Centralismo no Futebol: Quem é mais representado na Primeira Liga?

José Nuno QueirósMaio 28, 20217min1

Centralismo no Futebol: Quem é mais representado na Primeira Liga?

José Nuno QueirósMaio 28, 20217min1
Pinto da Costa sempre se mostrou contra o centralismo em vigor no Sul do país. Será este aspeto verdade dentro das 4 linhas?

Desde que chegou ao comando da direção do Futebol Clube do Porto que Jorge Nuno Pinto da Costa tem tentado passar a ideia de um centralismo instalado no Sul do país, nomeadamente na cidade de Lisboa. Este seu discurso foi sempre pautado por várias áreas da sociedade, nomeadamente ao nível das questões políticas.

No entanto, não é menos verdade que muitas destas críticas foram, e continuam a ser, direcionadas para o futebol, pelo que decidimos deixar de lado toda a vertente “extra-futebol” e usar esta ideia para verificar de que forma foi desenhado o mapa do nosso país na Primeira Liga desde que o presidente portista chegou e começou a alertar para o problema.

Esteve o futebol português centrado no Sul do país com epicentro na AF Lisboa? Continuará este discurso a fazer sentido nos dias que correm?

Fomos então analisar os campeonatos realizados desde que Pinto da Costa assumiu a presidência do FC Porto em 1982, dividindo o País em 3 Regiões (Norte, Sul e Ilhas), sendo que a região Norte é geograficamente mais pequena que a região Sul, uma vez que para efeitos de contagem, clubes como a Académica e a Naval ou o Sporting da Covilhã foram considerados como pertencentes ao Sul do País nesta amostra.

Como Começou

Ainda antes de ser presidente, Pinto da Costa foi diretor do clube no futebol em 1976. Nesse mesmo ano, o panorama era o seguinte:

Norte: 7 equipas, sendo 4 da AF Porto (Porto, Boavista, Leixões, Varzim)
Sul: 9 equipas sendo 5 da AF Lisboa (Sporting, Benfica, Atlético, Belenenses, Estoril)

Era de facto uma liga virada para o Sul do país e com um ascendente de Lisboa sobre o Porto, ainda que muito reduzido. No entanto, a realidade é que este acaba por ser um ano atípico quando comparado com os seguintes, porque só em outras 3 temporadas é que o Sul teve tantas equipas como neste ano.

Logo depois a tendência começou a inverter-se com o Norte a dominar as operações até à época de 81/82 na qual ambas as regiões colocavam 8 equipas na Primeira Liga, tendo a AF Lisboa e a do Porto 4 equipas cada.

O Centralismo do final do século XX

No ano de 82/83, primeira época completa de Pinto da Costa enquanto presidente, o futebol português estava centralizado… no Porto com 5 equipas da AF Porto (Porto, Boavista, Salgueiros, Rio Ave e Varzim) contra 3 da AF Lisboa (Sporting, Benfica e Estoril), com o Norte a ter mais uma equipa que o Sul.

Até à época de 93/94, o Porto teve sempre, no mínimo, as mesmas equipas que Lisboa, sendo que em 3 delas atingiu o seu máximo de 6 equipas, tendo em 2 temporadas colocado o dobro das equipas comparativamente à capital.

Já no que ao Sul e Norte diz respeito até 93/94 o Norte dominou o Sul em todas as épocas tendo colocado em 92/93 12 equipas na primeira liga, mais do dobro do que o Sul do País.

Foi apenas na época 98/99 que se viu um Sul mais expressivo que a região Norte, com a AF Lisboa a igualar a AF Porto em equipas pela terceira vez desde 1982.

No final do século assistiu-se à primeira vantagem da AF Lisboa (Sporting, Benfica, Estrela Amadora; Alverca e Belenenses) sobre a AF Porto (Porto; Boavista, Salgueiros e Rio Ave) , mantendo o Sul domínio sobre o Norte, algo que se inverteu logo no início do século.

A equipa do Benfica que terminou com o domínio do Porto, num ano em que Lisboa dominava a Primeira Liga. (Fonte: SL Benfica)

O Passado mais recente

Olhando para o século XXI vemos que a história manteve-se. Só em 4 épocas o Sul dominou o panorama do país, mas nunca atingiu sequer os 9 clubes, algo que o Norte atingiu por 6 vezes, a que se juntam 3 épocas com 10 clubes e 3 épocas com 11 clubes.

