Neymar… uma história e situação mal contada e entendida

Francisco IsaacFevereiro 9, 202010min0
Um astro genial com a bola nos pés mas um problema fora dos relvados, este é o retrato actual e dos últimos anos de Neymar Jr. no futebol. Mas será que a história está mal contada?

Neymar … Jr., internacional pelo Brasil com 61 golos em 101 jogos. Neymar Jr., vencedor de 1 Liga dos Campeões. Neymar Jr., jogador com uma incidência directa em 66 golos do Paris-Saint Germain. Neymar Jr., jogador que consegue tão facilmente arrancar as pessoas das cadeiras com uma jogada brilhante como consegue pô-las a contestar a sua própria existência após uma atitude repreensível. Mas qual dos Neymar Jr.’s é o verdadeiro?

É difícil de dizer qual deles é o mais procurado pela imprensa e comunicação social, já que um bate recordes, apresenta uma genialidade pura no ataque e sabe dar verticalidade às equipas por onde passa (é só ver a diferença que o brasileiro faz em Barcelona), enquanto o outro ocupa capas e capas de jornais, invade folhas inteiras em revistas e domina sites inteiros à conta da sua postura, palavras, mediatismo e acções minimamente polémicas.

Neymar Jr., como Cristiano Ronaldo, Lionel Messi, Karim Benzema, Eden Hazard, entre outros (ou mesmo todos) são vítimas e culpados deste mediatismo… vítimas porque são um alvo constante de notícias cor-de-rosa ou fake dos vários meios de propagação jornalística (quantas vezes inventou-se algo sobre um jogador, sem que depois o meio de CS tivesse a coragem para admitir o erro) e acabam por ter uma imagem menos positiva à conta da lei do clique. Culpados porque os próprios criam situações evitáveis, deixando que se estimule uma tempestade de rumores, suspeições que levam a críticas e um acinzentar das suas pessoas.

Os dois últimos verões têm sido vividos envoltos neste composto cromático para Neymar Jr., que teve a sensatez de admitir que queria sair de Paris para ir em busca de um novo (ou velho) “Mundo”. Agarrando no caso do Mercado De Transferências do Verão de 2019, Neymar Jr foi talvez o tema mais badalado pela imprensa mundial, apresentando-se contínuos e variáveis destinos para o astro brasileiro, com vários e possíveis negócios a serem recusados pelo clube que habita no Parque dos Príncipes.

Neymar é o rosto do PSG (Foto: Gaucha ZH)

O brasileiro optou pelo silêncio durante todo esta faixa de tempo, sendo censurado por uns, criticado por outros, humilhando por uns poucos e lamentado pelo seu próprio treinador, o alemão Thomas Tuchel. O ex-treinador do Dortmund admitiu durante a pré-época que gostaria de contar com Neymar Jr. para a temporada, mas que existia um complicado diferendo a criar alguns problemas para o regresso aos treinos do brasileiro… problemas que iam desde a parte física (lesionado durante a maior parte da temporada passada e pré-época desta) até à parte de opção de carreira.

Posto o fim do Mercado de 2019, o internacional canarinho viu-se de novo entregue a um dos planteis mais ricos da Europa, tanto a nível económico como em profundida de atletas, o que até nem parece ser, num primeiro momento, uma má realidade para Neymar.

O problema residia e reside no facto do público parisiense saber que o brasileiro não queria estar mais na cidade das luzes, de que a vontade do astro era ter ido para outras paragens e que estaria amplamente cansado da falta de títulos internacionais, precipitando isto a um corte total de relações e um crispar de emoções por parte dos adeptos. E é perceptível esta postura, até porque Neymar aufere um salário altíssimo, foi sempre bem tratado e amado pelas bancadas do Parque dos Principes e constantemente apoiado nos bons e maus momentos.

Foi e tem sido tratado em Paris da mesma forma que Lionel Messi ou Philip Lahm foram tratados em Barcelona e Munique respectivamente (Cristiano Ronaldo não entra na equação, porque Madrid só “gostava” do português aquando dos golos e títulos, criticando-o nos outros raros momentos menos positivos).

O público do PSG sentiu-se não só traído mas também relegado para um patamar inferior, como se pertencessem a um 2º ou 3º nível de qualidade em termos de apoio e carinho.

Contudo, pelas atitudes de Neymar e o discurso que o brasileiro teve após o 1º jogo de PSG ao peito nesta nova temporada, dá para perceber que não só se orgulha de vestir a camisola do emblema parisiense como percebe os apupos e raiva de quem está na bancada a ver e a apoiar. E é precisamente este realismo e noção do que se passa em seu redor que devia ter sido melhor difundido pela comunicação social.

Verdade, não dá tantos cliques como uma notícia de Neymar Jr a negociar um possível contrato com o Barcelona ou a discutir com um colega de equipa, mas pelo menos dava uma lufada de ar fresco ao futebol, que está cada vez mais desalojado da verdadeira realidade do Mundo.

A postura e discurso de Neymar Jr não são de um mercenário, não são de um jogador sem paixão e sem cabeça e muito menos de alguém com falta de profissionalismo. Não há dúvidas que tem comportamentos censuráveis, seja aquelas faltas “inventadas” (mas quantas vezes o extremo não foi alvo de uma agressividade desmesurada por parte dos seus adversários) ou pela excessiva ostentação do luxo que rodeia à sua volta, mas neste caso, e após um Verão quente e complicado, a forma de estar do canarinho devia ser mais destacado até pela tentativa de se procurar criar outras pontes com os jogadores, treinadores, dirigentes e clubes de futebol.

