Selecção de Portugal: os problemas para o futuro das Quinas

Francisco IsaacOutubro 6, 20218min0

Selecção de Portugal: os problemas para o futuro das Quinas

Francisco IsaacOutubro 6, 20218min0
Que futuro para a posição de central, trinco e avançado na selecção portuguesa? Oferecemos dúvidas e respostas sobre o que se segue para Portugal

Os próximos 12 meses serão não serão só decisivos no que toca chegar e lutar pelo Campeonato do Mundo, como de iniciar um processo de renovação profundo da seleção, já que algumas das referências deverão abandonar a carreira internacional, depois de quase duas décadas (em pelo menos um par de casos) de serviço a Portugal.

Pepe, José Fonte, João Moutinho e, talvez, Cristiano Ronaldo poderão estar a caminho de encerrar o seu caminho ao serviço de Portugal, sendo que Fernando Santos também deverá fechar o seu ciclo como seleccionador (felicidade para uns, para outros nem tanto), forçando a ascensão de novos jogadores a uma dimensão de maior importância e intervenção. Olhando só para os jogadores que foram alvo de convocatórias nos últimos 4 anos, estas são as nossas propostas para os lugares que poderão ficar vacantes nos próximos tempos.

Domingos Duarte, Gonçalo Inácio ou Danilo Pereira?

Rúben Dias será o grande patrão do eixo defensivo de Portugal para a próxima década (senão mais), ficando a dúvida de quem fará parelha com o jogador do Manchester City. Três nomes podem estar hipoteticamente na calha, tendo os três argumentos a favor e contra… Comecemos por Danilo Pereira, que não sendo um central de base ou que tenha rodado muito nessa posição, tem sido visto como uma potencial solução muito devido à saída com bola segura, excelente tempo de reação e capacidade de desmontar um processo ofensivo contrário, capaz de aguentar o choque físico e que ainda tem o condão de surgir bem dentro da área, para além de não tremer com a bola nos pés. Porém, a falta de rodagem como defesa-central – tanto por Portugal ou PSG – é o maior senão desta aposta, sendo necessário que o antigo médio do FC Porto consiga jogar nessa posição no clube (já foi utilizado no PSG de Tuchel como central, mas Pochettino voltou a colocá-lo como trinco) ou seja capaz de se adaptar rapidamente em cada nova janela internacional de seleções.

Já Domingos Duarte pode ser uma opção interessante, tanto porque é um defesa-centro de raiz que tem sido elogiado pelas suas exibições na La Liga, como pela cultural táctica e técnica denotada, caprichado no poder de absorção de antecipação, velocidade de movimentos, limitação das acções dos adversários junto ao corredor (de fora para dentro) e jogo aéreo. A dúvida é se o central, que passou por Alvalade, tem o nível para disputar jogos de maior dificuldade e se combinará bem com as qualidades de Ruben Dias. Por fim, Gonçalo Inácio, nova coqueluche do futebol leonino e português, pode ser o nome que figurará a longo-prazo nas escolhas dos futuros seleccionadores portugueses, desde que mantenha a curva ascendente que tem apresentado desde a sua estreia pelo Sporting CP.

É um dos centrais jovens mais sofisticados dos últimos anos, munido de um talento inato e de um perfil técnico muito diferente dos vários centrais portugueses, seja pela capacidade técnica (passes de alto corte e costura, facilidade em sair rápido da sua zona e dar início a uma fase de ataque dinâmica), táctica (leitura do bloco contrário é acima da média, percebendo rapidamente como se mexem as unidades adversárias) e física (não parecendo ser um portento físico, ganha a maioria dos duelos), possuindo qualidades que farão a diferença na forma de processar o jogo entre a defesa e o meio-campo de Portugal. O único problema é a inexperiência internacional, o que forçará uma ascensão em contrarrelógio, ficando o jovem central debaixo de uma pressão extrema, mas que poderá definir a sua carreira no futebol mundial.

Outras opções: Diogo Leite; Diogo Queirós;

João Palhinha ou Rúben Neves?

Parecendo que não, João Palhinha já leva vantagem sob Rúben Neves nesta luta por Portugal, depois de ter surgido em força no último Campeonato da Europa e continuar a reforçar o seu estatuto nesta caminhada para o Mundial, com o seu colega do Wolves a não desistir da luta, como vincou naquela excelente exibição frente ao Catar e Azerbaijão (2ª parte). A discussão aqui prende-se com a proposta de jogo do futuro da seleção, com ambos a terem qualidades muito similares, e outras que os dividem. Quais? Bem, João Palhinha é um trinco mais intenso, capaz de reagir mais rápido à perda de bola e rapidamente a retomar da posse do adversário, para dar sequência a uma jogada de perigo, imprimindo uma velocidade minimamente impactante.

