O (grande) favoritismo do SL Benfica num Clássico de nervos
A 5 jogos do final da temporada, águias e dragões disputam três pontos que podem decidir o destino final dos dois clubes nesta temporada. Rui Vitória ficou afastado de todas as outras competições de uma forma muito precoce (com a pior prestação europeia de sempre de um clube português na fase-de-grupos da Liga dos Campeões) ficando com a obrigação de conquistar o inédito penta campeonato.
Já Sérgio Conceição herdou um plantel sem direcção, devastado por maus anos de fracas apostas por parte da SAD azul-e-branca e que não sabe o que é um troféu desde 2013 (Supertaça Cândido de Oliveira), e desde o dia um prometeu colocar o FC Porto no caminho certo.
Contudo, ao fim de 9 meses de jogos, o FC Porto ainda não conquistou qualquer troféu ou não confirmou o seu lugar em qualquer final (deixou escapar a Taça da Liga para o Sporting CP na meia-final), com a sombra dos fracassos dos últimos anos a apanhar o reinado de Conceição no Dragão. Lembrar que tanto Paulo Fonseca/Luís Castro, Julen Lopetegui, José Peseiro ou Nuno Espírito Santo, tiveram a oportunidade de ganhar um troféu ou, pelo menos, de chegar a uma final de competição nos últimos jogos da temporada.
A ASCENSÃO DE CONCEIÇÃO… E A QUEDA DOS ÚLTIMOS 5 ANOS
Infelizmente para as hostes dos azuis-e-brancas tudo correu sempre mal nessa recta final: Luís Castro perdeu o acesso à final da Taça da Liga no Dragão frente ao SL Benfica; Lopetegui (1ª temporada) deixou escapar o campeonato num Clássico também ele na Luz (empate a zeros), onde ficou vincado a falta de ambição do treinador espanhol, que primava mais pela posse de bola do que arriscar em oportunidades; José Peseiro foi até ao final da Taça de Portugal mas nos penaltis o SC Braga arrecadou o troféu, sendo que de forma irónica ganhou 2-1 na Luz, num campeonato que os encarnados iriam buscar em Alvalade; e Nuno Espírito Santo ficou satisfeito com um empate frente às águias na 27ª jornada acreditando que bastava para conquistar o título.
No final de contas, o FC Porto perdeu toda a categoria de ganhar nos momentos cruciais, algo que parece ter saído pela “porta” com o fim do reinado do treinador bicampeão, Vítor Pereira. Desde que Villas Boas saiu do Dragão para assumir o controlo do Chelsea que o clube da Invicta não conseguiu conquistar uma dobradinha ou de sequer se afirmar nas competições europeias como no passado.
Julen Lopetegui ainda guiou os Dragões a um improvável 3-1 (em casa) frente ao Bayern de Munique nos quartos-de-final, mas deitou tudo a perder com uma estratégia deficitária e apostas erradas (Diego Reyes que mal jogou essa temporada foi parar a uma posição que nunca tinha alinhado, a de lateral direito) na Baviera.
Ou seja, o passado recente não joga nada a favor dos comandados de Sérgio Conceição, muito pelo contrário, já que na altura das grandes decisões o plantel onde despontam Brahimi, Herrera, Aboubakar, Reyes, Marcano, Casillas, Óliver, Ricardo Pereira, Maxi Pereira (todos eles do tempo de Paulo Fonseca ou Julen Lopetegui) falham de uma forma total e que tem representado a ambição da SAD azul-e-branca em termos de investimentos e, até, de escolha nos treinadores.
A isto relembrar que o apoio prestado por Jorge Nuno Pinto da Costa a todos os técnicos passados foi diminuindo com o passar da época, com o líder dos Dragões a “desaparecer” por completo da fotografia quando mais importava.
Em 2017/2018, Sérgio Conceição deixou cair a expressão de Nuno Espírito Santo do Somos Porto (uma frase icónica e memorável dos tempos áureos do FC Porto, mas que acabou por revelar-se em só uma expressão sem ambição por parte de NES) e institui a suposta mística de volta. A verdade é que o FC Porto voltou a jogar de uma forma agressiva, de grande poder e pendor ofensivo, agitando as hostes nas bancadas, com um futebol intenso, dominante e físico (não significa isto que tenham jogado sempre bem ou que seja expressão de bom futebol).
Contudo, o plantel tem mostrado lacunas graves em termos mentais e técnicos quando mais importava demonstrar o contrário: na Vila das Aves (à parte do suposto do penalti não assinalado sobre Danilo Pereira), Mata Real, Moreira de Cónegos ou Restelo o FC Porto foi sempre uma equipa diminuída sem ideias para ultrapassar os seus adversárias, perdida em ideias e que falhou à frente da baliza de forma surpreendente.
