A Sangria na Formação do FC Porto
O artigo seria logo à partida falacioso se não mencionasse e salvaguardasse que nos escalões mais jovens do futebol nacional é extremamente habitual os jogadores trocarem constantemente de clube com o objetivo de aumentarem as suas hipóteses de brilhar no futebol profissional. Nesta roleta russa há um emblema claramente mais lesado pelas trocas adolescentes, o FC Porto.
Ao longo dos últimos anos são várias as saídas da formação portista, a maioria delas com um impacto enorme em termos desportivos e financeiros nos principais rivais do FC Porto.
Ultimamente, face ao momento de forma do SL Benfica e de João Félix, é difícil ficar indiferente à forma negligente como o atual avançado encarnado saiu dos sub-17 do clube nortenho sem uma real oportunidade. Desaproveitado no Olival, as 4 épocas seguintes foram de pura magia e com doses industriais de golos e assistências. O futuro, eventualmente, virá nos livros de história do futebol mundial.
Outro elemento que nunca teve a oportunidade de demonstrar o seu valor na equipa sub-17 do FC Porto após várias temporadas de azul e branco ao peito foi André Gomes. O atual médio do Everton não demorou muito a despertar a atenção do SL Benfica e acabou por render, 5 anos depois, uma transferência milionária para Valência.
João Mário rendeu também uma enorme maquia aos cofres de um emblema lisboeta, o Sporting CP. O médio criativo atualmente com as cores do Inter de Milão teve uma passagem curta pela formação azul e branca, tal como o seu irmão, Wilson Eduardo. Ambos viriam a trocar o norte pelo sul do país, mudando-se de malas e bagagens da Constituição/Olival para Alcochete.
Existem ainda dois elementos que, não fossem as constantes lesões, poderiam estar a adensar a lista de jovens promissores dispensados/não aproveitados pela academia do FC Porto. Nuno Santos passou grande parte da sua adolescência com o emblema dos Dragões ao peito, contudo, foi o SL Benfica que acreditou verdadeiramente no valor do jogador e resgatou-o para o Seixal.
Após várias temporadas a brilhar nos escalões de formação encarnados, Nuno Santos tem tido uma transição complicada para o futebol profissional. Mais consolidada é a carreira de Ricardo Ferreira, um dos melhores centrais do Sporting de Braga e já internacional A, porém, as últimas temporadas têm sido nefastas para o jogador que tem sofrido lesões graves e não tem tido a oportunidade de mostrar a sua qualidade no clube bracarense. Ricardo Ferreira formou-se no FC Porto, no entanto, viria a sair para Itália à procura de crescer e consolidar as suas qualidades futebolísticas.
Uma nota ainda para João Novais. Este médio ofensivo com características físicas e técnicas muito interessantes fez parte dos quadros azuis e brancos durante 4 temporadas, contudo, tal não foi suficiente para convencer os responsáveis portistas a apostarem no talento do gaiense que hoje brilha ao serviço do Sporting de Braga.
A sangria de talento da formação azul e branca parece não ter fim e promete continuar a alimentar este artigo. A saída de Vasco Paciência, um dos melhores avançados do futebol jovem portista, para o SL Benfica parece corroborar a tese de que existe uma enorme inércia no Olival.
Os responsáveis azuis e brancos têm que forçosamente incrementar os índices de retenção de talento por forma a superar a heterogeneidade do desenvolvimento morfológico e futebolístico na adolescência. Casos como o de João Félix ou André Gomes levam a que os adeptos desconfiem que a academia do clube está a ser gerida com amadorismo e negligência, nesse sentido, se a administração do FC Porto quer recuperar a confiança dos seus aficionados, a melhor forma é fazer bem o trabalho de casa e valorizar o que de melhor existe na formação portista. Os resultados desportivos e financeiros acompanharão certamente a aposta genuína do clube.