Que importância têm os clubes pequenos?
Artigo de Opinião escrito por Guilherme Catarino
A paragem atual no futebol português (e não só) poderá ser importante em variados aspetos. Em primeira instância, num ponto de vista financeiro, face ao abalo económico que a sua suspensão trará para o(s) país(es) inevitavelmente, e, por outro lado, numa visão mais focada na prática desportiva que permitirá a tão requisitada reflexão no que concerne ao desnível evidente e cada vez mais desmedido entre os chamados “grandes” e “pequenos”.
Li e reli, com especial atenção, um recente artigo de um colega meu que focava o valente Estoril de Marco Silva que, no ano seguinte à promoção à primeira liga nacional consegue um soberbo 5º lugar e respetiva presença na agora Liga Europa. Ainda mais recente, o exemplo do Arouca que após o 5º lugar em 2015/2016 acaba por descer no ano seguinte, numa história repleta de controvérsia… E depois? Que histórias românticas temos de equipas valentes que pretendem entrar no mundo dos grandes? Este ano, talvez, o pasmoso(?) Famalicão de João Pedro Sousa. Que alegria nos trouxe este “Fama”, pelo futebol praticado e pela dedicação dos adeptos que seguem em massa o clube pelo país. Apesar desta recente lufada de ar fresco, não será por acaso que os contos de fadas se vêm esvaindo com o passar dos anos no nosso campeonato.
Esta magia que enche de qualidade, nomeadamente, a Premier League inglesa, considerada aliás por muitos como a melhor liga de futebol do mundo, ou recentemente a La Liga (embora que por razões diferentes) deve-se muito ao papel das equipas menores e à sua crença e vontade em subir ao reino dos grandes. De que modo, perguntar-se-ia? Sem dúvida que nas principais ligas esse reinado está mais mitigado pelo maior número de faculdades que possuem. Nomeadamente financeiras, claro.
A impotência das denominadas equipas pequenas dever-se-á muito ao foco dado aos 3 principais clubes, face à sua representação na Europa ou, localização (todas as 3 situadas nas duas principais metrópoles do país). E as restantes razões? Como adeptos, sabemos que o futebol não vive unicamente de causas monetárias, mas (essencialmente) da paixão e fervor de cada um pelo seu clube querido.
É com alguma pena que em Portugal vemos estádios num domingo à tarde despidos de público. Este ano na primeira divisão há 10 equipas do Norte, mormente devido à subida do Paços de Ferreira e do Famalicão. Os jogadores sentem isso, e admitem-no em variadas conferências. Não é igual jogar futebol com ou sem fãs, e este indeterminado período de paragem justificou (enquanto houve jogos) isso mesmo.
Numa recente conferência de imprensa, Pepa, após o desaire caseiro com o Benfica, questionado sobre a presença de 7 mil espetadores (em 9 mil) afetos ao clube lisboeta no estádio respondeu, e cito, “não há nada a fazer, basta olhar para o número de sócios do Paços, nós preferimos jogar com o estádio cheio”. Concordarei com Pepa no respeitante à preferência de um estádio cheio durante o jogo, porém, há bastante a fazer! Num concelho com cerca de 56 mil habitantes justificar-se-á tal poderio benfiquista nas bancadas?
Para concluir esta crónica atentarei nas palavras de Vítor Oliveira numa entrevista ao novo Canal 11 que, na minha humilde opinião, como experiente e estudioso da nossa realidade, muito de elucidativo traz ao futebol português. “A Primeira Liga está mais fraca. O campeonato continua competitivo, mas com um nível mais baixo. O nível exibicional das equipas médias é mais baixo do que era há uns anos, em que as equipas eram muito mais competitivas”. A ilusória aproximação entre equipas pequenas grandes resulta, como referi supra em relação à La Liga, de uma quebra dos habituais candidatos ao título e não de uma hipotética sobrevalorização das equipas pequenas. Será isto crónico? A pergunta cabe ser respondida pelos intervinientes…