O fardo de um conquistador
Do surpreendente quarto lugar à atribulada pré-época da presente temporada, os vimaranenses vão variando entre motivos para sorrir e a preocupação de se manterem no topo. A montra do sucesso levou à saída de grandes pilares do plantel e chegou a hora de lidar com as consequências.
Com um plantel não muito recheado de opções válidas, o que é certo é que o técnico vimaranense foi usando das suas melhores armas para alcançar a tão desejada qualificação para a Liga Europa e uma nova final da Taça de Portugal. Contudo, a época positiva permitiu uma maior visibilidade do potencial de alguns jogadores que estavam emprestados e não só. Incapaz de manter as suas pedras fundamentais, o Vitória viu-se obrigado a arranjar soluções internas e com uma contenção de custos relativamente a reforços.
A política de investimento nos produtos de formação e da equipa B continua, uma vez que tem sido recorrente o aparecimento de jogadores com grande potencial para integrar o onze (casos de Miguel Silva, Zungu, Raphinha, entre outros). Contudo, o legado deixado pelos jogadores agora noutras paragens é pesado, sendo que em apenas uma temporada o Vitória perdeu 6 peças fundamentais do onze titular – Soares (FC Porto – em janeiro), Josué (Anderlecht), Zungu (Amiens), Bruno Gaspar (Fiorentina), Hernâni (FC Porto) e Marega (FC Porto).
O alarme no arranque atribulado
Foi desde logo na apresentação aos sócios, frente ao Futebol Clube do Porto, que o Vitória de Guimarães demonstrou ainda não estar preparado para colmatar as saídas das pedras fundamentais. Com um jogo pobre, em que até o próprio (ainda) capitão Josué esteve aquém das expectativas, fazendo parelha com um já debilitado Moreno. Com a saída de Bruno Gaspar, Pedro Martins fez subir Falaye Sacko à equipa A e a aposta não podia ter corrido pior. O maliano foi o rosto da desgraça vimaranense, perdendo a bola inúmeras vezes na tentativa de sair para o ataque, aliando a um desposicionamento constante que levara os adeptos à ira.
Do outro lado, com a lesão de Konan (cujo rendimento também fora algo irregular), João Vigário foi a aposta que se viria a seguir, mas o jogo no terreno do Estoril viria a esclarecer que o tempo dado aos jogadores que subiram fora mal aproveitado. Com o Vitória a jogar contra dez e com Vigário amarelado, o lateral foi extremamente imprudente e levou o segundo amarelo, deixando a equipa de rastos, num jogo para esquecer dos minhotos.
Para não variar, Sacko foi chamado a jogo e confirmou não ser um jogador de calibre para a exigência do Vitória, sendo a figura maior da desgraça que foi a goleada por 3-0 dos estorilistas. Após este jogo, Josué rumara à Bélgica para assinar pelo Anderlecht. Ainda assim, os conquistadores garantiram a continuidade de Celis no miolo, bem como Rafael Miranda, ao passo que na frente continuaram as referências Raphinha e Paolo Hurtado, que vão dando conta do recado dentro dos possíveis.
Raça, entrega e determinação
Mais do que falar em entradas ou saídas, o Vitória de Guimarães já mostrou que há algo que jamais se poderá vender, algo que pertence a uma casa que se catapulta pela força dos adeptos. A entrega com que disputam cada partida, que muito mérito tem também do seu treinador, permitiu já ao Vitória surpreender em algumas partidas. A maior amostra disso fora o triunfo recente sobre o sensacional Marítimo de Daniel Ramos, que vinha embalado na frente do campeonato junto dos grandes candidatos.
Este Vitória não desiste, porque das bancadas se pede sempre mais, porque do banco ouvem um timoneiro que jamais baixa os braços. Inteligente também no reforço de última hora do plantel, conseguiu o concurso de Heldon, figura no jogo contra os insulares, bem como Victor Garcia (emprestado pelo FC Porto) para a lateral direita. No centro da defesa, com a saída de Josué, a liderança da muralha ficou a cargo de Pedro Henrique, que passou a capitão e rapidamente se assumiu como o líder em campo que a equipa precisa.
O derby frente ao eterno rival SC Braga revelou que ainda há muito trabalho pela frente, com golos a surgirem de movimentos de antecipação à defesa vimaranense, mas ainda assim com uma postura e maturidade que viria a mostrar resultados frente ao Marítimo.
Se o Vitória de Guimarães será capaz de igualar a marca do ano passado ainda ninguém sabe. Que esta equipa está muito mais limitada no sector mais recuado e avançado também não é novidade. Uma coisa é certa que não se perdeu: a mística que envolve a cidade e a sua população continuará a ser factor fundamental em muitos jogos – as equipas visitantes sabem da dificuldade que continua a ser jogar no Estádio D. Afonso Henriques e não há adversário que chegue a Guimarães com a confiança demasiado em alta. Os conquistadores continuarão o seu caminho, com vários obstáculos pelo caminho e muitas surpresas, umas vezes positivas, outras negativas.
Esta é uma equipa capaz de tudo, mas que mostra capacidade para se colar ao rival Braga e Marítimo como potenciais candidatos ao apuramento para a Liga Europa. Na “terra de grandes conquistas” permanece uma crença de que tudo é possível e jamais os vimaranenses quererão baixar as expectativas em relação aos feitos alcançados na passada temporada.