A AF Porto encabeçou quase sempre as operações do desenho da tabela, tendo apenas por 2 vezes visto a AF Lisboa a colocar mais equipas que a sua Associação. Foi em 2003/2004 (Benfica; Sporting; Belenenses; Alverca e Estrela Amadora vs Porto; Boavista; Rio Ave e Paços de Ferreira) e em 2013/2014 (Benfica; Sporting; Estoril e Belenenses vs Porto; Rio Ave e Paços de Ferreira).

De destacar é também o crescimento exponencial da AF Braga que ganhou a sua máxima expressão aquando da subida do Gil Vicente na secretaria para perfazer um total de 5 equipas, algo que irá ser batido já em 2021/2022 com a chegada do Vizela à primeira liga pela segunda vez.

Nesta época que agora findou o futebol português ficou com esta configuração:

Norte: 10 equipas (4 da AF Porto)
Sul: 5 equipas (3 da AF Lisboa)
Ilhas: 3 equipas

O único técnico da era Pinto da Costa que foi campeão em pleno domínio da AF Lisboa. (Fonte: UEFA)

Estatísticas Gerais sobre o Centralismo:

Nas suas 39 épocas enquanto presidente do Porto, Pinto da Costa viu o Norte ter mais equipas que o Sul do país em 30 dessas mesmas épocas, igual número em 3 épocas e apenas se viu em inferioridade em 6 temporadas.

Terá a geografia dos adversários impacto nas épocas do Futebol Clube do Porto?

Com mais equipas: 16 títulos em 30 possíveis (53%)
Com o mesmo número: 2 títulos em 3 possíveis (67%)
Com menos equipas: 4 títulos em 6 possíveis (67%)

Como podemos ver, este fator não teve relevância na superioridade portista com o porto a ganhar sempre mais de 50% dos troféus nos anos referidos, com a particularidade de ter sempre mais um título que os rivais juntos.

Mas e o peso de Lisboa e Porto? Terá tido influência?

Nas 39 edições a AF Porto teve mais equipas que a AF Lisboa em 24 delas, o mesmo número em 11 delas, e apenas em 4 ocasiões a AF Lisboa teve mais clubes que a do Porto (93/94; 99/00; 03/04; 13/14), o que a nível de títulos se traduz em:

Com mais equipas: 15 títulos em 24 possíveis (63%)
Como mesmo número: 6 títulos em 11 possíveis (55%)
Com menos equipas: 1 título em 4 possíveis (25%)

Neste aspeto já se nota um maior ascendente da equipa portista quando a sua associação é mais representada, apesar da pouca representatividade das épocas em que tal não sucedeu. No entanto, pelo menos do ponto de vista matemático é um facto que o Porto beneficia mais tendo os seus vizinhos por perto, da mesma forma que Sporting e Benfica também beneficiaram nas poucas épocas em que tinham mais vizinhos do seu lado.

A título de curiosidade só numa única temporada o Sul e Lisboa estavam mais representados que Norte e Porto, respetivamente. Foi em 99/00 e o campeão acabou por ser uma equipa de Lisboa, o Sporting.

Conclusões

Olhando para estes números fica claro que a ideia do Centralismo de Lisboa, no que ao futebol português diz respeito, não faz qualquer sentido, uma vez que nos seus 39 anos a presidir, Pinto da Costa viu o Norte ter maior ou igual número de equipas que o Sul em 85% dos campeonatos. Já a AF Porto dominou ou igualou a AF Lisboa em 90% das temporadas.

Se a este facto juntarmos que a própria sede da Liga se encontra na cidade do Porto, fica muito difícil compreender a existência de centralismo dentro das quatro linhas… é que os factos demonstram um claro centralismo do futebol português, mas este está situado a Norte e com epicentro em Braga e no Porto.

Na próxima época vamos ter 11 equipas do norte do país contra 5 do Sul, em mais uma luta desigual no que à Geografia diz respeito.


One comment

  • Manual Martins

    Maio 31, 2021 at 10:15 pm

    Mais importante do que a desigualdade, é “os homens certos nos lugares certos”. ( Luís Filipe Vieira)

    Reply

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