FC Porto fora da luta do título… uma situação não surpreendente

Ricardo João LopesAbril 15, 20256min0

FC Porto fora da luta do título… uma situação não surpreendente

Ricardo João LopesAbril 15, 20256min0
Ricardo Lopes avalia a actual situação do FC Porto e explica os (alguns) erros da actual direcção na luta por reverter os problemas do passado

O FC Porto ainda conta com hipóteses matemáticas de vir a ser o vencedor da Primeira Liga. Contudo, depois da goleada sofrida no Dragão aos pés do Benfica, (praticamente) ninguém acredita que que o título rume ao norte do país, prometendo-se uma disputa até ao fim entre o Sporting e o Benfica. O campeonato realizado pelos dragões tem sido criticado semanalmente, com especial incidência desde a chegada de Martín Anselmi, que não tem apresentado os resultados desejados, embora o seu cargo não esteja em risco para a próxima temporada.

Contudo, todo este cenário podia ser diferente, caso a postura de André Villas-Boas tivesse sido outra no começo da época. O FC Porto, na teoria, é um dos crónicos candidatos ao título, com obrigação de lutar pelo galardão até ao final do campeonato. Porém, a época 2024/25 está longe de seguir o padrão. A direção mudou a 100%, com a saída de Pinto da Costa nas últimas eleições. O clube encontra-se com um buraco financeiro do qual necessita de recuperar e isso não vai acontecer somente com três ou quatro boas vendas. A equipa técnica, que era chefiada por Sérgio Conceição há vários anos, saiu.

Enquanto o Sporting vive um momento em crescendo, depois de praticamente duas décadas a quilómetros dos rivais, e o Benfica se encontra minimamente estável (tem o melhor plantel em Portugal e um treinador que conhece bem a casa), o FC Porto está no extremo oposto. O próprio André Villas-Boas sabe disto desde a primeira hora em que se sentou na cadeira da chefia, mas não teve coragem em o assumir perante os sócios e adeptos. O dirigente assumiu que os dragões seriam candidatos à vitória, como se falássemos de uma época absolutamente normal.

Este foi o seu primeiro grande erro, já que os adeptos seguiram a linha de pensamento do seu líder, ao invés de realizar uma análise minuciosa do momento. Isto é algo natural, quando o mais importante dirigente admite que é possível vencer, quem é que não vai acreditar? Os aficionados por natureza são extremamente positivistas, algo que em certas ocasiões os cega. Vítor Bruno era um treinador sem experiência, o plantel tinha (e tem) falta de alternativas, as bancadas não estavam (nem estão) a remar todas para o mesmo lado. Passou um ano desde a vitória de André Villas-Boas e continua-se a viver o começo de um projeto, porque o longo prazo é assim que funciona. Não é em um ano que se conseguem os resultados desejados e há vários clubes que comprovam esta teoria, como o exemplo de Jurgen Klopp com o Liverpool, tendo em consideração as distâncias. Num caso bem mais próximo, Bruno de Carvalho (pese todo o desastre que seguiu após a sua eleição) teve a capacidade de acalmar os ânimos na primeira temporada, dando tempo a Leonardo Jardim, que apesar de ter passado apenas uma época por Alvalade, ficou na memória dos leões e terá sempre essa porta aberta em Portugal.

Vítor Bruno não aguentou a pressão das bancadas e acabou por perder o balneário, culminando a situação com a sua saída, numa fase em que o FC Porto ainda se encontrava na disputa pelo título. Martín Anselmi chegou e não está a conseguir fazer melhor. Embora seja um técnico no qual se reconhece potencial, a principal caraterística que tem salientando da sua personalidade é a teimosia, mantendo uma aposta num 3x4x3 que neste plantel não dá resultado, o que levará os dragões a adotarem uma postura agressiva no próximo mercado. O argentino ainda não tem a conexão necessária com os adeptos e o seu discurso está longe de ser o mais convincente, baseado em estatísticas, que por vezes não representam o resultado do encontro. O FC Porto tem a obrigação de dominar todas as partidas e isso não tem acontecido, em alguns casos existe um equilíbrio inesperado.

Pelo meio do momento caótico, a morte de Pinto da Costa não facilitou a tarefa à atual direção, já que durante semanas foram exaltadas as conquistas do ex-dirigente e a forma como trouxe o FC Porto para a ribalta do futebol, numa era em que os grandes de Lisboa dominavam a seu belo prazer. As comparações com André Villas-Boas foram inevitáveis, embora tenha ficado em certos casos no esquecimento como Pinto da Costa deixou o clube. Embora falecido, Pinto da Costa continua a ter um peso muito grande pelo Dragão e mudar esta situação é praticamente impossível. O atual presidente dificilmente será elogiado/criticado sem ser comparado. Este cenário é algo único em Portugal. Pinto da Costa para bem ou para o mal foi o presidente mais mediático do nosso futebol e mais nenhum dirigente terá a pressão que André Villas-Boas terá nos próximos anos.

O FC Porto terá que assegurar o pódio até ao final da época, de maneira a entrar de forma direta na próxima edição da Europa League. Este é o mínimo pedido e o Braga promete ser um rival feroz. O plantel terá de se concentrar no objetivo e olhar menos para o que se passa fora do Olival, mesmo que Sérgio Conceição (entre outros) goste de mandar indiretas por intermédio das suas redes sociais, de modo a destabilizar um clube que tanto amou/ama. Situações como o ‘estágio’ após a Luz serão de evitar. Ainda que o tal castigo seja compreensível, não caiu bem entre os adeptos nem entre os jogadores e André Villas-Boas ainda se está a estabilizar no cargo.

2025/26 vai ser mais uma grande prova de fogo para a atual direção e para o próprio Martín Anselmi. O FC Porto sabe que vai começar a época alguns passos atrás dos rivais. Contudo, desperdiçou em 2024/25 a hipótese da narrativa do ‘ano zero’, já que não a poderá aplicar na próxima temporada.


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