É ou não Tiquinho Soares um avançado medíocre para o FC Porto?
O final de Janeiro e início de Fevereiro de 2019 serão recordados para os adeptos do FC Porto como uma fase negativa em termos de resultados mais pobres, falha na conquista da Taça da Liga e qualidade exibicional na frente de ataque. Entre o empate na Taça da Liga que culminou na derrota nos penaltis frente ao Sporting Clube de Portugal à perda da 1ª mão da eliminatória da Liga dos Campeões por 1-2, os Dragões somaram um total de 6 golos marcados e 4 sofridos, isto em cinco jogos.
Um registo que mesmo não sendo negativo em termos de quociente entre GM/GS não deixa de ser preocupante para o ainda campeão nacional, que viu a distância para o 2º lugar diminuir drasticamente e as hipóteses de passar aos quartos-de-final da Liga dos Campeões a ficarem mais complicadas, sintomas do mesmo problema: falta de eficiência no ataque.
Moussa Marega esticou ao máximo possível até que a coxa não mais aguentou, apesar dos adeptos criticarem repetidamente a forma do maliano em frente à baliza; André Pereira, Adrián Lopéz praticamente não contam e não são opções regulares para pontas-de-lança ou avançados mais de área; Fernando Santos chegou ao FC Porto em Janeiro e apesar de dois golos, continua longe do que Sérgio Conceição precisa; e, finalmente, Tiquinho Soares que supostamente se afirma como o artilheiro-base da equipa azul-e-branca tem passado ao lado dos momentos decisivos.
O brasileiro é precisamente o foco do grande problema dos campeões nacionais, uma vez que Marega, Fernando, Brahimi, André Pereira ou Hernâni não são pontas-de-lança, mas sim avançados ou extremos, cada um com as suas propriedades diferentes.
A nível de funções e objectivos finais dentro da equipa só Vincent Aboubakar pode ser comparável ao brasileiro ex-Vitória SC, e desde que o camaronês se lesionou logo ao início de época que Soares ficou “isolado” como bombardeiro do FC Porto. Todavia, as lesões (sempre no início de cada época) forçaram a sua ausência até ao final de Janeiro, com Marega a ficar encarregado dos golos.
Ou seja, dos quase 40 jogos realizados pelos dragões esta época, Tiquinho Soares realizou 25 e foi autor de 15 golos e 6 assistências, em comparação com Marega que realizou 31 encontros, marcou 16 golos e assistiu por 10 ocasiões. Lembrar que Soares é um avançado muito mais dotado dentro da área que Marega e mais dedicado a aparecer como ponta-de-lança fixo, propriedades que colocaram-no na rota dos Dragões em 2016/2017.
Mas no final de contas, comparado com os últimos goleadores que passaram pelo Dragão, será que Tiquinho Soares está num nível inferior, igual ou superior? Vejamos alguns dos strikers (só considerámos pontas-de-lança) que passaram pela Invicta a contar em 2009:
Falcao (2009-2011, duas épocas) – 72 golos, com uma média de 0,87 golos por jogo
Kléber (2011-2012, duas épocas) – 11 golos, com uma média de 0,28 golos por jogo (Marc Janko chegou em Janeiro e só fez 5 golos)
Jackson Martínez (entre 2012 e 2015, três épocas) – 94 golos, com uma média de 0,69 golos por jogo
Vincent Aboubakar (2014-2019) – 56 golos, com uma média de 0,50 golos por jogo
André Silva (2015-2017) – 24 golos, com uma média de 0,49
Laurent Depoitre (2016-2017) – 2 golos, com uma média de 0,18 golos por jogo
Tiquinho Soares (2015-2019) – 38 golos, com uma média de 0,50 golos por jogo
Não há dúvidas que o “Rei” em número de golos é Jackson Martínez, mas se considerámos a média de golos por jogo temos Radamel Falcao, ficando os colombianos como o topo dos melhores pontas-de-lança que passaram pelo FC Porto.
