Analisando…Marcos Acuña
Foi graças à excelente temporada realizada no Racing Club de Avellaneda (7 golos e 8 assistências em 21 jogos no campeonato argentino) que Marcos Acuña captou o interesse do Sporting. O ala esquerdo argentino foi um dos principais investimentos dos “leões” para esta temporada, tendo custado quase 10M€ aos cofres do clube de Alvalade, que esperam ter encontrado em Acuña um jogador que consiga “equilibrar” a balança do rendimento entre as duas alas leoninas, dada a grande qualidade apresentada por Gelson Martins, no flanco direito.
Formado no Ferro Carril, modesto clube de Buenos Aires, chega ao Racing em 2014, por cerca de meio milhão de euros. Lá, e ao longo de três temporadas, assume-se como uma referência da equipa de Avellaneda, bem como da sua “afición”. Aponta 15 golos e 21 assistências em 93 jogos pelo clube, e as várias exibições de grande gabarito em 2016/2017 valem-lhe a estreia pela selecção A argentina, a 16 de Novembro de 2016, frente à Colômbia. Apontado por uma parte substancial da imprensa como o melhor jogador do campeonato argentino na temporada transacta, Acuña chega ao Sporting muito bem cotado, e com a responsabilidade de ser um impulsionador do ataque leonino.
O início do percurso no Sporting
Será, talvez, ainda cedo para se poder fazer uma boa avaliação do valor de Acuña no Sporting. Com 8 jogos oficiais disputados, distribuído entre a liga e a UEFA Champions League, o argentino conta já com 5 assistências, conseguidas maioritariamente através da cobrança de bolas paradas. Esse é, de resto e de forma clara, um dos seus pontos fortes. O pé esquerdo de Acuña é extremamente potente e preciso, e a regularidade qualitativa que apresenta nesse aspecto e em alguns outros aspectos técnicos (como o cruzamento, por exemplo) é digna de destaque.
Consistência é, no fundo, o adjectivo que melhor define o jogador. Não se esperam de Acuña lances de pura magia. Não é um criativo. Não é o tipo de jogador que descobrirá uma linha de passe quando mais ninguém o consegue fazer, e que rasgue toda uma defesa. Não é também o tipo de jogador que “vá para cima”, no 1×1 ou 1×2, e que consiga tirar os defesas do caminho com frequência. Antes, é um jogador com uma qualidade bastante razoável na generalidade dos aspectos do jogo. Dono de uma meia distância poderosa, destaca-se também pela verticalidade que possui. Sempre que possível, o seu objectivo é fazer a bola chegar rapidamente à baliza adversária. Esta característica, de resto, afecta um pouco a sua tomada de decisão por vezes.
Outra das suas qualidades é a forma como utiliza as suas capacidades físicas para guardar a bola e levar a melhor sobre os seus adversários. Fortíssimo no choque e nas bolas divididas, é frequente vê-lo sobre a ala esquerda, protegendo a bola com o corpo e atraindo o contacto com o defesa, apenas para depois levar a melhor e conseguir ganhar a linha de fundo. Acuña é, nesse aspecto específico, um extremo “à antiga”. Actuando na esquerda, o seu principal objectivo é criar boas condições para poder utilizar a sua qualidade no cruzamento, de forma a servir os avançados. No entanto, o argentino também pode actuar sobre a ala direita (como fez várias vezes no Racing, e já muito recentemente na selecção argentina). Partindo desse flanco, a possibilidade de cortar para dentro e poder demonstrar os seus atributos ao nível do passe e da visão de jogo é maior, bem como a possibilidade de dar outro uso ao seu portentoso remate. Uma opção ainda não vista no Sporting, mas que poderá ser uma variável muito útil para a equipa comandada por Jorge Jesus, ao longo da temporada.
A única questão mais problemática aqui será a forma como a sua condição física é gerida pelo treinador. Derivado do facto de estar a jogar praticamente de 3 em 3 dias – contabilizando os jogos realizados entre o Sporting e a selecção A argentina –, o cansaço foi já visível no último par de jogos de Acuña pelos “leões”. Também pela forma incansável como trabalha em campo, é do senso comum afirmar-se que uma boa gestão neste capítulo será decisiva para a qualidade do seu rendimento.
O futuro
Face aos primeiros sinais positivos dados pelo jogador, e a uma adaptação que aparenta estar a ser feita de forma rápida, é provável que o rendimento de Acuña continue numa toada de crescimento. O perfil do argentino enquadra-se bem naquilo que são os princípios basilares de jogo de Jorge Jesus, e o técnico já demonstrou possuir total confiança no jogador, tendo-o utilizado como titular em todas as partidas oficiais do Sporting, sendo que só em três delas Acuña não cumpriu os 90 minutos. Uma prova clara da importância que Jesus dá às qualidades que o atleta traz para o jogo.
Tal como referido anteriormente, há que perceber ainda como será gerido o jogador do ponto de vista físico, dado que este trabalha imenso sem bola durante os 90 minuto, aspecto que pode afectar de forma significativa o seu rendimento numa série mais prolongada e concentrada de jogos. No entanto, o plantel leonino possui actualmente soluções que permitem ao treinador, eventualmente, poupar Acuña em jogos mais acessíveis no plano teórico.
Inserido num modelo de jogo como o do Sporting, que o pode potenciar da melhor forma, e plenamente adaptado ao futebol português, é de esperar que Acuña venha a repetir muitos destes pormenores de qualidade, demonstrados ao serviço do Racing: