Luís Suárez: o último romântico do futebol moderno

Matilde PinholJaneiro 31, 20233min0

Luís Suárez: o último romântico do futebol moderno

Matilde PinholJaneiro 31, 20233min0
Luis Suárez, por vezes associado à pior das polémicas, é um dos últimos grandes românticos do esférico e Matilde Pinhol conta a sua história

Na altura de pendurar as botas, muitos jogadores deixam-se seduzir pelas ligas norte-americana, saudita, japonesa, entre outras, para fazê-lo. São campeonatos de avultados investimentos onde a qualidade e competitividade entre clubes é, em geral, significativamente inferior à europeia. Com maior ou menor surpresa, nomes como Iniesta, Xavi, David Villa, Gareth Bale ou Cristiano Ronaldo optaram por este fim de carreira tão comum. Apesar de muitos astros escolherem fazê-lo, existem alguns que, fugindo à norma, rumam à América Latina: é o caso de Luís Suárez.

Suárez apresenta-se como uma das maiores referências na posição de ponta de lança da última década, deixando a sua marca no Ajax, Liverpool, Barcelona (onde jogou ao lado de Messi e Neymar, formando uma das frentes de ataque mais perigosas do futebol europeu) e Atlético de Madrid. Atualmente, veste a camisola do Grémio de Porto Alegre, tendo a sua estreia no Brasil ficado assinalada pelo hat-trick que marcou em 37 minutos no jogo da Recopa Gaúcha. No Gauchão soma já 2 golos, marcados ao Caxias do Sul e ao Brasil de Pelotas. Em entrevista à UOL Esporte, o uruguaio deixou claro ainda se sentir apto a jogar num grande clube da América, acreditando não necessitar de qualquer adaptação ao futebol brasileiro. Por enquanto, esta afirmação não poderia ser mais exata. A proximidade geográfica de Porto Alegre ao Uruguai pode também justificar a escolha do jogador. Apesar disso, não devemos ignorar o nível do futebol praticado no país, especialmente no que toca a individualidades.

Ainda antes de se juntar aos gaúchos, surgiu a oportunidade de regressar ao país natal. Depois de uma longa temporada em Espanha, ganhando a sua última La Liga com os colchoneros, voltou por cinco meses ao clube que o formou: o Nacional Montevideu. Numa transferência envolta em mística, chegou ao Nacional em julho de 2022. Era o regresso impensável do goleador da seleção, de um dos melhores exemplos daquilo que é o imenso talento exportado pelo Uruguai.

Para o propósito deste artigo, será importante referir que primeira divisão uruguaia tem uma lógica substancialmente diferente daquela que, à partida, esperaríamos. A competição está dividida em dois torneios, chamados de Apertura e Clausura. Ambos são compostos por 16 clubes, os quais jogam num sistema de todos contra todos. Em fase posterior, os campeões do Apertura e do Clausura entram em campo para uma espécie de semifinal. No caso, a semifinal de 2022 acabou por ser entre o Nacional e o Liverpool de Montevideu, numa partida disputada até ao final e com lugar para várias inquietações. Luís Suárez abriu o marcador aos 50 minutos, porém, não tardou para que o Liverpool empatasse com um golo de penálti. Já aos 96, o jogador bisou e fez o 1-2. Outros 2 golos do Nacional depois e, assim que o árbitro deu o apito final, havia-se tornado realidade: a equipa sagrava-se campeã, contribuindo o ponta de lança com 8 golos em 16 jogos.

Este parece-me o caso perfeito de um jogador que, após passar por vários tubarões europeus, não hesitou em regressar ao clube que lhe deu as bases necessárias para ascender a uma carreira invejável, alcançando o sonho de levantar a taça de campeão nacional pelo mesmo, contribuindo até ao último minuto. Pelo meio, foi igualmente capaz de consolidar o seu estatuto de galáctico junto dos adeptos, enchendo a vista e as medidas de todos os românticos do futebol como eu. Fica um jogador para a História.


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