Capitão e uma das estrelas do Brasil (Foto: Lance!)

É verdade também que Neymar Jr. por mais golos que marque, assistências que coleccione ou jogadas mirabolantes que crie, nunca será reverenciado da mesma forma que Ronaldo Nazário, Ronaldinho Gaúcho ou Rivaldo foram nos últimos 20 anos… e principalmente porque todos eles elevaram o Brasil ao estatuto de Campeão do Mundo, algo que não deverá acontecer com o astro brasileiro num futuro tão próximo.

É um factor cruel e sinistro, mas é um factor que define a carreira de um jogador brasileiro do nível de Neymar Jr. Viveu talvez no pior período do Brasil dos últimos 30-40 anos, onde se deu ao mesmo tempo uma confluência de pormenores: vagas de jogadores promissores que depois não conseguiram dar o salto e acabaram perdidos; estagnação completa da escola de treinadores canarinhos (e é só ver que Jorge Jesus e Jorge Sampaoli chegaram ao Brasileirão e alteraram por completo com a intensidade da principal divisão de futebol do Brasil); falta de números de atletas de craveira Mundial ao nível do extremo ou de Marcelo (o Brasil de 2014 ou 2018 teve uma das defesas menos brilhantes possíveis, em comparação com que a que pisou os Mundiais de 1998, 2002 ou 2006) e de um desastre completo na estrutura da Confederação de Futebol do Brasil (algo que também se estendeu às eras recentes de Romário, Ronaldo, Rivaldo, Ronaldinho Gaúcho mas que era mais esbatido até pelo sucesso que coleccionavam a nível de torneios internacionais).

Neymar Jr. viu-se forçado a ser o único e grande nome do ataque do Brasil e apesar de um recorde estupendo de golos marcados (passou por exemplo Lionel Messi com menos jogos e em menos tempo), nunca foi suficiente para ajudar o Brasil a atingir outro patamar. Para terminar a conversa do Brasil, só agora em 2018-2019 se assistiu a uma verdadeira evolução da canarinha, com Tite a ter uma multiplicidade de nomes para várias posições, proporcionando uma dimensão de jogo e acalmia muito superior em comparação com os últimos 10 anos… o avançado do PSG não foi campeão na Copa América e esse factor deve ser visto como um apontamento positivo, até porque agora tem realmente uma equipa que não desespera por si, mas que pode ficar mais completa com ele.

Tirando estes 2 extra-terrestres, Neymar é o melhor do mundo? (Foto: IG Esporte)

O brasileiro não está a desiludir em Paris, os números provam isso… falta o tal título da Liga dos Campeões, mas também não falta esse pormenor a Pep Guardiola, que com um supra-milionário Manchester City ainda não foi capaz de chegar às meias-finais da competição mais reputada da Europa, não deixando de ser reverenciado como o melhor treinador do momento? E Lionel Messi que atravessa um largo período de seca de troféus a nível internacional, mas não deixa de ser destacado como um extraterrestre (e este não é preciso ir à Área 51 para vê-lo, assim como CR7) em todas as épocas?

O atleta do PSG  provoca uma irritação constante, pela sua atitude, pela forma como saiu de Barcelona para ir para um projecto louco e de “plástico” (como muitos adeptos o referem) do emblema parisiense, por estar sempre pronto a discutir com um defesa que o marque mais cerrado (e Daniel Alves não fazia o mesmo e não era aplaudido de forma perene por todos os clubes por onde passava?) ou por ter aqueles traços dos jogadores do Brasil dos anos 80’ ou fins de 90’, em que gostavam de arriscar numa fita, drible para tentar se elevar a uma categoria superior como jogador, por vezes não olhando para os dinamismos do jogo.

Não há dúvidas que merece ser reprovado pelas atitudes menos dignas que tem tanto fora como dentro do relvado… mas porquê é que não se destaca o contrário também? Porque é que Neymar Jr tem de ser constantemente rebaixado pela comunicação social, seja por não conseguir uma Champions, seja por não conseguir levantar um título mundial ou por outro qualquer factor.

Neymar Jr teve dos discursos mais simples, inteligentes e reais possíveis que um jogador do sue nível e profissionalismo pode ter… não só entendeu o descontentamento da bancada, como aceita as críticas pedindo única e exclusivamente que as direccionassem na sua direcção e continuassem apaixonadamente a apoiar o PSG, quer ele esteja ou não no 11 titular.

É a história mal contada de Neymar Jr., um astro que está só um patamar abaixo de Cristiano Ronaldo e Lionel Messi, um jogador que consegue mudar um jogo por inteiro e que tira impacto e genialidade ao PSG quando não joga (as duas últimas eliminações na Champions League coincidiram com uma ausência do internacional canarinho por lesão), um atleta que mesmo apupado decide marcar golos no último instante de uma forma espectacular e incrível e um profissional que nunca arredou o pé de mostrar e dar o seu melhor.

Deve ou não o futebol, a comunicação social desportiva e os adeptos do PSG darem uma real oportunidade ao brasileiro? Ou o antagonizar, o criar de notícias falsas e/ou menos verídicas e a manutenção de um espírito de guerrilha são preferíveis para o futuro da bola redonda?


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