Wolves não contratou um treinador, mas um projeto a longo prazo
Pedro Sousa é autor do projeto Bola na Relva e colaborador do Fair Play!
Quando se contrata um treinador, a direção do clube tem de saber bem o que pretende.
Tomo por exemplo o Wolverhampton de Nuno Espírito Santo. Quando o técnico decidiu abraçar o projeto dos lobos, já sabia o que queria implementar na equipa inglesa que, na altura da aquisição do treinador português, estava no Championship. Desde a contratação que a formação inglesa tem vindo a crescer e já são quase três anos a comprovar a teoria.
A base deste grande Wolves que temos assistido na Premier League e, este ano, na Liga Europa começou no segundo escalão inglês. A ideia começou a ser formada e resultou. As contratações foram acertadas para as ideias do técnico e Nuno Espirito Santo teve a tranquilidade e o investimento necessário para levar a equipa de regresso ao futebol inglês.
Olhando para as aquisições, na primeira época, observámos que o plano passava por construir a equipa com três defesas e com o meio campo a ser montado à volta de Rúben Neves, um jogador do conhecimento de NES, pois treinou-o no FC Porto. Misturar força com a velocidade, mas sem perder a criatividade foi uma ideia montada para conquistar o Championship. A mobilidade do ataque foi algo que acompanhou a equipa durante a época com Diogo Jota, outro jogador bem conhecido pelo treinador, a assumir protagonismo.
Os resultados da preparação
A equipa estava bem montada e, em alguns jogos, parecia intransponível. Durante a temporada, o Wolves conseguiu séries longas de triunfos. Contudo, na altura da contratação, o plano não era apenas para subir de divisão e lutar para não descer. Era para mais e isso foi comprovado na temporada seguinte.
Mais uma vez, Nuno exigiu alguns reforços específicos, para as suas ideias de jogo, e o “upgrade” feito fez catapultar os Wolves para a qualificação europeia na época de regressos à Premier League. Rúben Neves continuou a ser peça chave e teve a companhia de João Moutinho. Diogo Jota também ganhou um parceiro e Raul Jiménez passou a ser o goleador de serviço.
O trabalho que o mexicano fez, e continua a fazer, na frente de ataque, é crucial, mesmo sem perder a capacidade goleadora. Um jogador com carimbo Nuno Espírito Santo. Com exibições fortes e consistentes, mesmo frente aos top-6, o Wolves conseguiu o apuramento para a Liga Europa e, esta temporada, está a viver o maior desafio.
Esta época, e para termos uma ideia, a equipa inglesa já realizou mais de 40 jogos. Na temporada transata efetuou 46 partidas. Um desafio enorme e onde NES está a conseguir tirar dividendos. Com um arranque aos solavancos, os lobos endireitaram-se e estão mais estáveis. Sem mexer muito no plantel, o técnico português optou por trabalhar com aquilo que tem, apesar de ter recebido dois reforços importantes: Pedro Neto e Daniel Podence. Dois jogadores que são a cara do projeto Wolves e que veem acrescentar qualidade e impressibilidade ao ataque.
A maior surpresa: Adama Traoré
Contudo, quem cresceu mais nas mãos do técnico foi Adama Traoré. A viver a segunda época no clube, o espanhol evoluiu de certa fora que está a atingir patamares bastante elevados. Ganhou capacidade física, mas sem nunca perder o recorte técnico. É uma das pechas chaves o Wolves de Nuno Espírito Santo.
Uma equipa que começou a ser talhada para o sucesso há três anos e um projeto que tem pernas para andar.