A Udinese já não é o clube que foi em tempos, está à deriva na Série A
A Udinese tem sido dos clubes italianos que têm permanecido algo “debaixo dos radares”, mantendo-se na Série A há 24 anos consecutivos, mas a verdade é que o perigo de tal acabar num futuro a curto-médio prazo é real, e não é pelos sinais de alerta já não terem sido dados.
Desde 2013 que a equipa não faz melhor que o décimo terceiro lugar, e isto depois de duas épocas (2011/2012 e 2012/2013) em que a equipa fez um terceiro e um quinto lugar na Série A italiana. O clube de Udine, na primeira década do século, foi um dos mais regulares no campeonato, talvez sinónimo dos melhores anos de Antonio Di Natale, eterno capitão do clube, melhor marcador e jogador com mais jogos. No entanto, nos últimos 6 anos, a situação tem vindo a piorar de época para época.
A quantidade alucinante de trocas de treinadores nos últimos anos
Dentro do campo, os resultados não são consistentes, e talvez a principal razão seja, cada vez mais, a impaciência da direção face aos treinadores. Só nos últimos 3 anos e meio, Davide Nicola, o atual técnico da Udinese, é o 9º (!!) treinador da Udinese, sendo este um registo impensável para uma equipa que pretende recuperar o estatuto que já teve e que pretende consolidar-se como um valor seguro da Série A.
É completamente impossível a qualquer técnico conseguir conseguir potenciar totalmente os seus jogadores e os seus processos quando a média de tempo no banco de suplentes tem sido de 4/5 meses. Não há equipa que resista a trocas assim, e este é um problema bem real que se tem agravado pois os jogadores sentem falta de confiança nas suas capacidades de “segurar” qualquer que seja o treinador que esteja a comandá-los. A pressão que os técnicos têm ao comandar a equipa é muito maior e os resultados acabam por não aparecer.
Quase que se pode dizer que a Udinese acabou por virar um autêntico cemitério de treinadores, e quem sabe estes despedimentos consecutivos não levarão a um definitivo afundar do clube, visto que não existe uma identidade forte imposta por um líder na equipa.
Proprietário despreocupado, dizem os adeptos
O clube é propriedade de Giampaolo Pozzo, conhecido homem de negócios italiano, que é também o proprietário do Watford, clube da Premier League. Como tal, até têm sido bastantes os intercâmbios de jogadores entre os dois clubes, mas tal não é suficiente face ao plantel desequilibrado que a equipa vem apresentando nas últimas temporadas
Têm sido bastante recorrentes os relatos de um dono despreocupado com a situação do clube, relatos esses dados por adeptos do clube de Udine. Do lado destes adeptos, tem-se a perceção de que Pozzo está com mais atenção ao Watford e não à Udinese, muito por culpa da maior rentabilidade do clube inglês e pela maior sustentabilidade do projeto.
Já alguns diretores vieram desmentir esta visão dos adeptos, ao dizer que Pozzo tem toda uma equipa ao seu dispor para guiar os destinos da Udinese a bom porto, mas a divisão dentro das diferentes fações do clube, tanto a nível externo como interno, é bem real, e se o clube aspira a ter um futuro promissor, tem de conseguir mitigar estes problemas que acabam por afetar o clube depois nas competições em que se insere.
Plantel até tem algumas soluções, mas que têm estado aquém do exigível, tirando De Paul
O plantel não serve para mais do que lutar por um lugar a meio da tabela na Série A, algo que seria sempre o mínimo imposto à Udinese face ao seu histórico e face ao que representa em Itália, mas a verdade é que começam a faltar palavras para os fracos desempenhos da equipa e para a sua incapacidade de dar a volta ao texto, acontecendo isto talvez devido à falta de confiança, visto que a equipa perde muitos jogos pela margem mínima.
