O mercado dos 3 Grandes: realidades distintas, o mesmo objetivo

Ricardo João LopesJulho 20, 202510min0

O mercado dos 3 Grandes: realidades distintas, o mesmo objetivo

Ricardo João LopesJulho 20, 202510min0
Sporting, Benfica e Porto estão a se reforçar, e Ricardo Lopes olha para o mercado dos três principais candidatos ao título nacional

O mercado de transferências está oficialmente aberto desde o dia 1 de julho e já existem vários nomes como protagonistas, tanto ao nível nacional, como internacional. Sporting, Benfica e FC Porto têm que marcar presença na janela e estarem dispostos a investir, de maneira a subirem o nível. Ainda assim, a postura dos três está longe de ser a semelhante, dadas as necessidades e momentos de cada um.

Sporting

Possivelmente o Sporting terá o mercado mais simples, ou melhor, menos trabalhoso, dos emblemas designados de Três Grandes. O emblema de Alvalade vai em busca do tricampeonato, com a pela consciência de que vai perder o seu maior ativo. Viktor Gyokeres deverá abandonar Lisboa nas próximas semanas, deixando os cofres do clube com algum capital para investir.

Como ó óbvio, a principal missão do Sporting no verão é encontrar um sucessor para Viktor Gyokeres, algo que o scout já deve ter trabalhado (o nome de Luis Suárez está a ser fortemente veiculado), o que obrigará a um investimento pesado. Os leões ainda assim terão que focar-se em outras posições. Na ala direita, Ricardo Esgaio é manifestamente curto e para atacar todas as competições é necessário um outro nome (Alberto Costa e Georgios Vagiannidis estãoa ser apontados), além de Iván Fresneda e Geny Catamo, que são jogadores com caraterísticas muito distintas e o moçambicano será aposta certa na frente.

O restante dos reforços está dependente do sistema tático que será utilizado por Rui Borges. Caso se mantenha no 3x4x3, faria sentido a aquisição de mais um central, que possa ser utilizado em outras missões (até mesmo para colmatar a provável saída de Jeremiah St. Juste, a entrar no seu último ano de contrato. Caso aposte num 4x2x3x1, um extremo com capacidade de jogar atrás do ponta de lança também faria sentido, visto que Pedro Gonçalves é o único capaz de fazer tal função com a qualidade necessária (Francisco Trincão faz mais sentido numa das alas).

A última dúvida do mercado do Sporting prende-se com o nome de Hidemasa Morita. O japonês está no seu último ano de vínculo e já deu a entender que não vai renovar o seu contrato. Frederico Varandas terá que jogar com duas opções: ou mantém o nipónico e deixa-o sair livre no verão de 2026, ou vende-o nas próximas semanas, de maneira a conseguir fazer um encaixe com ele. Caso opte pela segunda via, um novo jogador para o meio campo torna-se obrigatório e uma das prioridades, tal como fechar um sucessor de Viktor Gyokeres.

O Sporting está a ser o protagonista do começo do mercado de transferências, especialmente pela novela Viktor Gyokeres, mas ninguém acredita que o escandinavo se mantenha por Alvalade por muito mais tempo e o que realmente importa é o preço da sua venda. Caso o jogador já estivesse apalavrado com algum emblema, seguramente os verde e brancos não estavam nas manchetes, bem longe disso, já que são os que mais confortáveis se encontram neste aspeto. Contam com opções de qualidade e somente têm que realizar operações pontuais, embora as mesmas requeiram algo de investimento. Afinal, a qualidade está cada vez mais cara e o Sporting já aprendeu a lição (veja-se os exemplos de Viktor Gyokeres e Morten Hjulmand, que foram reforços caros, mas que ninguém se lembra de quanto custaram, dado o seu contributo para as mais recentes conquistas dos leões).

Benfica

O Benfica vive uma situação atípica (tal como o FC Porto). O conjunto da Luz terminou a Primeira Liga no segundo lugar e deu uma imagem relativamente positiva no Mundial de Clubes 2025. Bruno Lage está seguro no cargo, mas Rui Costa nem por isso e existem eleições em outubro, que o antigo médio procurará vencer. Qual a melhor forma de convencer os adeptos quando não existem títulos para conquistar? A contratação de reforços com nomes que chamem a atenção.

É aqui que entramos naquele que será o protagonista do mercado dos encarnados: João Félix. Face à impossibilidade de trazer Bernardo Silva para o Benfica no mercado de 2025, a aposta recairá seguramente em João Félix. Para o jogador é o movimento perfeito. O internacional português está desacreditado e perdeu o lugar nas equipas de topo das Big 5. Regressar a uma casa que em conhece e onde já foi feliz (além de voltar a ser treinado pelo técnico que retirou mais dele nos últimos anos) faz todo o sentido. A Primeira Liga tem um nível de competitividade inferior e seria novamente acarinhado. Rui Costa teria aqui o seu nome de peso, que poderia conquistar alguns votos.

Contudo, e se João Félix falha? O avançado tem um salário elevadíssimo e teria obrigatoriamente que o reduzir para poder regressar à Luz. Além disso, o seu histórico recente está longe de encantar, longe disso. O Benfica poderá negociar a sua chegada, mas nos moldes corretos. Rui Costa sabe que terá que reforçar o plantel com outros nomes e realizar apenas um investimento em João Félix pode não ser a atitude certa. Este promete ser um verão tranquilo em termos de saídas no Benfica. Ángel Di María terminou contrato (e comprar um substituto é obrigatório), mas é pouco provável que existam mais saídas de peso. Possivelmente existam tentativas para comprar António Silva e/ou Tomás Araújo, mas trata-se da futura dupla de centrais dos encarnados e Rui Costa deverão tentar resistir às propostas, a não ser que as mesmas sejam elevadas.

