O que nos dizem as movimentações de mercado do Benfica?

Pedro AfonsoJunho 25, 201810min0

O que nos dizem as movimentações de mercado do Benfica?

Pedro AfonsoJunho 25, 201810min0
Uma análise cuidada às movimentações da SAD encarnada podem dar-nos uma ideia daquilo que serão as pretensões e a visão para a próxima época para o Benfica.

Findada a desastrosa época do clube da Luz, não demorou muito até surgir uma reação no mercado por parte da ilustre “Estrutura”. Seja por uma questão de compreensão da necessidade de fornecer jogadores com qualidade suficiente para colmatar as gritantes falhas táticas de Rui Vitória, seja por uma questão de garantir o apoio dos adeptos (que muito contestaram a SAD ao longo deste ano), Luís Filipe Vieira parece disposto a abrir os cordões à bolsa para levar o campeonato de volta para Lisboa.

Com cerca de 14M€ investidos até ao momento, mais do que aquilo que foi investido na passada época em todos os mercados de transferência, parece claro que a SAD sentiu o “aperto” e que este ano será decisivo tanto para a popularidade de Luís Filipe Vieira como para a continuidade de Rui Vitória. Neste artigo, olhamos para as saídas e entradas até ao momento e refletimos sobre o seu significado em termos táticos para a próxima época.

As entradas

As entradas de jogadores para a próxima época começaram a ser preparadas já durante a época transacta, com jogadores como Vlachodimos, Ebuehi Yuri Ribeiro a serem confirmados como parte integrante do plantel para a próxima época. Destes, apenas Yuri Ribeiro terá um papel perfeitamente definido para a próxima época, sendo que a saída de Eliseu será devidamente colmatada por um jogador com características muito semelhantes e que vem de uma época muito positiva ao serviço do Rio Ave. Por sua vez, Vlachodimos parece ser uma lufada de ar fresco, mesmo que a grande maioria dos adeptos não conheça nada acerca do guardião. A confrangedora época de Bruno Varela não deixa saudades nos adeptos que pretendem uma mudança rápida e eficaz no guardião encarnado. Se é Vlachodimos esse jogador, ainda é cedo para dizer, mas será a opinião de muitos adeptos que pior a baliza não ficará. Ebuehi surge como uma agradável surpresa, quer pelo custo associado (ou seja, nenhum), quer pela sua convocatória para o Mundial da Rússia. Jogador com características muito distintas dos laterais direitos no plantel do Benfica atualmente, poderá ser uma das cartadas para a próxima época.

Apesar de três reforços, as movimentações foram tímidas antes do final da época, até porque um milagre poderia dar o campeonato aos encarnados. Como o milagre não chegou, os alarmes soaram e os jogadores começaram a chegar. A contratação mais “bombástica” até ao momento foi claramente o avançado italo-argentino Facundo Ferreyra. O melhor marcador do Shakhtar na época passada chega a custo zero ao clube da Luz. Avançado mortífero na área, com um perfil distinto de todos os avançados no atual plantel encarnado, Ferreyra tentará reeditar o papel de Mitroglou (o jogador que não teria lugar no plantel encarnado, segundo LFV) numa dupla mortífera com Jonas. Jogador claramente talhado para outros voos que não a Liga NOS, surge como a contratação do defeso até ao momento e será muito difícil suplanta-la.

Um verdadeiro craque (Fonte: Record)

Para a frente de ataque surge também Nicolás Castillo, avançado do Pumas que conta com passagens pela Europa ao serviço do Club Brugge, Frosinone e Mainz. O avançado chileno, portento físico e com um pulmão enorme, possui um perfil bastante semelhante ao de Raúl Jiménez, pelo que a sua contratação significaria a saída do mexicano (que se veio a confirmar). Com um custo de cerca de 7M€, trata-se do maior investimento encarnado até ao momento, sendo que os adeptos olham para esta contratação com curiosidade dado o investimento avultado num sector que nunca se assumiu como problemático para o clube da Luz.

Para além de Ferreyra, será de mencionar que a Estrutura compreendeu as limitações existentes no centro da defesa encarnada, com Luisão claramente sem capacidade para ser opção, com Jardel a iniciar o seu declínio natural e Rúben Dias ainda com algumas lacunas típicas da sua idade. Assim, a SAD garantiu os dois centrais argentinos que figuraram na equipa do ano da Liga Argentina: Germán Conti Cristian Lema. O primeiro chegou do Colón a troco de 3,5M€ e o segundo a custo zero, demonstrando uma boa movimentação no mercado por parte da SAD. A verdade é que os centrais argentinos possuem um estilo de jogo bastante próprio e que tende a passar dificuldades no futebol Europeu, pelo que será de esperar uma primeira época de adaptação. No entanto, são duas lufadas de ar fresco num sector altamente limitado e por onde passaram muitos dos problemas das duas últimas épocas.

Conti é uma das apostas para a sucessão no centro da defesa (Fonte: Record)

As saídas

Até ao momento, e tendo em conta a paupérrima época de alguns dos elementos do plantel encarnado, as vendas operadas pela SAD encarnada surgem como surpreendentes e longe de resolver o problema do plantel. Em primeiro plano surge o empréstimo de Raúl Jiménez ao recém-promovido Wolves. O mexicano pode ter limitações ao nível da construção de jogo e do seu contributo com bola no pé para um ataque continuado, mas correspondeu sempre que chamado e não foi por ele que o Benfica não chegou ao tão desejado penta. Uma saída surpreendente, até porque os 3M€ pagos pelo empréstimo e os potenciais 38M€ pela sua compra definitiva (que qualquer pessoa deverá compreender que são irrealistas para um jogador como Raúl) não compensam a sua perda e Castillo é ainda uma incógnita apesar do valor investido na compra do seu passe.

