FC Porto fora da luta do título… uma situação não surpreendente
O FC Porto ainda conta com hipóteses matemáticas de vir a ser o vencedor da Primeira Liga. Contudo, depois da goleada sofrida no Dragão aos pés do Benfica, (praticamente) ninguém acredita que que o título rume ao norte do país, prometendo-se uma disputa até ao fim entre o Sporting e o Benfica. O campeonato realizado pelos dragões tem sido criticado semanalmente, com especial incidência desde a chegada de Martín Anselmi, que não tem apresentado os resultados desejados, embora o seu cargo não esteja em risco para a próxima temporada.
Contudo, todo este cenário podia ser diferente, caso a postura de André Villas-Boas tivesse sido outra no começo da época. O FC Porto, na teoria, é um dos crónicos candidatos ao título, com obrigação de lutar pelo galardão até ao final do campeonato. Porém, a época 2024/25 está longe de seguir o padrão. A direção mudou a 100%, com a saída de Pinto da Costa nas últimas eleições. O clube encontra-se com um buraco financeiro do qual necessita de recuperar e isso não vai acontecer somente com três ou quatro boas vendas. A equipa técnica, que era chefiada por Sérgio Conceição há vários anos, saiu.
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— FC Porto (@FCPorto) April 14, 2025
Enquanto o Sporting vive um momento em crescendo, depois de praticamente duas décadas a quilómetros dos rivais, e o Benfica se encontra minimamente estável (tem o melhor plantel em Portugal e um treinador que conhece bem a casa), o FC Porto está no extremo oposto. O próprio André Villas-Boas sabe disto desde a primeira hora em que se sentou na cadeira da chefia, mas não teve coragem em o assumir perante os sócios e adeptos. O dirigente assumiu que os dragões seriam candidatos à vitória, como se falássemos de uma época absolutamente normal.
Este foi o seu primeiro grande erro, já que os adeptos seguiram a linha de pensamento do seu líder, ao invés de realizar uma análise minuciosa do momento. Isto é algo natural, quando o mais importante dirigente admite que é possível vencer, quem é que não vai acreditar? Os aficionados por natureza são extremamente positivistas, algo que em certas ocasiões os cega. Vítor Bruno era um treinador sem experiência, o plantel tinha (e tem) falta de alternativas, as bancadas não estavam (nem estão) a remar todas para o mesmo lado. Passou um ano desde a vitória de André Villas-Boas e continua-se a viver o começo de um projeto, porque o longo prazo é assim que funciona. Não é em um ano que se conseguem os resultados desejados e há vários clubes que comprovam esta teoria, como o exemplo de Jurgen Klopp com o Liverpool, tendo em consideração as distâncias. Num caso bem mais próximo, Bruno de Carvalho (pese todo o desastre que seguiu após a sua eleição) teve a capacidade de acalmar os ânimos na primeira temporada, dando tempo a Leonardo Jardim, que apesar de ter passado apenas uma época por Alvalade, ficou na memória dos leões e terá sempre essa porta aberta em Portugal.
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Vítor Bruno não aguentou a pressão das bancadas e acabou por perder o balneário, culminando a situação com a sua saída, numa fase em que o FC Porto ainda se encontrava na disputa pelo título. Martín Anselmi chegou e não está a conseguir fazer melhor. Embora seja um técnico no qual se reconhece potencial, a principal caraterística que tem salientando da sua personalidade é a teimosia, mantendo uma aposta num 3x4x3 que neste plantel não dá resultado, o que levará os dragões a adotarem uma postura agressiva no próximo mercado. O argentino ainda não tem a conexão necessária com os adeptos e o seu discurso está longe de ser o mais convincente, baseado em estatísticas, que por vezes não representam o resultado do encontro. O FC Porto tem a obrigação de dominar todas as partidas e isso não tem acontecido, em alguns casos existe um equilíbrio inesperado.
Pelo meio do momento caótico, a morte de Pinto da Costa não facilitou a tarefa à atual direção, já que durante semanas foram exaltadas as conquistas do ex-dirigente e a forma como trouxe o FC Porto para a ribalta do futebol, numa era em que os grandes de Lisboa dominavam a seu belo prazer. As comparações com André Villas-Boas foram inevitáveis, embora tenha ficado em certos casos no esquecimento como Pinto da Costa deixou o clube. Embora falecido, Pinto da Costa continua a ter um peso muito grande pelo Dragão e mudar esta situação é praticamente impossível. O atual presidente dificilmente será elogiado/criticado sem ser comparado. Este cenário é algo único em Portugal. Pinto da Costa para bem ou para o mal foi o presidente mais mediático do nosso futebol e mais nenhum dirigente terá a pressão que André Villas-Boas terá nos próximos anos.
Rodrigo Mora deu a vitória ao FC Porto frente ao Casa Pia com um grande golo.
Os Dragões ultrapassam assim à condição do SC Braga no terceiro lugar.#CPACFCP #LigaPortugalBetclic pic.twitter.com/JyInxwINUa
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O FC Porto terá que assegurar o pódio até ao final da época, de maneira a entrar de forma direta na próxima edição da Europa League. Este é o mínimo pedido e o Braga promete ser um rival feroz. O plantel terá de se concentrar no objetivo e olhar menos para o que se passa fora do Olival, mesmo que Sérgio Conceição (entre outros) goste de mandar indiretas por intermédio das suas redes sociais, de modo a destabilizar um clube que tanto amou/ama. Situações como o ‘estágio’ após a Luz serão de evitar. Ainda que o tal castigo seja compreensível, não caiu bem entre os adeptos nem entre os jogadores e André Villas-Boas ainda se está a estabilizar no cargo.
2025/26 vai ser mais uma grande prova de fogo para a atual direção e para o próprio Martín Anselmi. O FC Porto sabe que vai começar a época alguns passos atrás dos rivais. Contudo, desperdiçou em 2024/25 a hipótese da narrativa do ‘ano zero’, já que não a poderá aplicar na próxima temporada.