Petit, um treinador para condenar ou salvar o Marítimo?
Revolução no “Caldeirão” dos Barreiros, com a saída (justificada) de Cláudio Braga, depois de um início de época excessivamente comprometedor que culminou na eliminação da Taça de Portugal frente ao Feirense, em casa. Uma goleada da formação de Santa Maria da Feira foi a última gota num “copo” que estava completamente já cheio. O treinador não percebeu os erros, continuou a assumir uma postura dura para com aqueles que criticavam a estratégia dos verde-rubros e foi vítima das suas próprias decisões.
Como nota de rodapé, o antigo treinador do Fortuna Sittard raramente completava as substituições e/ou lançava-as só nos últimos 10 minutos de jogo na sua maioria, num claro sinal de não confiar nas peças disponíveis no banco de suplentes.
Rei Morto, Rei Posto e Carlos Pereira (dar o mérito ao Presidente do CS Marítimo que aguentou Cláudio Braga até ao ponto de não-retorno) escolheu um técnico com vasta experiência no futebol português para assumir o lugar de técnico-principal, de seu nome António Gonçalves Teixeira, ou como é mais conhecido “Petit”.
O CV DE PETIT ENTRE O SALVADOR DE ÉPOCAS A MEIO E MAU PREPARADOR NO INÍCIO
O antigo jogador do FC Boavista e SL Benfica volta a ser chamado a “depor” no banco dos réus da Liga NOS, obtendo uma nova oportunidade para demonstrar se é ou não um treinador fadado para outro patamar. Qual é o registo do técnico até este momento?
Entre 2012 e 2015 guiou os axadrezados do Bessa no regresso à Primeira Liga, conseguindo a permanência na primeira época mas acabou demitido a Novembro de 2015, depois de uma sequência de maus resultados (7 jogos sem ganhar em 8 possíveis). Se na primeira época, o Boavista apresentou um futebol de luta na defesa, de boas recuperações no “miolo” de jogo e de uma eficiência mínima na frente-de-ataque, já a partir da segunda tudo se complicou.
Quando descobertas as fraquezas, os adversários das equipas de Petit conseguiam “bloquear” totalmente as operações no meio, forçando que escapassem para as alas, onde novamente eram forçados a complicar e a bloquear.
Seguiu-se uma aventura proveitosa em Tondela, que durou um ano e dois meses, conquistando a permanência na primeira época. Na segunda tudo correu da pior forma possível, conquistando 5 pontos em 33 possíveis, atirando a formação do centro de Portugal para os últimos lugares da classificação. Contudo, foi a melhor fase da sua carreira como treinador, salvando o Tondela da relegação certa, uma vez que estavam com 5 pontos à entrada da 13ª jornada. Foram 25 pontos conquistados e uma permanência muito festejada.
Seguiram-se experiências negativas em Moreira de Cónegos (7 vitórias em 20 jogos), Paços de Ferreira (1 vitória em 9 encontros) e um regresso “salvador” ao Moreirense, com 13 pontos somados nos últimos 12 encontros. Contudo, Petit não continuou na formação minhota e entre Maio e Novembro de 2018 ficou sem clube.
Nas cinco experiências anteriores ao CS Marítimo, Petit só teve envolvido num clube despromovido, com claras responsabilidades para a inaptidão de colocar a equipa a jogar um futebol minimamente interessante. Não obstante, nem João Henriques, que tem encantado a Liga NOS nesta temporada ao serviço do CD Santa Clara, salvou os castores da descida e esse factor pode servir de alguma tábua de salvação para Petit.
Moreirense, Tondela e Boavista viveram algumas fases de futebol minimamente intenso, complicado de derrotar e de coesão em uníssono do seu grupo de trabalho, revelando um colectivo preocupado em ser “uno” e sólido. Tanto os cónegos como tondelenses foram “salvos” pelos ideais tácticos e motivacionais de Petit, para depois mais tarde estagnarem e caírem na classificação.
Ou seja, Petit é um bom treinador para ser introduzido com a época a decorrer, fadado para tirar as equipas de um lugar “negro” preparando-as bem sem ter muito tempo à sua disposição e sem ter o mercado disponível logo no imediato. O problema está no regresso ao trabalho depois do fim da época, mas isso é uma questão para depois, já que o Marítimo enfrenta uma séria crise que os coloca a meros pontos dos lugares de despromoção.
UMA CRISE SEM IGUAL NA MADEIRA… PASSÍVEL DE REVIRAVOLTA?
Os maritimistas enfrentam um problema que se viu pela última vez com Ivo Vieira (2015/2016) e esse é: luta pela manutenção. Carlos Pereira tem edificado o emblema madeirense em redor do objectivo de conquistar um lugar entre os 7 primeiros e se possível de apuramento para uma das fases preliminares das competições europeias. Ivo Vieira foi demitido quando estavam a meio da tabela com 30 pontos (permanência assegurada), mas pela primeira vez, em largos anos, se vêem agora a 2 pontos acima da linha de água.
Só recuando ao ano de 2010 é que encontramos um dos piores registos de início de época do CS Marítimo, às mãos de Mitchell Van der Gaag. O holandês deslumbrou na primeira época, sucumbindo no início da seguinte altura em que Pedro Martins foi promovido a treinador-principal. Na época actual, o clube recebeu poucos reforços, alguns de qualidade dúbia, manteve 95% do plantel na transição de temporadas mas tem enfrentado alguns situações mais estranhas. Tais como:
– Joel Tagueu, melhor marcador na época passada com 9 golos em 15 jogos, apresenta números desoladores com apenas 3 tentos em 12 jogos disputados e só um dos quais foi na Liga NOS;
– É o pior ataque da liga e a que tem menor taxa de aproveitamento em contra-ataques, demonstrando-se parcos na saída rápida para o ataque com Danny, Correa e Fabricio a apresentarem uma consonância de baixo teor, com alguns dos piores números em termos de acerto no passe e de lançamento de jogo;
– As laterais deixaram de importar, com Bebeto (dos laterais-direitos menos interessantes da Primeira Liga, desconexo do que o futebol português pede e exige a nível de entendimento e percepção de jogo) e Fábio China longe da participação activa no ataque;
– Ricardo Valente, de longe um dos melhores atletas da era Daniel Ramos, deixou de ser importante muito devido a problemas internos com o clube. Está de regresso às opções, mas está longe de uma boa forma física;
– Leandro Barrera (bom reforço, mas mal jogou com Cláudio Braga), Al-Jawaey, Josip Vukovic, Marcão, Nikolaos Ionnidis foram reforços que nunca serviram para o treinador anterior, sendo que só Lucas Áfrico e Danny funcionaram, e mesmo estes dois têm apresentado algumas debilidades exibicionais;
Ou seja, a missão em mãos é das mais complicadas para a carreira de Petit, até pela dimensão desportiva do Marítimo, assumindo-se como um factor de pressão total e que um futebol parco em ideias, sem resultados à vista e desorganizado não servirá. Carlos Pereira poderá facilmente mudar de treinador passado alguns meses (contudo, nunca o fez, ficando-se com o máximo de uma troca a meio da época) se o trabalho imediato não agradar e não resultar em vitórias.
Petit em 4 das 5 oportunidades que dispôs para comandar um clube da Liga NOS salvou sempre esse emblema da descida e ficou com um rótulo minimamente positivo, destacando-se como um treinador de operação cirúrgica rápida, estacando a maioria dos problemas de forma a meter o clube no caminho certo ou, pelo menos, no sentido da manutenção.
Vai conseguir garantir a permanência na Madeira?
O último prego na carreira de treinador do Marítimo de Cláudio Braga