O que precisa Rúben Amorim para “melhorar”?

Henrique SáSetembro 27, 20226min0

O que precisa Rúben Amorim para “melhorar”?

Henrique SáSetembro 27, 20226min0
Henrique Sá olha para o trabalho de Rúben Amorim e tenta perceber como é que o treinador pode "afinar" a sua estratégia no Sporting CP

Início de época um pouco peculiar para a turma de Alvalade liderada por Rúben Amorim. A nível interno, um começo terrível (7 jogos, 2 vitórias, 1 empate e 3 derrotas), igualando, até ao momento, o número de derrotas da época passada. Em relação à Champions league, os leões estão irrepreensíveis com vitórias convincentes frente a Eintracht Frankfurt e Tottenham, apresentando uma preparação tática excelente frente a equipas, na teoria, superiores. Porém, o que se sucede nos jogos da liga quando o Sporting joga com equipas do mesmo nível ou equipas inferiores? Vamos por partes.

Golos sofridos

Todos os jogos em que o Sporting CP sofreu golos, nesta época, nunca ganhou, excetuando o jogo com o Braga na Pedreira (estiveram a ganhar por três vezes), porém, os três encontros em que sofreram golos primeiro (Porto, Chaves e Boavista), não foram capazes de inverter o resultado favoravelmente.

Em relação à época 21/22, o Sporting quando entrou a perder ou começou a ganhar e concedeu a reviravolta à equipa adversária (Portimonense em casa), os comandados por Rúben Amorim deram a volta por seis vezes, empataram duas e perderam seis. Contudo, destas seis derrotas, só uma é que foi a contar para a primeira liga portuguesa (Benfica em casa). Comparando a época atual com a transata, é constatável uma maior dificuldade em ultrapassar situações de desvantagem. O que mudou?

Esquema tático – Ofensivamente

A iniciar a 3ª época “completa” ao serviço do Sporting, Rúben Amorim estabeleceu um modo muito característico de se apresentar no terreno. Devido ao seu tempo como principal figura no banco sportinguista, quando enfrenta equipas “inferiores”, os treinadores adversários já estão familiarizados com o “modus operandi” do treinador leonino, quer defensivamente, quer ofensivamente. Isto, obviamente, é um desafio pelo facto de nem sempre as mesmas coisas, já trabalhadas anteriormente, resultarem o que deverá surgir uma adaptação (a meu ver) quando o jogo está a correr menos bem, não nos jogadores utilizados, mas sim, na forma como se apresentam dentro das quatro linhas.

Um bom exemplo é o Real Madrid de Carlo Ancelotti que muitas vezes se apresenta com Fede Valverde “pela direita”, porém, este jogador deambula entre o papel de extremo, 4ºmédio, ou até mesmo quinto defesa, o que dá uma imprevisibilidade tremenda ao conjunto espanhol principalmente no momento ofensivo.

No gráfico abaixo pode-se observar uma variância tática do esquema de três centrais, em vez do clássico 3-4-3, é apresentado um 3-4-1-2 que preenche mais o meio-campo (muitas equipas jogam com dois médios num esquema de três centrais), isto daria mais superioridade no centro do terreno e, consequentemente, um controlo ainda mais acentuado com bola. Quanto à profundidade, os alas Porro e Nuno Santos (habituais titulares nestes últimos encontros), teriam uma responsabilidade acrescida porque tem de ser eles a dar “toda” a largura à turma de alvalade no ataque.

Esquema tático – Defensivamente

Em relação à defesa, as lesões (St. Juste, Neto, Coates e Porro já na paragem das seleções) tem condicionado imenso o início de época, um problema nunca enfrentado por Amorim que o obriga a mudar de jogadores regularmente na linha defensiva, criando, assim, instabilidade (relembrando que nas épocas passadas, Rúben mexia pouco na tripla de centrais, com exceção do lado esquerdo, permuta entre Feddal, Matheus Reis e Nuno Santos).

O assunto Ricardo Esgaio não foi mencionado no texto, pois é um assunto que já foi extremamente falado, por vezes bem, por outras nem tanto e que não vale a pena estar a perder mais tempo a comentar este tema quando há pontos mais urgentes de se rever.

Um dos pontos é a perda de agressividade na reação à perda de bola que tem contribuído para o insucesso defensivo dos leões, isto deve-se muito à saída de Palhinha e de Matheus Nunes que davam um outro “volume” em relação a Ugarte e Morita, que muitas vezes, não recorrem à falta para parar um contra-ataque, como por exemplo, na deslocação ao Bessa (1º golo).

A insuficiente agressividade e as poucas faltas cometidas também se devem ao facto de Paulinho não ter sido opção, devido a lesão. O ponta de lança de 29 anos garantia uma pressão mais eficaz na primeira fase de construção do adversário, quebrando, muitas vezes, o ritmo da equipa contrária.

Game Changer

Após a curta paragem para as seleções nacionais, seria importante um salto qualitativo de Trincão (qualidade já demonstrada, mas ainda uns furos a baixo), principalmente na tomada de decisão no último terço. A capacidade física do jogador de 22 anos ainda não está no seu melhor (tem feito muitos minutos, o que leva ao cansaço acumulado), visto que, nas últimas épocas, era muitas vezes utilizado a partir do banco.

Outra “ajuda” que Rúben Amorim pode ter é quando St. Juste estiver recuperado a 100% porque dá uma proteção enorme da profundidade, “eliminando”, um pouco, o perigo dos contra-ataques dos adversários e, ainda, adiciona qualidade na primeira fase de construção pela direita. Na segunda metade da época, o treinador natural de Lisboa poderá contar com Daniel Bragança (lesão durante a pré-época), um jogador com uma qualidade técnica e tática acima da média que encaixaria perfeitamente no esquema tático falado anteriormente, combatendo a falta de inspiração no último terço contra equipas “pequenas”.

Em suma, Amorim tem, até ao momento e a meu ver, o maior desafio desde que chegou ao Sporting, ou seja, continuar com o nível apresentado na Champions League e, ao mesmo tempo, conseguir subir os índices de confiança nos jogos a contar para a Liga Bwin quando os leões entram a perder, ou melhor, sofrem golos. Será que Amorim muda ligeiramente o esquema tático ou continuará a trocar os jogadores dentro da mesma tática? Como o próprio diz: “Todos temos que melhorar”.


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