O caso Jeremiah St. Juste

Ricardo João LopesSetembro 14, 20255min0

O caso Jeremiah St. Juste

Ricardo João LopesSetembro 14, 20255min0
Encostado à parede, Jeremiah St. Juste é um ponto de interrogação no Sporting Clube de Portugal como explica Ricardo João Lopes

Jeremiah St. Juste chegou ao Sporting carregado de algumas expectativas durante o verão de 2022. O central neerlandês tinha sido comprado ao Mainz por 10 milhões de euros e apresentava um perfil praticamente perfeito para jogar no sistema de três centrais, sendo bom com a bola no pé, extremamente rápido e com capacidade de atuar na ala direita, se necessário. Contudo, se o jogador fosse constituído somente por qualidades, dificilmente tinha trocado uma Big 5 por Portugal. O neerlandês já possuía um histórico de lesões e assustava a possibilidade que o mesmo tivesse continuidade por Alvalade. Ainda assim, Frederico Varandas decidiu arriscar.

Chegamos a 2025 e a aposta em Jeremiah St. Juste não saiu como o esperado, principalmente pelo fator das lesões. O neerlandês apresentou uma elevada qualidade dentro de campo e cumpriu com as expectativas sempre que chamado à ação, mas as lesões foram o seu maior inimigo. Numa fase em que o mundo do futebol pede cada vez mais dos jogadores, com vários clubes a contarem com mais de 60 encontros por temporada, o estado físico do atleta é cada vez mais importante e St. Juste não aguentou. Até ao momento, foram 80 partidas em três épocas, com o central a não conseguir atuar praticamente nenhuma vez em 90 minutos. Foram poucas as sequências de encontros seguidos do jogador, dado o seu estado.

Jeremiah St. Juste foi assim ultrapassado pela concorrência e transformou-se num ativo que certamente não iria dar retorno financeiro, nem dentro das quatro linhas. O verão de 2025 por Alvalade tinha várias metas e uma delas passava por vender o jogador. O central entrou no seu último ano de contrato e a partir de janeiro pode assinar por quem bem entender. Como é habitual em praticamente todas as situações, o Sporting desejou colocar o jogador, de maneira a recuperar um pouco do dinheiro que foi investido, sabendo-se de antemão que era impossível que chegassem a Lisboa propostas de 10 milhões de euros, o valor pago em 2022.

Passaram-se as semanas e os meses. Pouco se falou de Jeremiah St. Juste no mercado. Por vezes apareciam lembretes de que era para vender, mas propostas em si não existiram, ou pelo menos não saíram a público. A situação mudou com o aparecimento do Osasuna. Os espanhóis vivem uma nova fase com a chegada de Alessio Lisci ao comando técnico e viram o verão de 2025 como um mercado em que poderiam perder um dos seus craques: Boyomo. O emblema de Pamplona analisou o mercado e viu no neerlandês o sucessor ideal, pese as lesões existentes. Existiram negociações, acordo entre os dois clubes e Jeremiah St. Juste até foi ao país vizinho conhecer o Tajonar e o El Sadar. Contudo, não existiu acordo. Boyomo acabou por ficar e Braulio Vázquez, diretor desportivo do Osasuna, explicou que o pedido salarial do atleta do Sporting era difícil de suportar e que ultrapassaria o estipulado pelos espanhóis, cujo teto salarial está reservado para membros considerados como fundamentais para o plantel.

Jeremiah St. Juste também foi associado a um regresso à Alemanha pelas portas de Union Berlin e Wolfsburgo. Nada aconteceu e o caos apareceu. O Sporting decidiu despromover o jogador à equipa B, já que, de acordo com Frederico Varandas, é o quinto central.

Antes da justificação do presidente do Sporting, Jeremiah St. Juste emitiu um comunicado a criticar a decisão da direção, mas que a iria respeitar, algo que foi alvo de resposta do emblema de Alvalade, afirmando que o jogador estaria a par de todo o processo e que não deixaria de entrar totalmente nas contas de Rui Borges, já que estava inscrito na Champions League.

Há que ter o mínimo de seriedade a analisar o tema. Nenhuma das partes cedeu e a corda rebentou. O Sporting queria ter vendido o jogador no mercado de verão, devido ao seu elevado salário e pouca utilização. Jeremiah St. Juste apenas estava disposto a rumar a um emblema que lhe proporcionasse o que o próprio desejava. A situação não é tão complexa como aparenta e nenhum dos lados tem 100% de razão. E as duas partes saíram a perder deste conflito.

O conjunto de Alvalade vai ter que pagar mais um ano de ordenados a Jeremiah S. Juste (3,2 milhões de euros) e o central vai estar uma temporada relegado a uma equipa da Segunda Liga e a probabilidade de ser utilizado por João Gião também é diminuta, já que Bruno Ramos e João Muniz são as apostas para o futuro.

Apenas existem duas soluções para este caso, descarando por completo a promoção do atleta para a equipa A, já que isso não vai acontecer, dados os acontecimentos passados entre as duas partes e o histórico no Sporting de exemplos como este.

Existem mercados que ainda estão abertos. Uma das soluções é Jeremiah St. Juste aceitar rumar a um país periférico, tal como a Turquia ou a Arábia Saudita, onde poderá manter o seu salário, mas certamente desaparecerá do radar dos clubes das Big 5. É igualmente uma maneira do Sporting colocar o jogador e do central não estar tanto tempo sem jogar.

A outra solução é nenhuma das partes se mexer e continuar tudo como está. Não agrada a ninguém, mas também ninguém cede. A partir de janeiro Jeremiah St. Juste estará livre para decidir o seu futuro. Certo é que os emblemas vão olhar para ele como um ativo parado e sem competição desde o final de 2024/25, ao mesmo tempo que o Sporting verá 3,2 milhões de euros a saírem-lhe da conta por um jogador não será utilizado por Rui Borges durante um minuto esta época.

O mercado do Sporting esteve longe de ser brilhante e o caso Jeremiah St. Juste é a cereja no topo do bolo para os defensores desta ideia. A missão de colocar o neerlandês não seria simples, mas todo este caso era desnecessário.


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