Vendeu Mal e Contratou Bem. Mas Está Mais Forte?

Francisco da SilvaOutubro 10, 20208min0

Vendeu Mal e Contratou Bem. Mas Está Mais Forte?

Francisco da SilvaOutubro 10, 20208min0
O mercado de transferências da temporada 2020/2021 foi um dos mais desafiantes para o FC Porto. Depois de várias saídas, há também a registar algumas entradas, mas no final de contas, o plantel está melhor ou pior face à época transata?

O mercado de transferências do verão/outono de 2020 fica indiscutivelmente marcado pela fortíssima contenção financeira no futebol mundial, que obrigou todos os clubes a repensar os seus investimentos, a abrir mão de alguns dos seus ativos e a redimensionar a sua atividade.

Ainda antes dos efeitos da pandemia COVID-19 abanarem com as fundações do futebol profissional, já o FC Porto enfrentava inúmeras restrições à sua atividade uma vez que estava sob a alçada do Fair Play Financeiro imposto pela autoridade máxima europeia do futebol, a UEFA. Nesse sentido, os holofotes do verão/outono de 2020 estariam apontados aos pupilos e residentes do Estádio do Dragão, nomeadamente, para saber quais os ativos que o clube portista iria vender, e o seu respetivo valor, bem como, quais os jogadores que chegariam à cidade do Porto para representar o emblema azul e branco em substituição das saudosas partidas.

Um facto indissociável desta janela de transferências portista foi a necessidade de vender primeiro e só depois concretizar as necessárias entradas, no entanto, apesar desta contingência, isso não impediu o FC Porto de ir negociando vários jogadores enquanto as vendas não se realizavam.

Habituados no passado a transferências milionárias para os principais emblemas europeus, os adeptos portistas certamente olham para as vendas concretizadas neste mercado com enorme saudosismo e até amargura. Se é absolutamente verdade que o FC Porto necessitava urgentemente de mais-valias para cumprir com os objetivos do Fair Play Financeiro e para reforçar o seu plantel, não é menos verdade que o valor das transferências ficaram bastante aquém do que seria expectável. Contrariamente ao que acontecia no passado onde os dirigentes portistas eram imbatíveis na arte de vender os seus ativos na curva máxima de valorização, nesta janela de transferências o FC Porto abriu mão de jogadores “indispensáveis” por valores bem abaixo dos negociados num passado recente.

Danilo Pereira vestido com a camisola do atual campeão francês (Fonte: PSG)

Há sensivelmente um ano atrás, o AS Mónaco ofereceu 30 milhões de euros por Danilo Pereira, prontamente recusados e que originou uma “birra” do próprio jogador. Volvidos pouco mais de 12 meses, o mesmo Danilo Pereira saiu por empréstimo para o PSG onde poderá render no máximo 20 milhões de euros ao cofre do clube azul e branco. Outro caso paradigmático é a saída do imprescindível Alex Telles. No verão de 2018, vários “tubarões” europeus acenaram com mais de 30 milhões de euros pelo internacional brasileiro, porém, o FC Porto foi resistindo a todas as investidas, mas a somente 3 meses de Alex Telles poder assinar a custo zero por qualquer emblema, o clube portista viu-se obrigado a vender um dos seus jogadores mais valiosos pela módica quantia de 15 milhões de euros, um valor ao qual se poderão somar mais 2 milhões de euros face ao cumprimento de objetivos. Igualmente bastante desapontantes em termos monetários foram as vendas de Tiquinho Soares por pouco mais de 5 milhões de euros*, de Zé Luís por uma quantia a rondar os 5 e os 8 milhões de euros*, de Yordan Osorio por 4 milhões de euros* e de Vincent Aboubakar sem qualquer contrapartida monetária quando o camaronês tinha custado mais de 16 milhões de euros. Se Zé Luís custou há sensivelmente 1 ano mais de 12 milhões de euros aos cofres portistas, na mesma altura o FC Porto recusou propostas da China que poderiam render até 20 milhões de euros por Tiquinho Soares. Já Yordan Osorio esteve a um pequeno passo de render 7 milhões de euros ao emblema da Invicta, contudo, o Zenit de S. Petersburgo contornou de forma pouco ética a cláusula de compra obrigatória que existia no contrato de empréstimo.

