A Lei do Mais Forte, ou como os promovidos à Liga NOS têm sobrevivido
Até que ponto os clubes promovidos da Liga Ledman Pro têm sobrevivido às exigências da Liga NOS? O que é preciso para aguentar com o maior ritmo e agressividade ofensiva da divisão máximo do futebol português? Vamos analisar os últimos três anos de promoções da 2ª para a 1ª liga, perceber quem resistiu e o que faz de um promovido num ano um caso de sucesso no outro.
Recordemos os últimos promovidos:
2017/2018 – CD Nacional e CD Santa Clara
2016/2017 – Portimonense SC e Desportivo das Aves
2015/2016 – GD Chaves e CD Feirense
2014/2015 – CD Tondela e União da Madeira
Não contando com os da época já findada, ficamos com o super-Portimonense de Vítor Oliveira, o último vencedor da Taça de Portugal Desportivo das Aves, o duro GD Chaves, o surpreendente Feirense e o sobrevivente (até à última) Feirense. Ou seja, dos últimos seis promovidos, cinco conquistaram a manutenção e têm cravado as suas “garras” na Primeira liga.
O União da Madeira, curiosamente, não só desceu logo após um ano na Liga NOS, como caiu em 2018 para o Campeonato de Portugal (apontámos algumas razões para a queda do União em 2017, pode lê-las aqui: um União sem União?).
Mas bem, o que Portimonense, Aves, Chaves, Feirense e Tondela têm em comum? Pouco, sendo que o denominador que uno passa pelo facto de terem se superado desde que chegaram à Liga NOS.
Exactamente como antes, vejamos as classificações desde as subidas:
2017/2018 – CD Feirense em 16º (31 pontos), CD Aves em 13º (34 pontos), CD Tondela em 11º (38 pontos), Portimonense SC em 10º (38 pontos) e GD Chaves em 6º (47 pontos)
2016/2017 – CD Tondela em 16º (32 pontos), GD Chaves em 11º (38 pontos) e CD Feirense em 8º (48 pontos)
2015/2016 – CD Tondela em 16º lugar (30 pontos)
QUEM SÃO OS SOBREVIVENTES E O QUE NOS CONTAM?
O Tondela, ao contrário do que se previu constantemente, agarrou-se ao lugar e tem sobrevivido de uma forma consistente. Existe um bom crescimento do clube, apesar da troca intensa de treinadores. Quim Machado, o treinador que os levou à promoção, saiu em 2014, passando a batuta para Vítor Paneira, depois Rui Bento, Petit (foi quem liderou a equipa durante mais tempo, com 42 jogos) e Pepa.
Tem sido o ex-jogador do SL Benfica e Varzim, a transformar a forma de jogar dos tondelenses, com um futebol mais positivo, dinâmico e que tenta não perder tanto tempo como alguns parceiros do mesmo patamar. Do plantel que subiu em 2014 para o que terminou a época em 2018, só constam Cláudio Ramos e Bruno Monteiro.
Será interessante perceber se o salto de 16º para 11º (mais 2 e 8 pontos em relação a 2015) em três épocas foi sobretudo mérito e trabalho, ou o contrário? Pepa trouxe algum positivismo ao futebol mais físico de Petit… porém, a nível de pontos colhidos, ambos os técnicos equipararam-se no final da temporada (5 vitórias para cada). Para já, nos momentos que importam, o Tondela resistiu e até vendeu muita cara a derrota contra o campeão FC Porto, conseguindo mesmo ganhar ao SL Benfica por 3-2 na penúltima jornada.
Seguindo para os promovidos em 2016, GD Chaves e CD Feirense têm sido boas surpresas no campeonato, especialmente os Bravos Transmontanos que efectivamente nunca estiveram em perigo de voltar a descer de divisão. Veja-se que quem os “promoveu” foi o Rei das Subidas, Vítor Oliveira, que depois seguiu para Portimão para repetir o feito, deixando um trabalho bem feito nos flavienses. Jorge Simão fez uma excelente primeira volta, o que lhe valeu uma ida para o SC Braga (não correu bem).
O Chaves desenvolveu um plantel tão bem conseguido, que possibilitou boas vendas como Assis e Paulinho para o SC Braga ou Freire em direcção ao Japão. Em sentido contrário, foram buscar atletas como Stephen Eustáquio (trinco de imensa qualidade, que faz parte das escolhas de Rui Jorge nos sub-21), Djavan, Jefferson (bem capturado ao Hajduk Split) ou Davidson (ex-Covilhã, foi uma das coqueluches do clube esta temporada).
Luís Castro guiou o Chaves até o fantástico 6º lugar e a chegada de Daniel Ramos é na óptica de manter a mesma lógica de sucesso até aqui encetada. Futebol prático, entusiasmante nas alas, bem conciso na construção de linhas de passe e uma defesa inteligente, que por vezes cede demasiado espaço ao adversário.
