Marta Vieira da Silva – a eterna G.O.A.T
Depois de um anunciado “abandono” da seleção brasileira, Marta optou por se manter e disputar uma última competição internacional – os Jogos Olímpicos, onde nunca conseguiu conquistar a medalha de ouro.
Contudo, o seu percurso nesta competição não foi o que idealizou – no último jogo da fase de grupos, após um lapso de abordagem num lance dividido com Olga Carmona, acaba expulsa e castigada por 2 jogos, o que resultou na sua ausência dos jogos dos quartos de final e meia-final. No entanto, a equipa brasileira não baixou os braços, e com um futebol de qualidade por vezes discutível, consegue qualificar-se para a final do torneio olímpico, ao eliminar a seleção espanhola, campeã do mundo em título, dando à sua maior estrela a oportunidade de se despedir dos jogos internacionais num dos maiores e mais prestigiosos palcos mundiais.
São já 24 anos de carreira profissional para Marta – iniciou o seu percurso profissional com 14 (!) anos de idade, no Vasco da Gama do Brasil, tendo-se estreado na seleção brasileira 2 anos depois. Em 2004, com apenas 18 anos, transferiu-se para o “outro lado do mundo”, para o Umeå IK da Suécia, e foi aí que começou a sobressair na Europa, e a tornar-se na lenda que hoje é. Após cinco anos na Suécia, seguiram-se três anos de volta às “américas”, durante os quais representou quatro clubes diferentes (Los Angeles Sol, clube que ajudou a conquistar o bicampeonato, Santos, que representou sempre por empréstimo, FC Gold Pride e New York Flash). Em 2012 voltou a fazer as malas, e regressou à Suécia, desta vez para representar o Tyresö FF, onde conquistou o campeonato logo na época de estreia, tendo também atingido a final da Liga dos Campeões Feminina, em 2014. Após falência do clube, em 2014, a atleta brasileira manteve-se na Suécia, mas ao serviço do FC Rosengård, onde se manteve durante 3 anos, tendo conquistado o bicampeonato, antes de regressar aos Estados Unidos, para representar a equipa do Orlando Pride, clube que representa e capitaneia até ao momento.
Certo é que surgiram e surgirão, certamente, jogadoras com mais qualidade do que Marta – o futebol evolui, proporciona mais condições, e as atletas vão evoluir também. Mas a classe, as capacidades de luta, de perseverança, o exemplo, a enorme qualidade e seriedade desta gigante atleta, permanecerão intocáveis. A sua influência na vida de milhares de meninas e mulheres ao longo de 24 anos de carreira, a sua capacidade de liderar pelo exemplo, de lutar pelos direitos das atletas femininas ao longo de diversas gerações, enfrentando diferentes desafios sociais, e de mostrar ao mundo que “o lugar da mulher é onde ela quiser”, será eterna, e permanecerá intocável, representando uma das mais bonitas páginas na história do futebol feminino internacional – se houve alguém que mostrou que era possível ser mulher e jogadora de futebol, que vale a pena lutar pelos nossos sonhos, essa pessoa foi Marta.
Uma das suas lutas e atitudes que mais me marcou, foi quando, em 2019, a internacional brasileira optou por não aceitar qualquer patrocínio de marcas como a Nike, Adidas ou Puma, e utilizar chuteiras “sem marca”, sem qualquer tipo de símbolo associado a marcas desportivas. Isto porque a disparidade das propostas de patrocínio apresentadas, face ao futebol masculino, eram, para si (e para todos nós) injustas e inadequadas – estamos a falar naquela que é, e será sempre, por muitos, considerada a melhor jogadora de futebol de sempre.
“Bola igual. Campo igual. Regras iguais. Se as mulheres jogam futebol da mesma forma que os homens, por que elas não recebem o devido reconhecimento? O devido apoio? A devida remuneração? Equidade é algo pelo qual devemos todas e todos lutar. Afinal, somos iguais. #GoEqual Pela equidade de gênero nos esportes” – foi assim que Marta justificou, e bem, a sua posição face às propostas de patrocínio que recebeu. Desde então, continua a utilizar chuteiras personalizadas, sem qualquer tipo de ligação ou identificação de marcas desportivas. Lutar pelos nossos direitos é algo que nunca devemos recear fazer, e a Marta é um dos maiores exemplos disso. Tem uma voz, usa-a, e luta por si e pelas muitas mulheres atletas deste mundo.
Seis vezes escolhida como a “melhor jogadora do mundo”, cinco delas de forma consecutiva – será algum dia igualada? Um mar de troféus e records, individuais e coletivos, que quando conjugados com todas as batalhas sociais por que lutou e conquistou (e continua a lutar), a tornam na verdadeira e eterna G.O.A.T. – Greatest of All Time!
22 anos, 190 jogos e 117 golos depois, despede-se da seleção nacional brasileira, deixando para trás um legado e uma história difíceis de superar, e completamente inapagáveis! Ao serviço da sua nação, conquistou 3 medalhas de prata em 6 (!) Jogos Olímpicos, 2 medalhas de ouros nos Jogos Pan-Americanos, e uma medalha de prata no Campeonato do Mundo de Futebol. O futebol internacional terá saudades tuas, Rainha Marta! Eu, certamente, vou ter!
“Chore no começo para sorrir no fim.” – Marta Vieira da Silva
Obrigada, Rainha! O teu legado é eterno!
Croix getting a photo with the legendary Marta 🥹
(Via @dudapavao) pic.twitter.com/B7349Jrymb
— Washington Spirit (@WashSpirit) August 10, 2024