ícone do futebol nacional, forte no discurso e com um histórico de resultados no futebol nacional e internacional. Para muitos, o seu nível não foi beliscado pelos maus projetos anteriores.

Rui Costa escolheu o melhor nome disponível para causar impacto nos adeptos e nos seus adversários. Nenhum dos candidatos à presidência do Benfica (exceto Cristóvão Carvalho) terá a coragem de demitir José Mourinho após o dia 25 de outubro. Terá que ser obrigatoriamente o técnico para todos os projetos. Não estamos em 2000. Manuel Vilarinho não contou com problemas em demitir o técnico depois de bater Vale e Azevedo, trazendo de volta ao banco Toni. Os tempos são outros e o histórico pesa. José Mourinho já não é o aprendiz de Bobby Robson.

Porém, voltemos a Ruben Amorim, para muitos o sucessor de José Mourinho como melhor treinador português da sua geração. As suas hipóteses de regressarem ao Benfica transformaram-se em zero, para alívio de muitos sportinguistas. Ainda assim, o que é que garante que o antigo médio quer regressar a Portugal. Os benfiquistas sonharam (e continuam a sonhar, mas agora a longo prazo) de que Ruben Amorim poderia voltar a vestir de vermelho e branco, mas quem é que lhes disse que o técnico não quer dar outro passo na carreira?

Ruben Amorim entrou numa Big 5 e possivelmente não está disposto a dar o passo atrás. Mesmo que seja despedido hoje ou amanhã do Manchester United, vai continuar a ter espaço nos campeonatos de topo, mesmo que em clubes com um potencial inferior. Não há dúvidas que Marco Silva já recebeu abordagens para um regresso à Primeira Liga, mas a Premier League é outra loiça e dá uma visibilidade que nenhum outro campeonato consegue dar. Além de que há muito mais condições e menos polémicas.

Com isto, não se quer dar como afirmação que Ruben Amorim nunca vai treinar o Benfica. É natural que isso venha acontecer. Não se pode fechar a porta a um regresso ao Sporting. Porém, é muito mais real imaginarmos esse cenário numa fase descendente da sua carreira. Praticamente nenhum treinador que atingiu o apogeu lá fora esteve disposto a regressar: André Villas-Boas, Marco Silva, Vítor Pereira, Nuno Espírito Santo, Paulo Fonseca, Abel Ferreira entre outros.

Jorge Jesus foi o único que voltou, mesmo quando era considerado Deus no Flamengo. Ainda assim, o mesmo só o fez porque já tinha ganho tudo o que podia pelo conjunto do Rio de Janeiro. O mais provável é Ruben Amorim até ser despedido, mas esperar por uma nova oportunidade em Inglaterra. É jovem e o seu trabalho pelo Sporting causou marca ao nível internacional.

Os benfiquistas terão que se habituar a José Mourinho (o que é algo que muitos desejam), que terá o seu lugar seguro por vários meses, algo que o seu estatuto permite, por muito que o futebol não seja o mais apreciável. O sonho de Ruben Amorim terá que ficar para mais tarde. Até porque, quem sabe, podemos assistir a um milagre em Old Trafford


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