O seu outro colega de subida, CD Feirense, gozou de uma primeira época absolutamente fantástica na Primeira Liga, com 48 pontos conquistados, sendo o clube promovido da Ledman Pro com mais pontos conquistados, 48 no final da temporada de 2017. Nessa época, curiosamente, tinham começado mal com 9 derrotas em 14 jogos possíveis. José Mota não conseguiu um bom regresso à Liga NOS e acabou vítima de uma chicotada técnica, tendo deixado o clube no penúltimo lugar na altura.
Nuno Manta Santos, que até a esse momento era treinador de formação e adjunto da equipa principal, foi chamado a guiar a equipa, conseguindo-o com sucesso! Entrou a 20 de Dezembro no clube e em 2018 ainda é o treinador, o que se revelou uma excelente aposta por parte da SAD da formação de Santa Maria da Feira. Regressando a 2016/2017, Nuno Manta levou-os a conquistar 33 pontos, com vitórias frente ao Sporting CP, Rio Ave, CF “Os Belenenses”, SC Marítimo e Vitória SC a serem bons exemplos do que este elenco era capaz.
Melhor que tudo, é que tem conseguido vender jogadores a bom preço, como o caso de Vaná para o FC Porto (entre 2 e 3M€) e Etebo (Stoke City por uma quantia de 7M€), valorizando-se o plantel.
A época que findou agora em Maio não foi fantástica, uma vez que só garantiram a manutenção no último jogo do campeonato, e isto apesar de terem aplicado um futebol emotivo, enérgico e com bons protagonistas como Hugo Seco (não é de todo um “matador”, mas é um excelente apoio para o verdadeiro ponta-de-lança da equipa, de seu nome João Silva), Tiago Silva, Luís Rocha ou Caio Secco.
A queda para o 16º foi apenas um lapso ou uma introdução de uma possível descida em 2019?
A permanência conquista na última jornada
DE PORTIMÃO À VILA DAS AVES, DE UMA BOA ESTRUTURA A UMA NECESSÁRIA REVOLUÇÃO
E, finalmente, vamos falar de dois promovidos que tiveram também sucesso no seu 1º ano de subida: Portimonense SC e CD Aves. A equipa algarvia conseguiu convencer Vítor Oliveira a ficar (algo que já não acontecia desde 2011, altura em que o treinador manteve-se no Arouca por dois anos) e essa foi uma das chaves para o sucesso. A manutenção do técnico guiou o clube a uma classificação histórica, com 38 pontos, algo nunca antes atingido.
Uma equipa maleável, rápida, que coloca uma excelente intensidade no último terço do terreno (Nakajima, Fabricio e Tabata foram sensacionais nesse aspecto) e com uma defesa inteligente, que muito deve à arte e engenho de Vítor Oliveira.
Com a manutenção garantida e as bases para a vitória lançadas, o Portimonense parece ter sedimentado o seu lugar na Liga NOS… contudo, quem vai guiar esta equipa que tem sido construída desde 2016?
O CD Aves ultrapassou um início de época complicado e que parecia destinado a terminar nos últimos lugar, porém, o plantel redefiniu-se a meio da temporada e relançou a sua sobrevivência na Liga NOS.
Foram dos últimos a garantir a sua manutenção, mas José Mota (se a experiência no Feirense correu mal, em Vila Nova das Aves teve um final feliz) operou a tal revolução baseada numa equipa móvel, dura fisicamente, com rotinas de jogo bem desenvolvidas, baseando-se mais num futebol de contra-ataque.
A vitória no final da Taça de Portugal foi exemplo dessa renovação que José Mota trouxe consigo… o Sporting CP foi apanhado no jogo de contra-ataque da formação avense, com Guedes (um dos melhores do Aves, com uma temporada que terminou com 5 golos e 8 assistências), Amílton e o internacional português, Paulo Machado, a darem uma série de vitaminas ao onze.
Mas realmente mereceram ficar na 1ª liga? Quando mais contou, ganharam os pontos necessários batendo o Feirense, Estoril e Moreirense (isto nos últimos 5 jogos) coleccionando os pontos que os salvaram de voltar à Liga Pro.
A LEDMAN PRO DE ATÉ AGORA FAZ SENTIDO?
Olhando para estes elementos todos, o que há para perceber? É que desde que entraram as equipas B em “exercício” (voltaram em 2012) na Ledman Pro e se aumentou o número de equipas na Segunda Liga de 16 para 22 (nesta temporada, 20) a competitividade aumentou exponencialmente.
Não só isso, como também forçou aos clubes realizar um investimento mais ponderado, concentrado e sério. Notem que entre 2012 e 2018, dos 12 promovidos 7 ainda estão, hoje em dia, na Ledman Pro, existindo uma boa taxa de sucesso dos promovidos ao primeiro escalão.
Curiosamente, a maioria das equipas que caíram do primeiro escalão para o segundo, tiveram sérias dificuldades para se reerguerem, caso da Académica de Coimbra, União da Madeira, Arouca FC ou FC Penafiel.
Será interessante ver o que acontecerá ao CD Santa Clara e CD Nacional na Liga NOS e, por outro lado, se o Estoril-Praia e FC Paços de Ferreira (com Vítor Oliveira ao comando…) sobrevivem à queda na Ledman Pro.
Será a segunda liga portuguesa um campeonato de sucesso?
A Taça de Portugal na mão do Aves