Dias de afirmação

De talento estão as academias de formação cheias, mas para vingar a curto prazo no palco dos graúdos é preciso algo essencial: maturidade. Estará Rúben Dias já integrado após o seu lançamento às feras?

Com apenas vinte anos, Rúben acumula já seis jogos consecutivos como titular. Depois de uma fase em que fora utilizado de forma intermitente (Rui Vitória procurou resguardá-lo na visita ao Basileia), o “miúdo” já apareceu no onze nos dois confrontos com o Manchester United, entre outros da competição interna. Surpresa? Só para quem não acompanhou os testes de fogo deste promissor defesa central.

Com 1,87m, o jovem português está longe de ser um central lento. Com uma condição física admirável para a sua idade, Ruben é já um central robusto, imponente nas alturas e com uma capacidade de decisão fundamental para uma equipa da exigência dos encarnados. Perspicaz na primeira fase de construção ofensiva, não tremeu contra os gigantes e confirmou todas as expectativas que se foram criando perante as suas boas exibições no campeonato.

Depois de já ter atuado de forma exemplar a central pela direita (a sua zona preferencial) fazendo parelha com Jardel, na mais recente visita a Guimarães foi “obrigado” a atuar pela esquerda por força da entrada no onze de Luisão, que já se sabe é quem, em condições normais, comanda a linha defensiva. O resultado? Nova exibição de se lhe tirar o chapéu. Perante Tallo, avançado possante vitoriano, Rúben Dias não se encolheu e encurtou-lhe os espaços, anulando parte da estratégia de Pedro Martins para a partida.

Numa noite em que o conjunto da cidade berço entrou para a segunda parte com a corda toda, o jovem central foi quem mais varreu o perigo, quer em contra-ataques, bolas paradas e até na tentativa de jogo direto dos vimaranenses. De toda a linha defensiva, foi mesmo o “miúdo” a tornar-se graúdo, colocando-se em destaque como o melhor do quarteto.

Se dúvidas houvesse acerca da necessidade de ter Rúben Dias no onze, o próprio tratou de dissipá-las nos últimos jogos. Luisão tem agora um novo aprendiz, dos mais jovens que já teve, embora provavelmente dos mais promissores também. Da experiência do velho capitão para a projeção da jovem promessa, passarão os ensinamentos que serão essenciais para a melhoria da sua cultura tática.

Rúben Dias tem tudo para ser o grande sucessor de Luisão a curto prazo, até mesmo no que toca a envergar a braçadeira. Contudo, no estado atual do futebol internacional, a elevar o nível a cada passo, não será fácil para os encarnados combaterem os milhões dos tubarões europeus.

Com o seu nome bem patente já entre os graúdos, o maior prémio que o jovem português pode ainda almejar é a chamada à seleção principal. Numa altura em que a seleção portuguesa vai preparando o Mundial de 2018, é sabido da veterania dos centrais portugueses, que vão atravessando também lesões, como é o caso de José Fonte.

Num caso semelhante ao que aconteceu com Renato Sanches, que em menos de um ano passou a titular do Benfica e peça importante na conquista do Campeonato Europeu, Fernando Santos está certamente atento à progressão de Rúben e a experiência mostra que o selecionador não terá qualquer problema em lançar o jovem caso considere necessário.