Rúben Neves consegue ter mais presença junto do último terço do terreno, figurando-se como uma ameaça tanto no criar de tabelamentos com outros médios e/ou avançados, ou o próprio testar o guarda-redes adversário, fruto de um remate de longa distância bem calibrado. Sabem jogar em profundidade, conseguem mudar de flanco com destreza e genialidade e também sabem ambos avaliar os riscos que o bloco opositor pode provocar. Contudo, e apesar dessas aproximações/diferenças, o médio do Sporting CP tem uma componente física que não é só talhada pelo poder de bloquear o ataque contrário, como sabe quando colocar o pé e garantir um jogo mais limpo, apesar de parecer um trinco “duro” na sua aproximação. Poderá até se dar o caso de jogarem juntos, o que seria um meio-campo inicialmente mais conservador, mas que na realidade teria a potência para criar constantes combinações de passe de alto requinte e imbuídas de classe.

Outras opções: Sérgio Oliveira; Xeka; Florentino;

Rafael Leão ou André Silva… Ou Pedro Gonçalves?

Uma categoria que pode gerar maior tráfego de discussão, muito devido ao facto da possibilidade do ataque nem sequer conter nenhum destes dois avançados, optando só por encaixar João Félix entre Diogo Jota e Bernardo Silva, passando a seleção a jogar sem uma referência de aérea ou de uma unidade de maior produção de golos, um cenário nada impossível olhando bem para o leque de opções disponível. Mas tentemos arguir em prol de André Silva e Rafael Leão, dois dos melhores produtos no que concerne ao eixo mais avançado do ataque.

Comecemos pelo jogador do RB Leipzig, um ponta de lança de bela qualidade que mostrou em Frankfurt o seu verdadeiro potencial, somando 33 golos ao longo de uma temporada numa Big-5, número alcançado só por Cristiano Ronaldo, o que demonstra o seu calibre enquanto finalizador. Por outro lado, André Silva trabalha bem fora da área, conjugando bem tabelas e circuitos de passe, o que oferece outra mobilidade e agilidade ao sistema de ataque e, também, no pós recuperar rápida da posse de bola.

Ágil, inteligente e flexível na movimentação corpórea, André Silva é um ponta-de-lança participativo e fadado para equipas que procuram tomar a iniciativa e partir para cima do adversário, sendo que um dos poucos pontos negativos do ex-FC Porto é passar ao lado do jogo quando se regista um domínio do bloco contrário. Já Rafael Leão não é um goleador puro, mas oferece verticalidade ao jogo, rodando bem nas extremidades, o que propensa a gerar dinâmicas diferentes na estratégia para o ataque, com isto a submeter uma pressão diferente no bloco defensivo adversário. Postula outra qualidade na saída de jogo, capaz de ser ele o protagonista em situações de contra-ataque e de forçar um estado de alerta geral nos seus marcadores directos, algo que pode funcionar bem quando alinhado entre Jota e Bernardo Silva. A questão é a tal falta de veia goleadora (vai com 8 jogos e 4 golos pelo AC Milan esta época, tendo só concretizado 7 golos na temporada anterior) que pode ser um factor decisivo na sua inclusão no contexto de Portugal.

Por fim, há Pedro Gonçalves, um dos maestros do Sporting CP de Rúben Amorim, que tem adornado a sua passagem pelo campeão nacional de 2020/2021 com golos, assistências, virtuosismo, capacidade de fazer a diferença e de se sobressair quando tudo parece mais difícil. Sim, é um médio que foi transformado em algo diferente, quase como um segundo avançado com ordens para andar mais solto, forçando um maior desgaste físico ao jogador mas que garante outra dimensão de soluções ofensivas, atribuindo um cariz mais ilegível ao processo de jogo, isto aos olhos do adversário, já que “Pote” pode aparecer tanto como construtor de jogo, finalizador junto à área ou de assistente em tabela, imbuído então num cariz de maior imprevisibilidade. Este elemento define o melhor marcador da Primeira Liga da temporada passada e pode ser o veículo que poderá o conduzir a outro patamar por Portugal.

Outras opções: Beto; João Félix;


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