Aboubakar vem logo atrás e não fosse o ano que esteve longe do clube (2016-2017) podia ter cimentado o seu lugar no top-3 ainda mais. E logo de seguida em 4º lugar vem Tiquinho Soares com 38 golos em três temporadas completas (chegou em Janeiro de 2015), num total de 76 jogos ao serviço dos Dragões.
Todavia, a média de golos é minimamente preocupante perante o que os colombianos Falcao e Jackson fizeram no Dragão e prova que realmente um dos problemas crónicos dos últimos 5 anos do FC Porto foram golos. Nem André Silva, nem Aboubakar ou Tiquinho Soares foram significado de uma veia goleadora constante, algo contrário ao que se passaram nos melhores anos do clube com ainda mais títulos no Século XXI em Portugal.
Vítor Pereira teve de se “agarrar” ao talento explosivo de Hulk durante a primeira temporada, para depois o problema se resolver com Jackson Martínez, algo que Julen Lopetegui pôde também contar apesar de ter fracassado redondamente em todos os objectivos, algo que antes tinha se passado com Paulo Fonseca. José Peseiro e Nuno Espírito Santo padeceram do mesmo problema e no final foi fatal para ambos.
Com a perda de qualidade no plantel dos azuis-e-brancos (e é um facto que é impossível de fugir, já que tem existido um desinvestimento preocupante por parte da SAD liderada por Jorge Nuno Pinto da Costa), os treinadores ficaram cada vez mais “isolados” e circunscritos a jogadores que não faziam golos em massa.
Só Sérgio Conceição conseguiu ser campeão sem ter no plantel um super-goleador, já que nem Yacine Aboubakar e Moussa Marega (que não é um ponta-de-lança puro e duro, até pelo posicionamento que assume no onze quando existe Aboubakar e Brahimi ao seu lado) atingiram a meta dos 30 golos cada.
Soares tem sido quase sempre uma escolha secundária por parte do treinador que só opta pela sua titularidade quando não tem Aboubakar disponível… ou mesmo Moussa Marega, optando mais por manter-se fiel às necessidades estratégicas do seu futebol (jogo em profundidade, velocidade nas alas, combate entre os últimos 30 metros e avançados que se movimentem com outra potência) do que apostar num ponta-de-lança mais fixo e que contribui pouco na construção do jogo ofensivo propriamente dito.
O brasileiro é um ponta-de-lança que prefere ficar mais centrado no trabalho dentro da grande área, não sendo um avançado que procura ajudar em demasia nas proximidades desses últimos 20/30 metros, algo bem visível nesta temporada. Soares procura conquistar a titularidade através da presença na área, do poder de fogo e da intensidade e dinamismos que cria na pequena área.
Porém, e respondendo à questão avançada, Tiquinho Soares não é um ponta-de-lança com capacidade para se afirmar como titular indiscutível no plantel até por um dado interessante: remates por jogo e eficácia.
Se Marega (não podemos falar por Aboubakar pois esteve de fora praticamente desde o começo do campeonato) fez 16 golos com uma média de 2,9 remates por jogo, já Soares precisa de 3,6 remates por jogo para fazer golos… é uma média que claramente demonstra a dificuldade do brasileiro em ser eficaz e em Alvalade falhou um golo clamoroso que podia ter dado a vitória aos Dragões (fez dois remates em 90 minutos, nenhum com perigo).
Frente aos principais rivais realizou 11 jogos, fez 3 golos e 1 assistência, números extremamente pobres quando se fala de um dos pontas-de-lança do plantel do FC Porto. Golos contra GD Chaves ou o Vitória FC são importantes, mas a afirmação contra os maiores acaba por ser decisiva a médio-prazo e Soares tem falhado quase por completo nesses momentos.
Quando faltam 3 meses para o final da temporada e não existindo Vincent Aboubakar, Moussa Marega e, possivelmente, até Yacine Brahimi, Soares vai ter que assumir o papel de decisivo até ao final da época. Será que consegue aguentar com a pressão e transformar-se num goleador superior e chegar à fasquia dos pelo menos 20 golos, algo que nunca fez desde que chegou ao Dragão?
A melhor exibição de Tiquinho Soares frente a um dos principais rivais do FC Porto
Foto de Destaque de José Coelho (LUSA)