Alex Telles assinou pelo Manchester United FC (Fonte: Abola)

A venda que de facto engordou a conta bancária do FC Porto foi a de Fábio Silva ao Wolverhampton FC no valor de 40 milhões de euros, manchada pela astronómica comissão de 10 milhões de euros à Gestifute e pelo empréstimo “forçado” de Vítor Ferreira, uma das maiores promessas do Olival, que poderá render no futuro somente 20 milhões de euros ao FC Porto.

Igualmente incompreensível é a dispensa de Diogo Queirós que assinou a custo zero pelo FC Famalicão, o empréstimo ao Boavista FC de Chidozie Awaziem, que há 2 anos recebeu uma proposta do FC Nantes superior a 10 milhões de euros para garantir o concurso do central nigeriano, bem como, o empréstimo de Tomás Esteves a um emblema do segundo escalão inglês.

Nanú foi contratado depois de brilhar frente à equipa azul e branca (Fonte: FC Porto)

Do lado das contratações, o principal destaque vai para a aposta vincada em talento estrangeiro que brilhou na primeira liga portuguesa na temporada transata. Como oportunidades “dúbias” de reforçar a profundidade do plantel azul e branco, ingressaram sem qualquer custo Cláudio Ramos, experiente guarda-redes português que brilhou ao serviço do CD Tondela, e Carraça, um lateral direito aguerrido mas limitado tecnicamente que não renovou com o Boavista FC. Com o intuito de colmatar a partida de Alex Telles, o emblema azul e branco apostou em Zaidu Sanusi, lateral nigeriano que com a sua potência e velocidade brilhou nos Açores, e também em Nanú, lateral direito guineense igualmente veloz e que pode libertar Manafá para o corredor esquerdo.

Para suprimir as saídas de Tiquinho Soares, Zé Luís, Vincent Aboubakar e Fábio Silva, o FC Porto apostou em Mehdi Taremi, avançado iraniano com faro de golo em Vila do Conde e com bastante qualidade no ataque à profundidade, em Toni Martínez, dianteiro espanhol que mostrou em Famalicão muita combatividade e entrega, e, por último, em Evanilson, uma das maiores promessas do Brasileirão pela forma como alia potência física e atributos técnicos.

Toni Martínez demorou mas foi oficializado (Fonte: FC Porto)

Se o mercado azul e branco tivesse ficado por aqui, teria sido certamente um enorme e irrecuperável desastre em termos financeiros e desportivos. Todavia, nos últimos suspiros da janela de transferências chegaram ao Dragão 3 elementos bastante promissores, todos eles emprestados por emblemas ingleses do principal escalão, que prometem fazer esquecer os dissabores deste mercado atípico. Primeiramente, aterrou no Porto o franco-senegalês Malang Sarr, um defesa central esquerdino muito forte fisicamente e com velocidade também para jogar no corredor oriundo do Chelsea FC. Seguiu-se a oficialização de Felipe Anderson, um dos extremos mais cobiçados do futebol mundial há duas temporadas e que procura novos terrenos para espalhar toda a sua classe e qualidade técnica depois de não convencer no West Ham United FC. Por último, mas não menos importante, o FC Porto anunciou a chegada de Marko Grujic, um médio de passada larga e com boa relação com a bola e com o golo, por empréstimo do Liverpool FC para substituir no centro do terreno Danilo Pereira.

Os aficionados portistas sofreram até ao fim com as movimentações do seu clube neste mercado de transferências tão condicionado como atípico. Depois de várias saídas duvidosas que causaram um buraco desportivo no plantel sem a devida compensação financeira, os responsáveis azuis e brancos conseguiram à última hora emendar a sua postura errática e desconcertante, equilibrando o plantel e igualmente as contas do campeonato.

Felipe Anderson faz sonhar os adeptos portistas (Fonte: FC Porto)

Se por um lado podemos criticar a falta de força negocial do FC Porto, outrora inigualável no futebol português, não é menos verdade que o clube portista conseguiu evitar que Alex Telles e Tiquinho Soares saíssem a custo zero no final da presente época. Porém, continuam por resolver as renovações de Sérgio Oliveira, Otávio e Moussa Marega, 3 elementos fundamentais para o rendimento desportivo da equipa orientada por Sérgio Conceição.

No cômputo geral, o plantel azul e branco parece ter aumentado o leque de soluções e reforçado a qualidade individual dos seus protagonistas, no entanto, a mais cabal das confirmações terá de ser feita dentro das quatro linhas, aí sim as promessas podem tornar-se em certezas mas também as estrelas mais cintilantes se transformam em estrelas cadentes.


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