O “adeus” do Rei de Gales: obrigado por tudo, Gareth Bale

Miguel SilvaJaneiro 13, 20235min0

O “adeus” do Rei de Gales: obrigado por tudo, Gareth Bale

Miguel SilvaJaneiro 13, 20235min0
Miguel Silva compõe a despedida do Fair Play a Gareth Bale, uma vez que o galês colocou um ponto final numa ilustre carreira

Depois de 664 jogos e de 225 golos, chega assim o final da era Gareth Bale. Apesar da forte concorrência de nomes como Ian Rush, John Charles ou Ryan Giggs, o galês foi e será durante largos anos o melhor e maior jogador galês de todos os tempos.

Apesar de uma carreira futebolística algo atribulada e com o golfe à mistura, Bale provou a todos que era um jogador diferenciado dos demais, inventava coisas que os outros não conseguiam e tinha uma capacidade incrível para decidir jogos, não só a nível de clubes como a nível de seleções onde carregava toda a nação galesa às suas costas.

Antes de Bale, o País de Gales apenas tinha estado por uma vez numa fase final de uma competição internacional, falamos pois claro do Mundial de 1958 disputado na Suécia onde os galeses foram eliminados nos quartos de final. Sob o reinado do astro, o País de Gales foi a grande sensação do Euro 2016, despachando uma Super Bélgica e apenas caindo aos pés de Portugal, esteve no Euro 2020 e mais recentemente no Mundial 2022. Falar do País de Gales é falar de Bale, falar de Bale é falar num jogador com uma carreira notável, contudo fica sempre a ideia que não atingiu toda a grandeza que era expectável.

Dizer que um jogador com os números e com o seu currículo não atingiu todo o potencial esperado até soa a ironia, mas a verdade é que caso não fossem as inúmeras lesões que marcaram a sua carreira os números podiam muito bem ser outros, nomeadamente os individuais, visto que durante algumas épocas a qualidade de jogo de Bale o colocava apenas atrás de Messi e Cristiano Ronaldo na lista dos melhores do mundo.

Dono de uma velocidade diabólica, o galês era um perigo à solta para as defesas adversárias e criava sempre uma incógnita e indefinição nas zonas de pressão do oponente: se pressionassem alto era a morte do artista porque o galês era velocíssimo e o seu ataque à profundidade era demolidor; se optassem por encurtar linhas, Bale também tinha argumentos técnicos mais que suficientes para inventar uma finta ou para ensaiar um remate.

O galês até começou a carreira como lateral esquerdo ao serviço do Southampton, contudo as boas exibições não passaram despercebidas aos responsáveis do Tottenham que levaram o então jovem galês para o norte de Londres. No mítico White Art Lane, Bale foi sem dúvida dos jogadores mais acarinhados pelos adeptos. Apesar da tenra idade assumiu-se como figura do Tottenham e era claramente o elemento mais desequilibrador dos ingleses, na memória está um hattrick em pleno Giuseppe Meazza frente ao Inter de Milão que mostrava que estava pronto para outros voos. A chegada de André Villas-Boas ao Tottenham funcionou como o verdadeiro ponto de viragem para a sua carreira. O treinador português transformou-o num avançado/extremo, no homem das decisões, do último passe, da última finta ou do remate, e sem surpresas ao fim de 26 golos na época 13/14 e aos 23 anos, Bale dá o salto para Madrid, e em Madrid Bale é história.

Fazendo parte de um dos melhores trios de ataque do século, o famoso BBC (Bale, Benzema e Cristiano), Bale, a seguir a Cristiano, era o melhor jogador do Real Madrid. Numa época em que Benzema não era metade do jogador que agora é (ou pelo menos andava escondido) na ausência de Cristiano era o galês mais 10. Que o diga Marc Bartra, que ainda deve estar à procura do galês depois daquela final da Taça do Rei, onde sem Cristiano de fora por lesão, foi mesmo Bale a tomar as rédeas do jogo e a carregar o Real às costas.

O galês colocou a bola no espaço, arrancou por fora das quatro linhas, passou em frente ao banco do Barcelona, deixou Bartra pregado ao relvado e faz o golo que vale a vitória dos Merengues na afinal da Taça do Rei frente ao seu maior rival. Bale era isto, era grandes golos, eram grandes palcos e grandes decisões, tal como na final da Liga dos Campeões em 2014 no Estádio da Luz onde faz o golo da reviravolta ou o sensacional pontapé de bicicleta na final de 2018 frente ao Liverpool. Em todas as grandes decisões, o galês disse presente.

Apesar de toda a polémica envolvente em torno da carreira de Gareth Bale, a alegada falta de compromisso nos treinos, as críticas devido à dicotomia entre futebol e golfe, foi um sensacional jogador com provas dadas por todo o lugar onde passou. Embora haja sempre a questão se o futebol era a verdadeira prioridade de Bale ou se a mesma era o golfe, os números e a carreira do galês falam por si. Não se sabe o que se segue daqui para a frente, talvez se torne um grande jogador de golfe como disse Guardiola bem recentemente, mas o passado sabemos nós, e o passado diz-nos que ganhou 5x Ligas dos Campeões, 4x Mundiais de Clubes, 3x La Liga, 3x Super Taça Europeia, 1x Taça do Rei, 1x Taça da Liga Inglesa e mais recentemente 1x a MLS Cup. O futuro não sabemos, mas convém não esquecemos que houve uma altura em que ele era definitivamente dos melhores jogadores do mundo. 664 jogos e 225 golos depois, chega assim ao fim a era Gareth Bale.


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