Portugueses à procura de sucesso no Brasil(eirão)

Miguel SilvaJaneiro 21, 20236min0

Portugueses à procura de sucesso no Brasil(eirão)

Miguel SilvaJaneiro 21, 20236min0
São sete os treinadores portugueses que arrancam nas provas de futebol do Brasil nesta temporada e Miguel Silva explora este fenómeno

Ao que tudo indica, serão sete os treinadores portugueses que irão arrancar neste Brasileirão 2023: Vítor Pereira (do Corinthians para o Flamengo), Abel Ferreira (Palmeiras), Luís Castro (Botafogo) e António Oliveira (do Cuiabá para o Curitiba) já faziam parte do leque de treinadores da época anterior do Brasileirão que terminou com mais uma conquista de um português pelo mundo fora, com o ex-treinador do SC Braga a dar ao “verdão” o seu 11º campeonato brasileiro. A estes quatro nomes juntam-se esta época no Brasil: Renato Paiva (Bahia), Pedro Caixinha (RB Bragantino) e Ivo Vieira (Cuiabá, substituindo António Oliveira). Mas porque será o treinador português tão requisitado?

O treinador português é talentoso, isso é um facto. Nos dias que correm, é possível olharmos para qualquer continente do mundo e encontrarmos treinadores portugueses, seja em campeonatos ou em seleções. Esta “diáspora portuguesa” de treinadores por esse mundo fora teve um dos seus pontos mais altos com José Mourinho, visto ter sido a partir deste que muitos portugueses começaram a dar o salto para outros países e outros campeonatos.

Manuel José triunfou internacionalmente em África, LeonardoJardim fez o mesmo na Ásia, Abel Ferreira bisou na América do Sul, Jorge Jesus deixou um legado impressionante no Brasil, Jesualdo Ferreira deixou uma marca profunda no Egipto, e Mourinho é o primeiro treinador da história do futebol a vencer as três maiores competições internacionais a nível europeu. Onde há portugueses há vitórias, e isso parece ser inegável.

Mais do que um treinador com grandes ideias e modelos de jogo muito bem vincados, o treinador com cores portuguesas é apreciado lá fora pela sua capacidade de estratega, pela forma como consegue anular adversários e tirar ao mesmo tempo melhor partido das valências dos seus jogadores. A capacidade de adaptação é outra das qualidades centrais e que fazem a diferença

Como dizia o saudoso mestre Vítor Oliveira, numa conversa para o podcast Planeta do Futebol, o “futebol não é diferente do xadrez na medida em que é sobretudo um jogo de estratégia”, isto é, trata-se de anular o adversário e colocar as peças num sítio onde possam ferir o outro, no futebol é igual, e o treinador português é muito talhado para esse aspeto, mais até do que para o aspeto técnico e do modelo de jogo.

Quando se fala em adaptabilidade fala-se em perceber e interpretar o contexto, ou seja, podem existir grandes ideias e grandes modelos de jogo, contudo se não existirem jogadores com capacidade para as interpretar, essas ideias e modelos de nada valem.

Não se pode pedir a um ponta-de-lança baixo e móvel que vá disputar bolas no ar, não se pode pedir a extremos rápidos e fortes no ataque à profundidade que venham procurar jogo interior, não se pode pedir a centrais sem capacidade e à vontade na primeira fase de construção que recebam a bola dentro da pequena área. O treinador português possui essa capacidade de adaptação e é por isso que é tão requisitado lá fora.

O Brasil tem sido a casa de muitos treinadores portugueses nestas últimas épocas, onde Jorge Jesus foi o primeiro a atingir um patamar impressionante, com Abel a cimentar o seu Palmeiras como uma das melhores equipas do futebol sul-americano e tendo isso em conta, os restantes clubes e dirigentes brasileiros seguem estes dois exemplos e matrizes para alcançar o sucesso.

Quando clubes brasileiros contratam treinadores portugueses é a pensar claramente naquilo que foi feito por Jesus e por Abel, é por acreditarem ter a possibilidade de serem tão vitoriosos como eles. Contudo, os treinadores não são todos iguais e nem todos vão ser são idolatrados como os dois anteriores, daí Sá Pinto que já orientou o Vasco da Gama ter sido despedido, Jesualdo Ferreira no Santos seguiu o mesmo caminho, enfim, a expectativa dos portugueses em terras brasileiras é muito elevada.

Todavia, nem tudo são rosas para os portugueses: Jorge Jesus foi alvo de criticas por parte de jornalistas e treinadores brasileiros que afirmam que o técnico só teve o sucesso que teve porque o “elenco” do Flamengo mais se parecia com uma seleção dada a qualidade do plantel, e nem Abel Ferreira consegue ser um nome consensual entre os brasileiros mesmo depois de ter conquistado uma Copa do Brasil, duas Libertadores, um Brasileirão, uma Recopa Sul-Americana e um Campeonato Paulista.

Apesar dos bons resultados, os treinadores lusos não têm sido muito bem aceites no Brasil, embora saibamos que o treinador português tem qualidade, é sempre complicado para os locais receber alguém de fora e perceber que quem vem de fora tem mais oportunidades do que quem já lá está.

À entrada para este Brasileirão 2023, o número de treinadores estrangeiros é igual ao número de treinadores brasileiros, com isto dizemos que das 20 equipas que vão competir ao mais alto nível no Brasil dez delas serão orientadas por treinadores estrangeiros: sete portugueses, dois argentinos e um uruguaio. As criticas têm sido muitas, desde treinadores, jornalistas ou adeptos, e é algo que se compreende visto que ao virem treinadores de fora, obviamente que os de dentro vão ficando pelo caminho. Um treinador estrangeiro pode trazer consigo inovação, realidades diferentes, outras formas de estar e outras formas de trabalhar, e embora isso possa ser benéfico para a evolução do futebol no país é sempre muito difícil de aceitar, ainda para mais no tão denominado “País do Futebol”.

Basta lembrarmo-nos das críticas feitas à FPF aquando da contratação do espanhol Roberto Martinez para selecionador nacional. Não está em causa a competência do treinador, o que é alvo de criticas é o facto de existirem inúmeros treinadores portugueses com a mesma ou mais qualidade, mas mesmo assim a decisão pesou sobre o espanhol. Posto isso, é compreensível o ponto de vista dos brasileiros, não é tirar mérito a quem vem, mas sim valorizar mais quem já cá está.

Os treinadores brasileiros não são assim tão inferiores aos portugueses, são apenas diferentes, e neste momento os clubes brasileiros querem algo diferente. Todos os treinadores precisam de tempo, e sabemos que o tempo não abunda no mundo do futebol pois o resultado tem que ser imediato, e o Brasil é um carrossel de treinadores no que a tempo diz respeito, mas a verdade é que à entrada para o Brasileirão Açaí 2023 serão 10 os treinadores estrangeiros, e sete deles serão portugueses.


Entre na discussão


Quem somos

É com Fair Play que pretendemos trazer uma diversificada panóplia de assuntos e temas. A análise ao detalhe que definiu o jogo; a perspectiva histórica que faz sentido enquadrar; a equipa que tacticamente tem subjugado os seus concorrentes; a individualidade que teima em não deixar de brilhar – é tudo disso que é feito o Fair Play. Que o leitor poderá e deverá não só ler e acompanhar, mas dele participar, através do comentário, fomentando, assim, ainda mais o debate e a partilha.


CONTACTE-NOS