Os Três Pecados Capitais da Estrutura do SL Benfica
A Estrutura do SL Benfica parece não ter aprendido com os erros da passada temporada e prepara o caminho para uma época cheia de dúvidas, muito por culpa das suas decisões inenarráveis, desde maus julgamentos a nível desportivo, envolvimentos em disputas legais e incapacidade de comunicar com os seus adeptos de uma forma clara e inequívoca, com transparência.
E porque os resultados, ao contrário daquilo que se vende de forma corriqueira e quase desleixada, não são tudo e a forma como se ganha é também importante, o Fair Play decidiu analisar os 3 Pecados Capitais praticados pela Estrutura Desportiva do SL Benfica, com Luís Filipe Vieira encabeçando-a, como Presidente da SAD.
1º Pecado – A Manutenção do Treinador
O Pecado mais aceitável e compreensível, ainda que não deixe de ser uma decisão, no mínimo, questionável. A campanha europeia mais vergonhosa da história de um clube português, com história na competição, a eliminação precoce da Taça da Liga e da Taça de Portugal e o segundo lugar na Liga NOS (largamente consentido pelo Sporting CP) não foram suficientes para que a SAD encarnada terminasse o contrato com o técnico ribatejano.
Se é verdade que Luís Filipe Vieira não tem o hábito de despedir treinadores (a última vez que o fez foi há 12 anos com Fernando Santos), também é verdade que os benfiquistas, depois de um Tetracampeonato, apresentam um grau muito maior de exigência e exigiam a conquista do Pentacampeonato, um feito único do FC Porto.
A tentativa de conquista do Pentacampeonato foi desastrosa e muita da responsabilidade vem da Direção, que vendeu 4 jogadores da equipa titular e os substituiu por jogadores de qualidade duvidosa. No entanto, desengane-se quem considera que o plantel do SL Benfica não era suficiente para fazer frente aos dois rivais. Os quadros do SL Benfica possuem jogadores que teriam lugar em qualquer plantel dos três grandes, sendo necessário que a diferença provenha do banco de suplentes.
E foi aqui que a Direção encarnada falhou. Rui Vitória falhou em toda a linha: desde o lançamento de jovens (basta olhar para a forma como Diogo Gonçalves, Svilar e João Carvalho foram lançados e não esquecer que o sucesso de Rúben Dias não justifica os falhanços anteriores, já para não falar da escassa evolução do central português ao longo dos últimos 6 meses), passando pelo futebol absolutamente horrendo e terminando na política de comunicação politicamente correta, que tudo e nada diz, em simultâneo.
Rui Vitória já demonstrou por mais que uma vez não ser treinador suficiente para o SL Benfica, não obstante a sua postura correta e uma gestão de balneário interessante. Se a Direção quer manter Rui Vitória ao leme do clube, tem que lhe fornecer armas superiores a todos os outros clubes, para que a qualidade individual decida aquilo que o banco não consegue fazer. O que nos leva ao 2º Pecado…
2º Pecado – A Política de Contratações e as “Loucuras”
Os últimos 3 anos foram marcados pela criação de uma narrativa cómoda para a SAD encarnada e que ia ao encontro das necessidade emocionais dos adeptos benfiquistas: o Seixal seria a fonte de jogadores principal para a equipa principal da Luz. Todas as mudanças efetuadas nos últimos anos, começando pelo treinador principal, tiveram em mente essa mesma necessidade de rentabilizar um meio altamente negligenciado.
No entanto, alguém se esqueceu de fazer uma pesquisa acerca de quantas equipas conseguem ser formadoras e lançar jovens prodígios enquanto mantém a sua cultura de exigência e o seu pedigree de vitórias. E até nem seria uma pesquisa muito longa, porque não existem esses clubes. A vitória, a conquista, surge sempre da qualidade, tanto coletiva como individual, e o Seixal, por muitos craques que tenha criado nos últimos anos, não fornece aos jogadores a maturidade nem o salto evolutivo que apenas o tempo de jogo em ligas competitivas fornece.
