Aí temos o Parma de volta aos grandes palcos, resistirá às adversidades?

Pedro CouñagoSetembro 12, 20189min0

Aí temos o Parma de volta aos grandes palcos, resistirá às adversidades?

Pedro CouñagoSetembro 12, 20189min0
Neste artigo, o Fair Play explora um pouco que foi a dramática situação do Parma, em contraste com o seu glorioso passado, o seu renascimento, as adversidades que existem e que fazem o clube estar em desvantagem nesta época e quem são as suas principais figuras.

Os clubes com história que vão tendo problemas do foro desportivo, financeiro ou administrativo vão sendo cada vez mais, o que tem provocado a extinção ou refundação de algumas equipas que já deram muito à Europa do futebol por simplesmente não terem condições para continuar ou porque precisam de um novo começo.

Quando tal acontece, a solução de alguns deles passa pela refundação do clube, que representando, na sua essência, tudo aquilo que o seu antigo era, acaba por ser o começo de um novo ciclo. O exemplo disso mesmo é o Parma, que já se denominou de diversas formas e que, em 2015, foi obrigado a declarar falência e a cair da primeira para a quarta divisão italiana, jogando nos campeonatos amadores.

A gloriosa história do Parma, e não num passado inteiramente longínquo

Hoje Parma Calcio 1913, com um novo emblema e com novos objetivos, a verdade é que vemos que a equipa do velhinho Ennio Tardini está de volta à Série A, protagonizando três subidas consecutivas em três anos, algo que só pode deixar felizes os adeptos mais atentos do futebol italiano. A sua ascensão no final dos anos 80 e início dos anos 90 levou a que o clube ganhasse muitos ávidos seguidores, e veja-se o palmarés do clube entre 1992 e 2002, que, inclusivamente, lhe trouxe os seus oito títulos verdadeiramente relevantes:

  • Vencedor da Taça de Itália em três ocasiões (1991/1992; 1998/1999; 2001/2002);
  • Vencedor da Taça UEFA em duas ocasiões (1994/1995; 1998/1999);
  • Vencedor da Taça das Taças (1992/1993);
  • Vencedor da Supertaça Italiana (1999/2000);
  • Vencedor da Supertaça Europeia (1992/1993).

Por aqui se vê o percurso impressionante de um clube em apenas dez anos, e tal transportou-se até ao fim da última década, em que o clube, não mais ganhando títulos, continuou a ser um clube respeitado, por onde muitas figuras de proa do futebol europeu passaram, como Buffon, Cannavaro, Thuram, Hernán Crespo (hoje vice presidente), Antonio Cassano ou o nosso bem português Fernando Couto.

A crise instalou-se, chegaram mudanças

Quando a crise então se abateu sobre o clube em 2015, com mais de 200 milhões de dívidas e o (não) encontro de um novo investidor, o clube ficou condenado, mas talvez possa ter sido o melhor que lhe poderia ter acontecido, em detrimento de uma morte lenta e que não mais permitiria ao clube reerguer-se.

Três anos findados, o clube está onde merece, e as mudanças têm-se notado. Primeiro que tudo, o clube é agora propriedade de Jiang Lizhang, chinês que veio conseguir aliviar a vertente financeira do clube e que lhe permite ter outros argumentos nesse prisma. Depois, convém dizer que não está lá o seu eterno capitão, o central italiano Alessandro Lucarelli, que tem mesmo de ser considerado como a alma do projeto e de um clube que mergulhou em crise. Desde 2013 até à época que agora terminou, esta autêntica lenda capitaneou a equipa nos piores anos da sua história, e, quando tudo rebentou em 2015, podia ter concluído a sua carreira de imediato ou continuado entre os grandes de Itália. No entanto, de imediato, Lucarelli se autopropôs a guiar a equipa de volta à Série A, e a verdade é que o conseguiu, pendurando assim as botas aos 40 anos.

Por aqui se percebe a paixão de Lucarelli pelo seu clube do coração, prometeu e cumpriu (Foto: Trivela)

Uma das figuras do clube trouxe um desafio adicional à tarefa do clube esta época

No entanto, nem tudo é um mar de rosas para o clube, visto que, ainda que o principal objetivo tenha sido cumprido (regresso à Série A), a sua permanência foi desde logo posta em causa devido a um caso de corrupção protagonizada pelo seu avançado Emanuele Calaiò, que enviou mensagens que indiciavam a jogadores adversários para “relaxarem” em jogos decisivos que poderiam reconduzir o Parma à Série A. Tal resultou na suspensão de uma das figuras da equipa de dois anos, no pagamento de 20 mil euros e ainda em cinco pontos negativos aquando do início do campeonato.

