Uma Academia em Profunda Agonia

Francisco da SilvaNovembro 10, 20195min0

Uma Academia em Profunda Agonia

Francisco da SilvaNovembro 10, 20195min0
Rui Barros e Manuel Tulipa não têm sido suficientemente competentes para potenciar os inúmeros talentos do viveiro azul e branco, numa clara demonstração de agonia desportiva e estrutural na academia do FC Porto.

A temporada 2018/2019 foi histórica para os Sub-19 do FC Porto devido à reconquista do campeonato nacional e, sobretudo, à surpreendente vitória na UEFA Youth League. A figura de proa da equipa azul e branca foi o técnico Mário Silva que foi capaz de potenciar nomes como Tomás Esteves, Fábio Vieira, Romário Baró, Ángel Torres e Fábio Silva, formando um coletivo extremamente coeso, versátil e dinâmico. A não continuidade do ex-lateral esquerdo no quadro técnico do clube surpreendeu tudo e todos, nomeadamente tendo em conta o sucesso desportivo da última época e a qualidade exibicional demonstrada. Estavam assim lançados os dados para um início de temporada 2019/2020 moribundo, estéril e deprimente.

Mário Silva | Fonte: Twitter FC Porto

Os destinos da equipa secundária do FC Porto continuaram entregues a Rui Barros, um excelente trabalhador mas um medíocre treinador. Na primeira temporada na equipa B, o técnico de 53 anos não demonstrou capacidade para potenciar o crescimento dos inúmeros talentos do viveiro azul e branco, prova disso é o sofrível 9º lugar na Ledman LigaPro e o registo de somente 11 vitórias em 34 encontros. Apesar da temporada bem abaixo do expectável, Rui Barros foi reconduzido na equipa B, fechando assim as portas à continuidade de Mário Silva no FC Porto. Com a saída do ex-lateral esquerdo da estrutura técnica, subiu a timoneiro dos Sub-19 Manuel Tulipa, também ele um ex-jogador do clube que já treinou os Sub-15 e os Sub-17 do emblema azul e branco sem grande sucesso.

Face à paupérrima qualidade da estrutura técnica do FC Porto, os resultados ao dia de hoje só surpreendem os mais desatentos e são espelhos de uma academia em profunda agonia que, pese embora estar recheada de inúmeros talentos por lapidar, não soube entregar o destino de dezenas de jovens às mãos de profissionais de excelência e qualidade reconhecida.

Rui Barros | Fonte: Peter Spark (Movephoto)

Após já ter disputado 11 encontros na LigaPro 2019/2020, a formação secundária do FC Porto soma 2 vitórias (suadas), 4 empates (aborrecidos) e 5 derrotas (incontestáveis), sendo ainda a 2ª pior defesa da competição. Estes números expressam na íntegra a falta de dinâmica e objetividade do futebol azul e branco sob a batuta de Rui Barros, que não tem sabido potenciar a qualidade de Tomás Esteves, Nahuel Ferraresi, Pedro Justiniano, Fábio Vieira, Mor Ndiaye, Vítor Ferreira, Afonso Sousa, Ángel Torres e Madi Queta. A equipa vive fundamentalmente de rasgos individuais e de lances de bola parada não apresentando qualquer ideia clarividente de jogo, assim, elementos como Vítor Ferreira, Fábio Vieira, Madi Queta ou Ángel Torres estão completamente perdidos na inércia atacante portista. Como se não bastasse, o setor mais recuado é extremamente inconsistente e defensivamente descoordenado nos momentos sem bola, tornando Tomás Esteves, Nahuel Ferraresi ou Mor Ndiaye autênticas marionetas nos pés dos adversários mais audazes. Se a quantidade e a qualidade do talento no FC Porto B impressiona, o mesmo se pode dizer da forma incompreensível como tanto diamante em bruto está a ser desperdiçado e em processo acelerado de desvalorização.

Os Sub-19 portistas não fogem a este cenário negro e deprimente. À 12ª jornada, os comandados de Manuel Tulipa conquistaram somente 4 vitórias em 12 jogos, tendo ainda somado 6 empates e 2 derrotas nas restantes partidas. O pior de tudo parece, tal como na formação B, ser a falta de uma filosofia de jogo dominadora, assente na posse de bola e com capacidade de penalizar as transições deficitárias dos adversários. O futebol apresentado tem sido previsível, monótono e bastante abaixo do exibido na época transata. É verdade que saíram nomes importantes para a formação principal (Fábio Silva, Romário Baró e Diogo Costa) e para a formação secundária (Ángel Torres, Mor Ndyae, Fábio Vieira e Afonso Sousa), porém, o plantel azul e branco apresenta inúmeras soluções para todas as zonas do terreno. Na baliza, o campeão europeu Francisco Meixedo tem sido uma sombra de si mesmo, já na linha defensiva Tiago Matos, Formose Mendy e Levi Faustino apresentam demasiadas falhas de concentração, no terreno intermédio Rafael Pereira e Manuel Mané não conseguem dar vida à casa das máquinas portistas, por último, o goleador Duarte Moreira e o irreverente Gonçalo Borges têm tentado dar alma ao ataque azul e branco, contudo, sem grande clarividência e objetividade. Sem grande surpresa, os Sub-19 do FC Porto encontram-se no 3º posto a 7 pontos de distância do líder SC Braga (que tem menos um jogo) e sem grandes perspetivas de futuro.

Manuel Tulipa | Fonte: Vítor Parente (KAPTA+)

Tal como tem acontecido no futebol profissional, a academia do FC Porto encontra-se completamente perdida na anarquia de uma estrutura obsoleta e asfixiada pela guerrilha das comissões. É com naturalidade que se assiste ao subaproveitamento do talento existente na formação azul e branca, numa demonstração cruel de que a estrutura do futebol profissional continua sem acreditar veemente nos predicados da formação portista. E assim, caminha-se silenciosamente para um futuro de abnegação e dificuldade no reino do Dragão.


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