A política de contratações passou a espelhar essa grande vontade de olhar para dentro de portas, preferindo-se adaptações de posição, promoção de jogadores a escalões superiores e, até, o lançamento desenfreado de jovens valores às feras, para um crescimento forçado e sem nenhuma base sólida. É impensável para o comum dos mortais que, em ano de possível conquista de Tetra-campeonato, com o FC Porto intervencionado pela UEFA e o Sporting CP sempre volátil, graças à dupla de ex-treinador/ex-presidente, a Direção tenha decidido desinvestir, que o reforço mais caro tenha sido emprestado ao Desportivo das Aves e que a lesão do jogador que revolucionara o futebol encarnado não tenha suscitado uma ida ao mercado.
E se fizermos o exercício de considerar que o que lá vai, lá vai, parece claro que a Estrutura Encarnada ainda não aprendeu com os seus erros, teimando em não reforçar o plantel de maneira adequada. Olhando para os reforços atuais, parece claro que apenas Ferreyra parece ter qualidade para se assumir como aposta inequívoca, com todos os outros reforços a surgirem como incógnitas. Rui Vitória parece também não ser capaz de extrair o melhor dos jogadores que recebe, optando por um 4x3x3 quando a maior qualidade individual é passível de ser integrada no 4x4x2, e também através da preferência por um tipo de jogador mais físico, menos cerebral, o que implica uma mudança no paradigma de contratações do SL Benfica (estará a saída de José Boto relacionada com esta mudança?).
A crise do Sporting CP veio fornecer um plano de fuga ao presidente encarnado, que prometeu “loucuras” para mascarar uma época menos conseguida. Mas passado 1 mês, nenhum jogador de Alvalade assinou pelo clube da Luz e tudo pareceu mais uma tentativa da direção desviar focos e iludir os adeptos com promessas de negócios qua acabam por não se concretizar.
No fundo, a Direção reforça o plantel de maneira errática, investindo em pontas-de-lança quando o plantel já tinha qualidade na posição, não investindo seriamente num guarda-redes, num lateral direito ou num médio centro com perfil de 8, e contratando 2 centrais sem provas dadas, enquanto renova com Luisão, um líder de balneário francamente caro. E tudo isto nos leva ao 3º Pecado e ao mais gritante…
3º Pecado – A saída do Pistoleiro
Há jogadores que, não obstante a sua idade, passeiam um perfume e uma qualidade que apenas está ao alcance dos predestinados. O melhor jogador da Liga Portuguesa, o 2º melhor marcador estrangeiro da história do Sport Lisboa e Benfica, com 122 golos marcados em apenas 4 épocas, é um jogador que, mesmo com 34 anos, está a anos-luz dos seus colegas de equipa. E, não obstante a teimosia do Pistoleiro em marcar, fazer jogar, e empurrar o SL Benfica para 4 títulos nos últimos 5 anos, a Direção optou por abdicar do jogador mais influente do plantel e, discutivelmente, o melhor jogador do clube da Luz neste século.
Muitos argumentarão que serão questões do foro físico (lombalgias e outros problemas crónicos?), questões financeiras (salários mais elevados compensarão a perda de um estatuto e de uma visibilidade única em Lisboa?) ou até questões táticas (Rui Vitória sempre pareceu “forçado” a incluir Jonas no seu modelo de jogo, um jogador que teimava em contrariar o seu estilo de jogo direto e pouco pensado), mas nada justifica a saída do melhor jogador do campeonato português, por preço algum. Tal como com a saída de Cardozo, onde foi vendida uma narrativa de vontade do jogador e de problemas físicos (situações que acabaram por ser desmentidas, pelo tempo), a saída de Jonas parece demonstrar um mercantilismo atroz sem nenhum tipo de respeito pelo adepto benfiquista.
A saída de Jonas não é apenas a saída de um jogador inigualável: é um murro nos estômago dos adeptos que sempre apoiaram a equipa, mesmo na sequência de inúmeras decisões questionáveis, escândalos legais e humilhações desportivas. Fica mais pobre o SL Benfica e o Futebol Português e a Estrutura Encarnada começa a jogar roleta russa com 5 balas na câmara do revólver.