Uma saída injusta (Fonte: Record)

Mas mais curioso será verificar como a aposta na Formação Encarnada cai por terra assim que os títulos escasseiam: João Carvalho, um dos jogadores mais talentosos a sair do Seixal nos últimos anos, é vendido pelos famosos 15M€ para o Nottingham Forest. Este negócio assume-se como ruinoso a demasiados níveis, fazendo lembrar a venda de Bernardo Silva, João Cancelo e Rúben Neves (este último por ter sido vendido para o Championship). Carvalho nunca teve as oportunidades necessárias para singrar nem uma aposta verdadeiramente condizente com a sua qualidade. A sua venda é surpreendente e, juntamente com o empréstimo de Diogo Gonçalves e a venda de Buta, demonstram a falácia da aposta na formação que tanto foi apregoada nos últimos três anos.

Um enorme talento desperdiçado (Fonte: Record)

Será também importante relembrar a saída de 4 jogadores que se encontravam fora dos quadros encarnados para a época transacta, mas que teriam, certamente um papel a desempenhar caso retornassem ao clube da Luz: André Horta; Bryan Cristante; Luka Jovic; Talisca. 

O medio português emprestado ao Braga foi vendido por cerca de 6M€ ao Los Angeles FC, num negócio que parece ruinoso para ambas as partes: o Benfica recebe uma fração do real valor e potencial do médio português e o médio parte para uma liga pouco competitiva onde pode claudicar o seu desenvolvimento. Tendo em conta a época horrenda de Pizzi e a falta de opções para a posição de criador de jogo, não se compreende a falta de aposta num jogador que já demonstrou a sua qualidade com a camisola encarnada.

O caso de Cristante é distinto, uma vez que, por falta de aposta e também de correspondência exibicional, as suas prestações ao serviço do SL Benfica nunca justificaram a sua permanência no plantel. No entanto, a grande época ao serviço da Atalanta valeram-lhe uma saída para a Roma por 30M€, dos quais o Benfica apenas recebeu 5M€, dada a baixíssima cláusula de opção negociada com a Atalanta. Aliás, será também este o caso de Luka Jovic, vendido por 12M€ ao Frankfurt, numa cláusula de opção mal negociada, um habitué para a SAD encarnada.

Por fim, Talisca foi emprestado aos chineses do Guangzhou Evergrande, num negócio com contornos estranhos, tendo sido anunciado um empréstimo de apenas 6 meses. Independentemente de uma cláusula de compra obrigatória ou uma potencial venda por largos milhões, o brasileiro é dotado de um talento enorme e seria titularíssimo (e um digno herdeiro de Jonas) no 11 do Benfica. No entanto, nem os adeptos admitiriam o regresso de um atleta que “cuspiu” e desrespeitou o clube nem Talisca parece ter o profissionalismo para singrar num clube de topo europeu. Uma pena, mas uma saída necessária.

O que nos dizem as contratações?

As movimentações de mercado até ao momento demonstraram uma clara vontade do Benfica em assegurar um plantel suficientemente competitivo para a próxima época e uma percepção da “culpa” da SAD na vergonhosa campanha da época transacta.

Por um lado, não deixa de ser curioso verificar a remodelação do ataque encarnado, que demonstrou sempre qualidade, à excepção de Seferovic, evidenciando que poderá estar à vista um retorno ao 4x4x2 que caracterizou o clube da Luz durante os últimos 10 anos e que tantos sucessos trouxe. A saída extemporânea de Mitroglou vem ser colmatada pela entrada de Ferreyra e Castillo parece ser uma aposta para a criação de um novo Lima, batalhador em prol da equipa e, neste caso, de Jonas.

Por outro lado, a chegada de dois centrais com créditos firmados na Argentina demonstra a necessidade sentida para remodelar o centro da defesa, onde o velhinho Luisão já não serve e as opções não abundam. Jardel e Rúben Dias fizeram um final de época interessante e será uma incógnita a dupla de centrais à entrada para a próxima época. A entrada de dois centrais significará, também, a saída de um dos centrais do plantel, que poderá ser Rúben Dias, para tristeza dos adeptos encarnados.

Continua, contudo, sem ser uma prioridade para o clube encarnado o reforço do meio-campo, apesar da paupérrima época de Pizzi e a falta de opções presentes no plantel. O regresso ao 4x4x2 poderá significar que Krovinovic será tido em conta como o substituto natural de Pizzi, no entanto um jogador com características mais físicas urge para a posição de número 8. É uma lacuna com já dois anos e que a SAD continua a não querer colmatar. Adicionalmente, Vlachodimos é uma incógnita e a lateral direita encarnada continua a não dar segurança para um clube que se quer grande.

Guilavogui traria algo que o plantel não tem desde a saída de Renato Sanches (Fonte: Sapo Desporto)

Ainda faltam dois meses para o final do mercado e com certeza novas saídas e entradas serão expectáveis. No entanto, os adeptos encarnados podem tirar algum conforto de ver que os seus pedidos estão a ser acedidos e que o Benfica terá, novamente, um plantel competitivo.


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