Como se supera Rúben Amorim?

Ricardo LopesAbril 23, 20245min0

Como se supera Rúben Amorim?

Ricardo LopesAbril 23, 20245min0
Rúben Amorim poderá estar de saída para Inglaterra e Ricardo Lopes olha para o que poderá se vir a passar no reino do Leão

Rúben Amorim deverá deixar o Sporting ao fim de quatro temporadas (e uns pozinhos), com várias propostas a terem sido realizadas. O emblema da Alvalade é, hoje em dia, uma instituição completamente distinta da de 2020, quando o antigo médio sucedeu a Jorge Silas no comando técnico dos leões. Parece que foi há um século a invasão de Alcochete e toda a instabilidade que se viveu após esse terrível momento. Contudo, é o bom trabalho de Rúben Amorim que faz com que essas memórias pareçam tão distantes.

Frederico Varandas e Hugo Viana vivem total estabilidade nos seus cargos, igualmente pelos resultados que o Sporting tem obtido, nas mãos do ex- Benfica. Possivelmente, se o presidente do Sporting não tivesse gasto 15 milhões de euros no treinador, para o retirar do Municipal de Braga, já não estaria no cargo. Rúben Amorim conseguiu unir os sportinguistas de todos os blocos, quando a instituição é sobejamente conhecida por ter adeptos extremistas e de pouca paciência, famintos pela rebeldia e pela crítica ao grande rival de Lisboa. Com Amorim, somente se olhou para dentro, não se estabeleceram grandes comparações. Mesmo quando as derrotas apareceram, o seu cargo nunca esteve posto em causa.

A vida no Campo Grande é cor de rosa e a conquista do campeonato está a um pequeno passo. Porém, já sabemos que estas histórias maravilhosas têm um fim. No futebol quiçá o exemplo mais ilustrativo é o do Manchester United. Sir Alex Ferguson trocou o banco pela bancada em 2013 e os red devils ainda não conseguiram recuperar dessa perda, mais de 10 anos depois.

Rúben Amorim não tem a longevidade do escocês, mas a sua importância é fundamental em Alcochete e os adeptos estão a tremer de medo porque o seu ídolo se vai embora. Não se trata de uma questão de dinheiro. Frederico Varandas poderia dobrar-lhe o salário, mas o treinador quer evoluir na carreira e está no timing ideal para o fazer.

A questão é: como superar Rúben Amorim? Para alguns adeptos vai ser mais difícil do que ultrapassar um amor antigo, para outros, a chama da revolução e das críticas a Frederico Varandas vai voltar a aparecer. É certo que alguns “maluquinhos” do Twitter e do Facebook vão voltar a aparecer.

A verdade é que não se ultrapassará esta questão de um dia para o outro. Os sócios e aficionados terão que entender algo fundamental, que os adeptos do Benfica também nunca conseguiram compreender (daí os treinadores durarem pouco na Luz): não se pode ganhar sempre, nem se consegue jogar sempre com qualidade cinco estrelas.

O Sporting é considerado um dos Três Grandes, mas é o que tem ganho menos nas últimas décadas, no que diz respeito ao futebol. Em certos casos, o mesmo advém de más escolhas de treinadores. Os adeptos devem dar tempo ao sucessor de Rúben Amorim para implementar o seu estilo, mesmo que existam duas ou três ou quatro derrotas durante este percurso. Até pode existir um erro de casting. Não se pode é colocar todo um projeto em causa por causa de uma aposta falhada. Um nome interno (Carlos Fernandes) atenuaria esta situação? Não sabemos, é uma questão de arriscar. Rúben Amorim foi um risco, na altura.

Outro ponto fundamental de compreensão é que não há duas pessoas iguais. Rúben Amorim tem uma capacidade quase única de saber falar com as pessoas, entender o que elas querem, adaptar o discurso para quem o está a ouvir. Tudo isto de uma forma descontraída e descomplexa, em certos momentos a roçar o “gozão”, sem qualquer tipo de maldade. Quem vier a seguir, não terá o mesmo efeito, mesmo que seja José Mourinho ou Pep Guardiola.

A dependência de um projeto num só elemento acaba por representar um problema, mais tarde ou mais cedo. Tudo está bem quando ele está connosco, tudo está mal, quando ele se vai embora. Isto não acontece apenas num clube de futebol, mas no seu geral. É fundamental que a estrutura apresente trabalho e que demonstre o que aprendeu nos últimos quatro anos, de modo a que este “tremor de terra” não destrua todo o trabalho que foi concretizado. É um trabalho gradual, mas que vai exigir o máximo de todos. Se existe alguém no Sporting que sente que não é capaz de ultrapassar esta problemática, ainda vai a tempo de se ir embora.

Para alguns olhos, a saída de Rúben Amorim vai-se traduzir num regresso ao passado, com o Sporting a lutar pelo quarto lugar e a perder com equipas longínquas, como o Skenderbeu. Porém, pode não significar isso. Terá que se olhar para um contexto de evolução, não de regressão. O antigo médio vai embora, mas terá que ser substituído. Há que encarar que ele é apenas uma peça de um puzzle e não todo o conjunto. Quando um projeto não consegue seguir em frente por causa de um treinador, é porque a direção está a dormir e parece-me que Frederico Varandas esteve bem acordado nos últimos anos.

Algo é certo. O Sporting de hoje não é o mesmo. Todos sabemos como é difícil uma equipa como a de Alvalade mudar tanto em tão poucos anos, já que a mesma estava presa a certos vícios. Só isto faz com que Rúben Amorim seja especial. É insubstituível? Ninguém o é, se as coisas forem bem-feitas.


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