Mundial de futebol 2023: o balanço da prestação portuguesa

Fair PlayAgosto 2, 20238min0

Mundial de futebol 2023: o balanço da prestação portuguesa

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Cristiana Pina e Margarida Bartolomeu avaliam a prestação da selecção nacional no Mundial de Futebol 2023 neste artigo

Portugal acabou eliminado na fase-de-grupos mas atingiu todos os objectivos que se propunha, com uma vitória frente ao Vietname e um empate ante as bicampeãs do Mundo, os Estados Unidos da América, encerrando a sua primeira prestação no Mundial de futebol 2023 com 4 pontos. Mas correu tudo bem? Ou poderia ter sido melhor? Margarida Bartolomeu e Cristiana Pina dão a sua opinião neste artigo em conjunto.

UM ADEUS AMARGO

Por Margarida Bartolomeu

Chegámos à última jornada da fase de grupos, e contrariamente às previsões de muitos, a seleção nacional portuguesa tinha tudo em aberto – uma vitória sobre os Estados Unidos, somada à vitória da seleção dos Países Baixos, dava o apuramento histórico para os oitavos de final da competição. E foi com esta atitude que toda a comitiva portuguesa – jogadoras e staff técnico – encararam a preparação e o jogo contra as norte americanas.

Se, em teoria, estávamos a competir contra a melhor seleção do mundo, bicampeã mundial em título, a verdade é que em campo, a história foi outra, e a seleção portuguesa demonstrou o quanto cresceu, maturou, e que entrou na elite mundial, com o objetivo de lá continuar!

Foi um jogo extremamente bem conseguido por parte das comandadas de Francisco Neto, em que apenas faltou algum acerto ofensivo, e sorte, essa maldita sorte, que teimou em não aparecer (aquela bola ao poste, ao minuto 91’, que poderia ter mudado tudo!). Contudo, algo ficou claro – estas jogadoras têm uma qualidade imensa, e estão a crescer a olhos vistos! Portugal é, e será, uma seleção a ter em conta!

Finda a participação lusa no campeonato do mundo 2023, e em jeito de balanço:

  • 3 jogos;
  • 1 derrota;
  • 1 vitória;
  • 1 empate;
  • 2 golos marcados;
  • 1 golo sofrido;
  • 4 pontos conquistados.

Muita garra, muita luta, muita entrega, e muita qualidade. Versatilidade tática, jogadoras inteligentes, disponíveis e maduras, muito embora ainda pouco experientes neste tipo de competição. Ficamos apenas a dever a nós próprios a derrota no primeiro jogo da fase de grupos, onde adaptámos, em demasia, a nossa personalidade (e sistema tático), ao adversário em questão. Destaco algumas jogadoras, por aquilo que fizeram sempre que chamadas a intervir:

  • Ana Borges: a líder. Qualidade, maturidade, intensidade, inteligência. 3 jogos de extrema competência, onde “abafou” por completo Sophia Smith e Megan Rapinoe.
  • Tatiana Pinto: inteligência tática acima da média, capaz de se adaptar a qualquer sistema tático que lhe seja apresentado. Um verdadeiro trator no meio-campo nacional, uma verdadeira “box to box”, completamente essencial para o jogo português.
  • Telma Encarnação: que crescimento! Está uma jogadora cada vez mais completa e capaz de contribuir para o jogo da equipa. Instinto matador em frente à baliza, como não há igual.
  • Lúcia Alves: intensidade! A posição de ala, num sistema de 3 centrais, encaixa-lhe na perfeição. Envolvimento ofensivo, intensidade defensiva, qualidade com e sem bola. Merecia mais minutos.

(tentei fugir um pouco aos nomes óbvios e mais badalados)

O nosso selecionador nacional começou o campeonato do mundo de forma algo tremida, com algumas escolhas controversas, adaptando em demasia a equipa ao que seria a estratégia adversária, tendo condicionado o desempenho no primeiro jogo. Foi crescendo durante a competição, e acabou por ter um desempenho também interessante.

No entanto, começa a ser necessário ter a “coragem” de promover alterações à equipa das quinas. Há uma geração de enorme qualidade a surgir, e há que dar oportunidade a essas atletas de dar o seu contributo. Tem mais 4 anos de contrato, e um apuramento para um europeu em breve. Veremos como irá decorrer o ciclo de Francisco Neto nesta fase pós-mundial. Penso que já o referi algumas vezes, mas volto a referir – mais do que um excelente treinador, Francisco Neto é um líder notável, capaz de unir um grupo de atletas em torno de objetivos comuns, e essa tem sido a sua receita para o sucesso!

Se houve um momento que nos marcou a todos, foi aquele Hino Nacional, cantado no primeiro jogo da fase de grupos. Eu chorei, a Tatiana e a Jéssica choraram, a nação sentiu a emoção do momento. Anos e anos de luta e perseverança, e o sonho estava ali, conquistado! Mas se o “sonho Mundial 2023” foi conquistado, o sonho de todas as meninas que praticam futebol ganhou uma nova intensidade, uma nova chama – é possível, e vai repetir-se muitas mais vezes!

Uma seleção que conquistou o mundo, mesmo sem conquistar o Campeonato do Mundo.  

A PRIMEIRA VIAGEM DE PORTUGAL NUM MUNDIAL

Por Cristiana Pina

Terminou a caminhada portuguesa no Campeonato do Mundo Feminino. A seleção nacional caiu aos pés da seleção, bicampeã mundial, os Estados Unidos, após desempenhar 90 minutos brilhantes e que podiam ter outro desfecho, caso a bola de Ana Capeta não tivesse desviado no poste nos minutos finais do jogo.

Na sua estreia na maior competição do mundo, a seleção nacional conquistou quatro pontos, e sofreu apenas um golo, em três jogos. Debateu-se de frente com cada um dos três adversários, e deixou uma imagem muito positiva de Portugal,e da qualidade da jogadora portuguesa. Mais do que o futebol que entusiasmou todos aqueles que se levantaram cedo para ver a equipa das quinas, o que ficou desta competição foi talento e a união das jogadoras; os passes da Andreia Jacinto, as fintas da Kika ou os cortes da Ana Borges.

A meu ver esta primeira participação foi muito positiva, e há muitas ilações a retirar; uma delas é que a nova geração demonstrou estar preparada para os mais altos desafios: a Andreia Jacinto, a Kika Nazareth, a Telma Encarnação foram três nomes que se afirmaram na competição, três jogadoras que são o presente e o futuro, nomes que se juntam a Inês Pereira, que ante as Estados Unidos demonstrou uma segurança vistosa na baliza. Ana Borges, Tatiana Pinto, Carole Costa ou Jéssica Silva são outras jogadoras que assumiram as rédeas do jogo, mesmo que trabalhando nas sombras.

Francisco Neto, não é um treinador consensual, apesar do trabalho que tem desempenhado ao longo dos anos na FPF. Não começou bem com a estratégia para o jogo inaugural com os Países Baixos, mas redimiu-se nos jogos seguintes; deixando de parte as táticas, achei bonito ter dado a oportunidade para que 22 das 23 jogadoras convocadas tivessem a oportunidade de se estrear na seleção.


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