Quantos Jogos Constroem um Campeão?

Francisco da SilvaMarço 30, 20186min0

Quantos Jogos Constroem um Campeão?

Francisco da SilvaMarço 30, 20186min0
Neste artigo da rubrica "Futebol Científico", abordamos a relação e os impactos da cadência dos encontros no sucesso desportivo dos “três grandes”, nomeadamente, na determinação do campeão nacional.

Ao longo dos últimos anos, os adeptos têm sido bombardeados com variadíssimas novas máximas do futebol, sobretudo, alimentadas para justificar fracassos, esconder responsáveis e renovar anualmente a esperança dos aficionados na conquista do campeonato nacional.

Uma das novas “verdades universais” que diversos técnicos nacionais têm anunciado é que “para poderem lutar em todas as competições têm que ter um plantel longo à sua disposição”, nesse sentido, face às restrições financeiras dos clubes que os obrigam a ter plantéis redimensionados, o importante para os emblemas nacionais é apostarem todas as fichas no campeonato português, caso contrário, o número elevado de jogos e a presença em múltiplas competições podem comprometer o objetivo principal.

Ora, com base nesta última premissa, decidimos averiguar até que ponto o número elevado de jogos ao longo de uma temporada se traduz em mais ou menos troféus conquistados ao longo das últimas três temporadas – 2014/2015, 2015/2016 e 2016/2017. Para a nossa análise excluímos o jogo da Supertaça Cândido de Oliveira para cada temporada pois, além de ser um troféu referente ao ano anterior, realiza-se quase em “clima de pré-época”.

As tabelas que iremos analisar têm em conta o número de partidas para o Campeonato Nacional (LP), para a Taça de Portugal (TP), para a Taça da Liga (TL) e para as provas europeias (PE). Sombreado a verde encontra-se a competição que o clube em questão venceu na respetiva temporada.

Posto isto, avançamos para o primeiro momento de análise, temporada 2014/2015, onde os “três grandes” realizaram o seguinte número de jogos:

Número de encontros disputados em 2014/2015

Como podemos ver na tabela acima, o Sporting CP foi a equipa que realizou o maior número de jogos, tendo conquistado nessa época a Taça de Portugal frente ao Sporting de Braga. A segunda equipa com mais jogos disputados foi o FC Porto fruto de uma campanha europeia mais prolongada (com pré-eliminatória e chegada aos Quartos de Final da Champions), no entanto, o emblema azul e branco não conquistou qualquer título em 2014/2015. Por fim, o SL Benfica foi a formação com o menor número de jogos, porém, reclamou para si dois troféus importantes, o Campeonato e a Taça da Liga. De facto, o clube lisboeta orientado na altura por Jorge Jesus acabou a época com menos 4 encontros disputados que o FC Porto de Julen Lopetegui e menos 5 que o Sporting CP de Marco Silva. Em suma, nesta primeira análise a equipa com menos jogos disputados foi simultaneamente a equipa com mais troféus conquistados, corroborando em primeira instância o argumento de alguns técnicos nacionais.

De seguida, a temporada 2015/2016 dá-nos um novo paradigma como podemos verificar abaixo:

Número de encontros disputados em 2015/2016

A formação com menor número de jogos, Sporting CP de Jorge Jesus, e o emblema com mais encontros disputados, FC Porto, acabaram por não conquistar qualquer troféu nesta época, ao contrário do SL Benfica que voltou a vencer o Campeonato e a Taça da Liga. Nesta temporada os clubes em análise até cumpriram quase o mesmo número de jogos, contudo, aplicou-se a velha máxima de que “no meio é que está a virtude”, não agradando nem a gregos nem a troianos.

A última época em análise relança novamente o debate e adiciona ainda mais entropia à discussão:

Número de encontros disputados em 2016/2017

Como podemos comprovar acima, o SL Benfica foi a equipa com mais jogos disputados em 2016/2017, com alguma distância para o FC Porto que realizou menos 4 jogos e para o Sporting CP que disputou menos 6 encontros. Apesar do maior número de partidas, a formação encarnada venceu o Campeonato e a Taça de Portugal, ao contrário dos seus principais rivais que voltaram a ficar em branco nesta temporada. Assim sendo, a época 2016/2017 leva-nos a um paradigma completamente distinto em que a equipa que supostamente devia de estar mais cansada, é simultaneamente aquela que consegue conquistar um maior número de troféus.

O resultados das 3 análises é tão ambíguo como curioso, ao ponto de permitir aos mais céticos continuar a defender que “o maior número de jogos é prejudicial”, como dá também abertura para que muitos outros defendam que não é de todo o número de partidas disputadas que determina o número de conquistas celebradas.

Será que a temporada atual vai desempatar?

Após uma análise inconclusiva às 3 épocas desportivas anteriores, talvez a presente temporada nos permita obter mais informações sobre os impactos da cadência dos encontros no sucesso desportivo dos “três grandes”, nesse sentido, até ao momento o Sporting CP, FC Porto e SL Benfica disputaram os seguintes encontros:

Número de encontros disputados em 2017/2018

A equipa com mais jogos nas pernas é o Sporting CP com 49, mais 5 partidas que o FC Porto e mais 10 partidas que o SL Benfica, especialmente devido à participação leonina nas provas europeias e ao insucesso do emblema encarnado na Taça de Portugal e na Taça da Liga. Também na presente época o clube com mais encontros disputados é aquele que até ao momento tem algum título conquistado (vitória do Sporting CP na Taça da Liga), sendo que a formação orientada por Jorge Jesus encontra-se ainda nas meias-finais da Taça de Portugal, nos quartos de final da Liga Europa e na luta pelo título nacional.

Com uma vantagem tão grande em matéria de jogos disputados, seria extremamente irónico se o técnico que há um par de anos achava plausível ser precocemente eliminado de algumas competições para que a sua equipa se focasse exclusivamente na luta pelo campeonato vencesse mais do que um troféu na presente temporada. Com ainda muitos encontros por disputar em diferentes competições, o destino dos “três grandes” está longe de estar traçado mas tudo se pode definir nos pormenores. A partir de agora, veremos como os jogadores irão reagir ao acumular de encontros, como os técnicos irão lidar com eventuais desaires e como os dirigentes desportivos irão utilizar o dom da palavra para terceirizar o ónus do seu insucesso desportivo.


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