Poderíamos esperar mais deste FC Porto?

Ricardo LopesNovembro 24, 20246min0

Poderíamos esperar mais deste FC Porto?

Ricardo LopesNovembro 24, 20246min0
Derrota pesada na Luz, eliminação na Taça de Portugal, Europa já longe... mas será que este FC Porto era candidato a algum título?

O FC Porto vive um momento de mudança, que começou no final da temporada 2023/24. André Villas-Boas derrotou Pinto da Costa nas eleições presidenciais de abril de 2024, comprovando a saturação da direção anterior, com os aficionados em busca de um projeto distinto, centrado igualmente em vitórias, mas consciente financeiramente.

André Villas-Boas e a sua direção encontraram uma instituição frágil, alegadamente com oito mil euros na conta, algo que não foi provado, nem confirmado. Ainda que os dragões tenham vendido mal nos últimos anos, dando-se ao luxo de fazer contratações sem grande sentido, não se esperava um cenário tão dantesco. O antigo treinador teve inclusivamente que emprestar dinheiro ao próprio FC Porto, sem qualquer juro incluído.

Vamos ao futebol. Sérgio Conceição saiu do banco, numa relação algo desgastada, acabando por ficar o seu adjunto com o seu posto. O antigo extremo alegadamente ficou magoado com Vítor Bruno por este ter uma grande oportunidade por subir na carreira e não lhe ter dito nada. O filho de Vítor Manuel tem um discurso completamente distinto do seu antecessor, falando muito mais do que se passa dentro das quatro linhas, abusando de certos chavões, sendo por vezes complexo seguir sua alinha de raciocínio, dado o seu palavreado, que em certos momentos nos recorda Manuel Machado.

Apesar de ter assumido um dos emblemas mais imponentes da Europa, Vítor Bruno teria a consciência que as finanças estavam no vermelho e que o mercado de verão teria que ter um saldo positivo. A equipa do FC Porto no final e 2023/24 não era melhor que a de Benfica e Sporting. Hoje em dia está mais longe de o ser.

O emblema do Dragão teve em Evanilson a sua grande venda (37 milhões de euros), com Francisco Conceição a ser emprestado em condições de luxo (sete milhões de taxa não é para qualquer jogador). David Carmo rendeu 11 milhões de euros, dando prejuízo em relação à sua compra. No total, a receita foi de 58 milhões de euros, dos quais 39 milhões foram investidos, com conta, peso e medida. Deniz Gul é visto como aposta a longo prazo, comprado por mais de quatro milhões de euros. Francisco Moura foi visto como o nome ideal para ocupar o lugar de lateral esquerdo, daí o investimento de cinco milhões de euros. Nehuén Pérez veio para suceder a Pepe, com o seu empréstimo a custar quatro milhões de euros. Samu Aghehowa chegou para ser a referência, num investimento pesadíssimo de 15 milhões de euros por metade do passe. Por fim, Fábio Vieira e Tiago Djaló voltaram a Portugal para relançarem as suas carreiras.

Neste leque de opções oferecidas à equipa técnica de Vítor Bruno, apenas Fábio Vieira ainda não encontrou a sua forma habitual, depois de dois anos com poucos minutos no Arsenal. Todos os outros estão a acrescentar. O problema é que o plantel não é tão bom como o dos rivais, que são os verdadeiros candidatos ao título.

O FC Porto nunca negou que em 2024/25 não iria lutar pelo primeiro posto, mas este foi o seu primeiro erro, já que iludiu os próprios adeptos, que viram na conquista da Supertaça de Portugal um cenário que não existe: uma equipa que pode ganhar tudo. Os dragões vivem um processo de reconstrução, semelhante ao que Bruno de Carvalho e Leonardo Jardim tiveram que fazer no Sporting (não comparando as personagens, mas sim a situação). Nem André Villas-Boas, nem Vítor Bruno, tiveram a coragem de falar de um ‘ano zero’, que neste caso faria todo o sentido. Caso o FC Porto termine a Primeira Liga no terceiro posto, que é um cenário com uma probabilidade elevada, vai haver críticas, mas a culpa é do discurso dos seus líderes, que não souberam (e não quiseram) reduzir as expetativas.

A época do FC Porto está a decorrer normalmente, dada a situação em que se encontram. Há uam crítica (e meia), que podemos fazer. Depois do triunfo nas últimas três edições da Taça de Portugal, ficar pelos 16avos de final, eliminados aos pés do Moreirense, soa algo frustrante para os adeptos e para a apropria instituição, que ia em busca do ‘tetra’. A prestação na Liga Europa não está igualmente a ser a melhor, com percas de pontos nos minutos finais de vários encontros, justificados quiçá pela instabilidade emocional que se vive nesses momentos. Embora se peça um apuramento direto para a fase seguinte, não seria um fenómeno raro a ida a um play-off. AS Roma, Fenerbahçe ou Manchester United estão na mesma posição, o que mostra que este formato traz muito mais equilíbrio às competições europeias. O problema está mesmo no calendário, que contará com mais dois jogos.

De resto, a equipa azul e branca está em segundo na Primeira Liga (claro que a goleada sofrida na Luz afetou a moral do conjunto e dos adeptos) e segue viva na Taça de Portugal e na Taça da Liga. Alguém esperava que o FC Porto estivesse apenas com vitórias no campeonato? Benfica e Sporting, principalmente este último, vivem fases muito mais avançadas do seu projeto, não passando por dificuldades financeiras e com opções de topo para quase todas as posições. A turma de Vítor Bruno poderá chegar a essa fase, mas não será hoje nem amanhã.

As pessoas são livres de mostrar lenços brancos ou pedir a demissão de Vítor Bruno, mas quem conseguiria fazer melhor, tendo em conta a realidade da instituição? O FC Porto não tem possibilidades financeiras de seduzir José Mourinho ou apostar num nome forte estrangeiro. A atual equipa técnica merece tempo para construir a sua ideia, além de necessitar de estabilidade e apoio de quem está de fora.

Foram mais de 40 anos de uma política liderada por Pinto da Costa, que levou o FC Porto ao melhor momento da sua história, mas também o conduziu a uma crise se precedentes. Se os dragões são um ‘grande’, muito o devem ao histórico dirigente. Porém, a crise que vivem também vigora graças às suas atitudes. Isto, sem tocar em outras polémicas.

Há que dar tempo a quem lá está e retirar as conclusões num prazo que não seja precipitado.


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