Quantos Jogos Constroem um Campeão?
Ao longo dos últimos anos, os adeptos têm sido bombardeados com variadíssimas novas máximas do futebol, sobretudo, alimentadas para justificar fracassos, esconder responsáveis e renovar anualmente a esperança dos aficionados na conquista do campeonato nacional.
Uma das novas “verdades universais” que diversos técnicos nacionais têm anunciado é que “para poderem lutar em todas as competições têm que ter um plantel longo à sua disposição”, nesse sentido, face às restrições financeiras dos clubes que os obrigam a ter plantéis redimensionados, o importante para os emblemas nacionais é apostarem todas as fichas no campeonato português, caso contrário, o número elevado de jogos e a presença em múltiplas competições podem comprometer o objetivo principal.
Ora, com base nesta última premissa, decidimos averiguar até que ponto o número elevado de jogos ao longo de uma temporada se traduz em mais ou menos troféus conquistados ao longo das últimas três temporadas – 2014/2015, 2015/2016 e 2016/2017. Para a nossa análise excluímos o jogo da Supertaça Cândido de Oliveira para cada temporada pois, além de ser um troféu referente ao ano anterior, realiza-se quase em “clima de pré-época”.
As tabelas que iremos analisar têm em conta o número de partidas para o Campeonato Nacional (LP), para a Taça de Portugal (TP), para a Taça da Liga (TL) e para as provas europeias (PE). Sombreado a verde encontra-se a competição que o clube em questão venceu na respetiva temporada.
Posto isto, avançamos para o primeiro momento de análise, temporada 2014/2015, onde os “três grandes” realizaram o seguinte número de jogos:
Como podemos ver na tabela acima, o Sporting CP foi a equipa que realizou o maior número de jogos, tendo conquistado nessa época a Taça de Portugal frente ao Sporting de Braga. A segunda equipa com mais jogos disputados foi o FC Porto fruto de uma campanha europeia mais prolongada (com pré-eliminatória e chegada aos Quartos de Final da Champions), no entanto, o emblema azul e branco não conquistou qualquer título em 2014/2015. Por fim, o SL Benfica foi a formação com o menor número de jogos, porém, reclamou para si dois troféus importantes, o Campeonato e a Taça da Liga. De facto, o clube lisboeta orientado na altura por Jorge Jesus acabou a época com menos 4 encontros disputados que o FC Porto de Julen Lopetegui e menos 5 que o Sporting CP de Marco Silva. Em suma, nesta primeira análise a equipa com menos jogos disputados foi simultaneamente a equipa com mais troféus conquistados, corroborando em primeira instância o argumento de alguns técnicos nacionais.
De seguida, a temporada 2015/2016 dá-nos um novo paradigma como podemos verificar abaixo:
A formação com menor número de jogos, Sporting CP de Jorge Jesus, e o emblema com mais encontros disputados, FC Porto, acabaram por não conquistar qualquer troféu nesta época, ao contrário do SL Benfica que voltou a vencer o Campeonato e a Taça da Liga. Nesta temporada os clubes em análise até cumpriram quase o mesmo número de jogos, contudo, aplicou-se a velha máxima de que “no meio é que está a virtude”, não agradando nem a gregos nem a troianos.
A última época em análise relança novamente o debate e adiciona ainda mais entropia à discussão:
Como podemos comprovar acima, o SL Benfica foi a equipa com mais jogos disputados em 2016/2017, com alguma distância para o FC Porto que realizou menos 4 jogos e para o Sporting CP que disputou menos 6 encontros. Apesar do maior número de partidas, a formação encarnada venceu o Campeonato e a Taça de Portugal, ao contrário dos seus principais rivais que voltaram a ficar em branco nesta temporada. Assim sendo, a época 2016/2017 leva-nos a um paradigma completamente distinto em que a equipa que supostamente devia de estar mais cansada, é simultaneamente aquela que consegue conquistar um maior número de troféus.
O resultados das 3 análises é tão ambíguo como curioso, ao ponto de permitir aos mais céticos continuar a defender que “o maior número de jogos é prejudicial”, como dá também abertura para que muitos outros defendam que não é de todo o número de partidas disputadas que determina o número de conquistas celebradas.
Será que a temporada atual vai desempatar?
Após uma análise inconclusiva às 3 épocas desportivas anteriores, talvez a presente temporada nos permita obter mais informações sobre os impactos da cadência dos encontros no sucesso desportivo dos “três grandes”, nesse sentido, até ao momento o Sporting CP, FC Porto e SL Benfica disputaram os seguintes encontros:
A equipa com mais jogos nas pernas é o Sporting CP com 49, mais 5 partidas que o FC Porto e mais 10 partidas que o SL Benfica, especialmente devido à participação leonina nas provas europeias e ao insucesso do emblema encarnado na Taça de Portugal e na Taça da Liga. Também na presente época o clube com mais encontros disputados é aquele que até ao momento tem algum título conquistado (vitória do Sporting CP na Taça da Liga), sendo que a formação orientada por Jorge Jesus encontra-se ainda nas meias-finais da Taça de Portugal, nos quartos de final da Liga Europa e na luta pelo título nacional.
Com uma vantagem tão grande em matéria de jogos disputados, seria extremamente irónico se o técnico que há um par de anos achava plausível ser precocemente eliminado de algumas competições para que a sua equipa se focasse exclusivamente na luta pelo campeonato vencesse mais do que um troféu na presente temporada. Com ainda muitos encontros por disputar em diferentes competições, o destino dos “três grandes” está longe de estar traçado mas tudo se pode definir nos pormenores. A partir de agora, veremos como os jogadores irão reagir ao acumular de encontros, como os técnicos irão lidar com eventuais desaires e como os dirigentes desportivos irão utilizar o dom da palavra para terceirizar o ónus do seu insucesso desportivo.