A saída de Álvaro Carreras está resolvida, com a chegada de Rafael Obrador, que poderá vir a fazer um trajeto semelhante. Samuel Dahl até tem condições de ser titular, mas precisava de concorrência, algo que não existia dentro de casa. O Benfica esteve muito bem na questão do lateral direito. Amar Dedic pode disputar sem qualquer tipo de problemas um lugar no onze inicial com Alexander Bah, além de permitir o regresso de Tomás Araújo ao eixo da defesa.

No meio campo, Enzo Barrenechea brilhou ao serviço do Valência, mas está mais perto de dar concorrência a Florentino Luís (que poderia dar o próximo passo neste mercado) do que ser o sucessor de Orkun Kokçu. O turco protagonizou várias polémicas e procura agora ser o herói no Besiktas, já que no Benfica esteve sempre longe de tal estatuto. Richard Ríos tem sido o nome mais badalado e o colombiano merece o salto para a Europa.

Vangelis Pavlidis é à data o único ponta de lança do Benfica e a chegada de pelo menos um nome terá que ocorrer. Não existe mais ninguém com capacidade de atuar na posição (João Rego esteve a ser adaptado), nem mesmo João Félix, que não pode atuar sozinho na frente do ataque. Com o grego como titular indiscutível, não é necessário um investimento pesado, mas seria conveniente a chegada de um nome experiente e conhecido, já que o Sporting, maior rival, vai contar com duas opções de qualidade (Harder e Luis Suárez(?)).

Certo é que o Benfica está disponível para fazer um investimento pouco antes visto, mexendo em várias peças do seu plantel, mas sem medo de colocar em cima da mesa dezenas de milhões de euros, algo pouco visto, mas plenamente justificável por ser ano de eleições e Rui Costa não estar propriamente bem conotado neste momento.

FC Porto

André Villas-Boas, duranta a apresentação de Francesco Farioli abriu a possibilidade do FC Porto realizar o ‘maior mercado de sempre’. Os dragões, que até venderam Nico González e Wenderson Galeno em janeiro, aparentemente têm uma capacidade financeira de fazer inveja a qualquer um, quando há um ano atrás contavam com apenas oito mil euros na conta. A verdade é que os dragões estão alguns passos abaixo dos rivais da Segunda Circular e o máximo responsável do clube quer fazer um all in, quando quiçá não era o momento para tal. Se no ano passado foi um erro afirmar que o FC Porto era um candidato ao título, este ano pode novamente estar a cair no mesmo erro, olhando em demasia para o curto prazo. Contudo, vejamos o plantel.

Há necessidades básicas. Os azuis e brancos decidiram investir no passe de Samu Aghehowa, contratar em definitivo Nehuén Pérez (sem que tenha feito grande esforço para isso) e fechar as aquisições de Dominik Prpic (jovem promessa) e do retornado Gabri Veiga, um nome que promete fazer a diferença na Primeira Liga. Isto não chega.

Falta um claro líder para o centro da defesa e um médio com capacidade de fazer a diferença a jogar a 8. Rodrigo Mora e Gabri Veiga jogam muito mais próximos dos avançados. Alan Varela é o típico 6. Stephen Eustáquio tem qualidade, mas não é aquilo que o FC Porto precisa para fazer aquela posição (onde Richard Ríos encaixaria que nem uma luva).

Além disto, o  emblema do Dragão tem um banco com elementos que não deveriam ter espaço nos dragões, tal como Zaidu, Gonçalo Borges ou Deniz Gul. O FC Porto necessita de contratar suplentes, já que não está disponível a dar tempo para os jovens da formação (como Gabriel Brás, João Teixeira, Martim Cunha, entre outros) possam assumir tal função. O tal ‘maior mercado de sempre’ tem que ser ponderado e bem analisado, esperando que os jogadores encaixem na ideia de Francesco Farioli, que não está assim tão distante de Martín Anselmi, embora o italiano seja muito mais flexível que o argentino.

As capas dos jornais prometem apontar vários elementos ao FC Porto, que não tem a Champions League como aliciante, ao contrário dos dois rivais. Contudo, não seria saudável ao nível financeiro a venda um ativo importante? Nas últimas semanas muito se fala em compras, mas pouco em vendas pelos lados do Douro. O Sporting prepara-se para vender Viktor Gyokeres para poder investir em alguns jogadores. O Benfica deixou sair atletas com uma carga salarial pesadíssima. Seria tão descabido os dragões aceitarem uma boa proposta por Diogo Costa, quando existe Cláudio Ramos e João Costa prontos para disputarem o lugar? Nenhum deles tem a qualidade do guarda-redes da seleção nacional, mas para o nível interno já deram provas que são suficientes, principalmente o antigo jogador do Tondela.

O FC Porto tem a obrigação de fazer mais e melhor do que nos últimos mercados, mas esta verdade absoluta não tem obrigatoriamente que andar de mãos dadas com investimento pesado. Além disto, as outras equipas não dormem. Os dirigentes do mundo do futebol ao assistirem ao discurso ambicioso e gastador de André Villas-Boas podem ter a tentação de inflacionar o preço de um atleta quando chega uma proposta dos azuis e brancos.


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