Seja o penalti mal cobrado por Yacini Brahimi ante o Paços de Ferreira, o pontapé para o lado de Aboubakar contra o CF “Os Belenenses”, a falta de expressividade ofensiva de Tiquinho Soares dentro da área, entre outros momentos.
A somar a estes pontos, o FC Porto perdeu o jogador que estava a definir o ataque de uma forma insólita, munido de uma velocidade estonteante, de um poder físico “temerário” e de uma vontade e engenho em arranjar oportunidades de ataque e golo para a sua equipa. O maliano Marega pode não ser o melhor jogador a nível técnico, mas é visto como um verdadeiro filho da mística já que mostra uma paixão intensa pelo FC Porto.
Olhando bem para estes pontos todos, o FC Porto chega ao jogo da Luz nervoso, com noção que tudo pode acabar mal se consentir uma derrota ante um rival que tem saído sempre por cima mesmo quando tudo lhe parece estar a correr mal. Rui Vitória tem sido um mestre em dar volta a situações classificativas desfavoráveis, como os leitores devem recordar-se em 2015/2016 quando viraram o campeonato com uma vitória em Alvalade.
QUEM DEVE ASSUMIR ENTÃO O FAVORITISMO?
O favoritismo tem de ser assumido pelo SL Benfica, uma vez que não perde ou empata há cerca de 9 jogos, tendo uma sequência imaculável de vitórias atrás de vitórias. Mesmo com as lesões de alguns dos seus jogadores principais, seja de forma permanente (Filip Krovinović) ou pontual (Salvio ou Jonas), as águias mantiveram os seus índices de confiança e concentração e conquistaram os 3 ponto na Mata Real, em Santa Maria da Feira ou Setúbal.
Não jogando um futebol bonito ou dominante, o clube da Luz vive na crença de que tem de ganhar os jogos dê por onde der, evitando cair em pânicos tácticos ou reacções negativas dentro de campo. Este será o maior sucesso de Rui Vitória desde que chegou à Luz: unir o plantel, manter a confiança no ponto máximo e liderar pela positiva, assumindo um discurso fácil, calmo e consciente (em tempos de derrota é sempre etiquetado como um discurso robótico ou repetitivo, na tentativa de esconder os verdadeiros problemas da equipa).
O FC Porto tropeçou em dois dos últimos três jogos para o campeonato, perdeu a liderança, voltou a ficar sem Danilo Pereira e joga tudo num campo que tem sido madrasto nos últimos anos: 4 derrotas e 1 vitória (a tal de José Peseiro). Os sucessivos empates foram sempre um pronuncio que o campeonato acabaria no expositor de troféus do SL Benfica e não no Dragão. Coincidentemente, a vitória também foi pronuncio disso mesmo já que o FC Porto desse ano terminou em 3º lugar atrás dos encarnados e do Sporting CP.
Se o SL Benfica vai assumir o favoritismo antes do jogo? Não nos parece, uma vez que os nervos não são só dos adeptos azuis-e-brancos, pois são também partilhados pelas hostes do clube da Luz. Todavia, perante os factos enunciados, os últimos anos têm sido um problema grave em conseguir sair do estádio do SL Benfica não só com a vitória, mas com o sentido que dominaram por completo o jogo, colocando os campeões nacionais em modo reflexão.
Se o jogo de hoje depende de um ou dois actores? Depende… os tetra campeões fazem da sua força maior a união e o trabalho de equipa em especial no ataque, sendo que a defesa alimenta alguns problemas tanto de posicionamento ou de saber acompanhar adversários mais incomodativos (tipo Moussa Marega ou Brahimi).
Os portistas por sua vez também jogam com o factor equipa, com a sua maior força a estar na coesão defensiva e ataque rápido… contudo, desde que o maliano desapareceu do onze em virtude de uma lesão na coxa, os avançados deixaram de facturar e o FC Porto ficou dependente do resto da equipa para fazer balançar as redes.
O favoritismo deve ser assumido por uma equipa que é tetra campeã, que tem o melhor plantel (ou aquele que apresenta melhores soluções em caso de lesões) e que tem a melhor sequência de vitórias no momento, para além que está mais fresca (menos jogos tanto nas competições europeias e taças, o que perfaz um total de menos 7 jogos nas pernas dos jogadores do Benfica ou seja menos 630 minutos) e consciente que só tem de jogar no erro do adversário para garantir mais um título?