Essencialmente, nos dias de hoje, a equipa baseia-se em Rodrigo de Paul + 10, sendo este o elemento que poderá dar uma importante almofada financeira no futuro ao clube, falando-se do interesse do Inter e do Nápoles no criativo argentino. Em Udine, num local de menos exigência, encontrou o conforto de poder pegar na “batuta” da equipa, servindo Ignacio Pussetto e Kevin Lasagna, sendo que estes três jogadores representam 12 golos dos 18 (apenas 18!) marcados pela equipa em toda a Série A em 23 jogos, sendo o segundo pior ataque da prova. Só Rodrigo de Paul tem mão sua em metade dos golos da equipa, com 6 marcados e 3 assistidos. Mesmo assim, o argentino já esteve também em melhor forma, começando a ter algumas dificuldades face ao terrível momento da equipa, desde o fim de novembro que assim é, e isto a fazer quase sempre os 90 minutos.
A nível defensivo, a equipa até nem sofre uma quantidade anormal de golos (31), sendo apenas a nona pior defesa da Série A, algo que se pode justificar devido à imponência física no seu meio campo, com Mandragora e Fofana a serem jogadores que são fortes na proteção à sua defesa e que lhe conferem alguma confiança. Ainda assim, estes dois jogadores do centro do meio campo têm estado num nível aquém do exigível nos restantes momentos de jogo, sendo também por aí que a Udinese muito se ressente.
Este plantel é também uma autêntica sociedade das nações, com apenas 5 italianos em 26 jogadores, existindo uma falta de liderança evidente que jogadores como Antonio Di Natale e Giampiero Pinzi, por exemplo, traziam até há alguns anos. Pode-se afirmar que este tipo de jogadores seguravam os “arames” do plantel e, após a sua saída definitiva e a sua menor influência dentro de campo devido à idade, a Udinese ressentiu-se.
Os resultados e o percurso até maio indicam que deve haver alertas ligados em Udine
Esta foi uma equipa que até começou bem esta temporada, com 8 pontos ganhos nos primeiros 5 jogos, algo que fazia indiciar que poderíamos ter uma “temporada 0” no clube, uma espécie de reboot face àquilo que vem acontecido de forma sucessiva nos últimos anos.
Desde aí, apenas 11 pontos em 18 jogos, um registo absolutamente medonho para um clube como a Udinese. Em quase meia volta de campeonato, fazer apenas 11 pontos é simplesmente insuficiente para uma equipa com quaisquer objetivos reais.
É certo que muitas derrotas foram pela margem mínima (8 das 13 derrotas), mas mesmo assim não chega afirmar que “estivemos quase a conseguir, com outro treinador é que vai resultar”. O quase não chega e, num campeonato competitivo como o da Série A, a falta de ação e de luta por inverter os acontecimentos paga-se caro.
A equipa ainda não venceu este ano, vindo mal da paragem de inverno, este período que poderia trazer melhorias ao clube mas que parece que não foi bem aproveitado pelos jogadores e toda a restante estrutura para recarregar baterias e focar naquilo que é uma tarefa que se pensaria impensável há alguns anos.
O único ponto positivo dos últimos tempos
A única real melhoria nestes últimos anos terá sido o estádio, que é agora muito mais moderno face às necessidades do clube e que tem agora uma capacidade a rondar os 25 mil lugares. O Friuli é um estádio histórico que dura já desde 1976, tendo sido reestruturado para o Mundial de 1990 e, agora, melhorado, durante 2013 e 2015.
Este era um estádio que já estava a ser afetado pela passagem do tempo e, agora, é uma arena mais moderna, servindo agora os diferentes propósitos. Em média, a Udinese leva mais de 16 mil adeptos ao estádio, que não estarão, certamente, agradados com os desempenhos que a equipa lhes tem proporcionado, com apenas 12 pontos ganhos em 12 jogos nesta temporada em pleno Friuli.
Vejamos se em maio não teremos uma confirmação do momento complicado que o clube atravessa. Esperemos que tal não aconteça, pois a Udinese é um clube de tradição que merece mais.