Ora, para uma época que já não se previa propriamente fácil, a verdade é que a tarefa está ainda mais dificultada, e se, no fim da época, o Parma resistir, será uma autêntica epopeia que começou há alguns anos e que acaba com um verdadeiro final feliz. O clube só pode ter objetivos modestos para esta temporada, visto que não tem também um plantel de “encher o olho”, que os olhos de todos estão em si para perceber se o caso da temporada passada foi apenas um percalço e se os mesmos erros cometidos não voltam a acontecer. Assim, é preciso dar um passo seguro de cada vez.

Assim, e analisando o início de época do Parma, percebemos que não é propriamente brilhante, sem vitórias e com apenas um empate em quatro jogos (frente à Udinese). Pior que isso, é a precoce eliminação frente ao Pisa no seu estádio. Por outro lado, o último jogo que o clube fez, com uma derrota por 2-1 frente à Juventus, deu algumas boas indicações que podem agora revelar-se de forma mais acentuada após a paragem para as seleções, que permite aos reforços entrosarem-se mais com a equipa e o ganho de rotinas de jogo.

As principais figuras da equipa

O jogo com a Juventus foi marcado pela estreia a titular de Gervinho logo com um golo. O extremo costa marfinense, hoje com 31 anos, será, em teoria, a principal figura da equipa, mas terá de se habituar a jogar a um nível mais baixo, moderando a sua conduta e ganhando índices físicos mais condizentes com aquele de uma grande liga europeia.

Veremos em que forma teremos Gervinho nesta época, é um jogador que tem tudo para ser a estrela da equipa (Foto: StadioTardini)

Outros nomes importantes da equipa são Luigi Sepe, guardião emprestado pelo Nápoles, Roberto Inglese e Jonathan Biabiany no ataque, Luca Rigoni e Alberto Grassi (este por enquanto lesionado) no meio campo e o português Bruno Alves na defesa, que é o capitão da equipa, substituindo o já mencionado Alessandro Lucarelli nessa missão.

São alguns nomes interessantes, alguns a curto prazo, como o português, visto que existe bastante experiência no plantel. Por outro lado, existe também uma mescla de jogadores bastante jovens que estão emprestados e que será curioso perceber até que ponto o Parma poderá continuar a contar com eles para além desta temporada que recentemente teve arranque.

Da equipa que transita para esta época destacamos Jacopo Dezi, centrocampista transalpino que tem boa capacidade de aparecer a finalizar e que consegue colocar os seus colegas em boa posição de o fazer. Hoje com 26 anos, este é um jogador que, em tempos, já foi promissor, sendo um antigo internacional sub 21. Não tendo alcançado o nível que se esperava, é um futebolista que se adapta a uma equipa do nível do Parma e que vai bem a tempo de dar um novo impulso à sua carreira.

No comando técnico está um alemão com pleno conhecimento do futebol italiano

No comando técnico da equipa segue Roberto D’Aversa, técnico de 43 anos que, desde Dezembro de 2016, guia os destinos da equipa, com reconhecido sucesso, alcançando as duas últimas subidas de divisão. É um treinador que tem muito conhecimento de como o futebol italiano funciona, nas mais diversas divisões. Jogou em clubes como a Sampdoria, Siena, Monza, Ternana, Treviso, Messina, Triestina e terminando pelo Virtus Lanciano em 2013, entre outros, tendo sido um verdadeiro turista dentro do país da bota. Ao todo, o técnico atuou por 14 clubes diferentes em Itália no curso da sua carreira de 19 anos, o que talvez lhe tenha permitido estudar as diferentes realidades que existem no país.

Roberto D’Aversa tem a confiança da direção e dos adeptos, veremos como a sua equipa se comporta agora, com novas responsabilidades (Foto: Stadium Astro)

A equipa desdobra-se num 4-3-3 teoricamente ofensivo, com alas que gostam de encarar o adversário e médios que gostam de chegar perto do avançado. Ainda assim, esta ideia de jogo, com os jogadores que D’Aversa tem, terá de ser aprimorada, pois a equipa tem sido algo vulnerável defensivamente, com seis golos sofridos em quatro jogos. A equipa tem potencial, joga numa tática que lhe permite disputar os jogos olhos nos olhos com o adversário, mas num campeonato tão competitivo como o italiano, com cada vez mais surpresas e equipas grandes a ficarem cada vez mais reforçadas, a equipa Gialloblù terá de se adaptar às necessidades que as ligas inferiores não trazem.

Mais que isso, terá de fazê-lo rápido de modo a conseguir recuperar o terreno perdido na secretaria e nestes primeiros jogos da época. A equipa tem certamente potencial para conseguir alcançar o seu objetivo, mas será preciso mais algum tempo para perceber até que ponto será mesmo realista afirmar que o Parma se conseguirá manter na Série A, algo que apenas se poderá concretizar com o destaque que os seus reforços se podem trazer e se os jogadores que já estavam no plantel elevam o seu nível.

Assim, resta a pergunta: teremos em maio um Parma inteiramente consolidado na Série A? Esperemos que o nosso português Bruno Alves consiga guiar este barco a bom porto.


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