FC Porto: Palmarés + Hegemonia > Democracia
É impossível pensar no Futebol Clube do Porto e não vermos a figura de Jorge Nuno Pinto da Costa.Para os portistas uma figura que significa títulos, conquistas europeias e mais do que isto, uma afirmação do bairrismo cultural portuense, que foi ganhando força muito por “culpa” do seu pensamento. Incutir a ideia no clube e na cidade de que, “somos nós contra o sul” e “o norte é sempre prejudicado”, não é para qualquer um.
É inegável o que ele fez no clube. São duas Taças dos Campeões/Liga dos Campeões, duas Taças Intercontinentais, duas Taças UEFA/Liga Europa, uma Supertaça Europeia, 21 Campeonatos Nacionais, 12 Taças de Portugal e 20 Supertaças. É o presidente mais titulado do mundo!
Além dos títulos, também coleciona polêmicas. São inúmeras as vezes em que abre guerras contra os seus rivais de Lisboa (Benfica e Sporting) e fala abertamente quando se sente prejudicado. Pelo meio, ainda esteve envolvido num caso de corrupção, o famoso apito dourado que rolou entre o ano 2004 e só terminou no ano de 2008.
Como referido anteriormente, uma figura e tanto no universo portista e do futebol nacional. Mas parece que está a perder o toque de Midas. Desde 2014 que a estrutura diretiva do FC Porto sofre mudanças, e com isso vemos decisões ao nível do futebol muito questionáveis. Desde perder jogadores importantes a custo zero por não renovar contratos, vender jogadores promissores da formação ao desbarato e por fim, não conseguir contratar como outrora, nos mercados sul americanos e português. Algo que para mim é extremamente difícil de entender.
Como se perde algo que era quase imperativo? Manter ou vender muito bem os melhores activos, scouting de excelência e a cultura do “ser Porto” enraizada na estrutura do clube, de cima para baixo. Do miúdo ao graúdo. Hoje o panorama é paradoxal. O FC Porto já não é mais o mesmo.
Não bastasse isto tudo, ainda se vive um ambiente em que não se pode questionar nada a esta direção,como se fosse uma falta de respeito por quem já deu tanto. Algo que é bastante evidente quando se chega aos períodos eleitorais do clube.
Pinto da Costa não tem concorrência à presidência faz muito tempo, porém com estas mudanças todas, e vendo os seus rivais a recuperar terreno no requisito interno, vão surgindo nomes a querer o seu lugar. Bom, pelo menos existe um nome mais sonante que outros. André Villas Boas.
André Villas Boas já falou abertamente que um dia irá presidir o seu clube do coração, afirmação que não é novidade. O que surpreende aqui é a tentativa do FC Porto de apagar o seu passado no clube, em pleno início de apresentação de candidaturas à presidência.
Não acham estranho o marketing do clube ter apagado o ano de 2011 como um dos momentos mais marcantes, depois de AVB expressar publicamente que irá se candidatar à presidência?
Não acham estranho que vários núcleos portistas estejam já a separar o “trigo do joio” de quem está com Pinto da costa e quem não está?
Meus amigos, sejamos honestos. Não existem coincidências assim tão perfeitas no mundo futebolístico. Podemos até querer continuar com o status quo do clube, mas condicionar e limitar o pensamento de quem vê diferente é algo bastante errôneo e maldoso.
Tentar branquear o passado e os méritos de quem deu algo ao clube e expressa sempre o seu amor pelo mesmo é deselegante demais. É anti-democrático.
Numa notícia do JN escrita por Nuno Fernandes, podemos ler o que AVB falou há uns meses atrás:
“Parei a minha carreira até junho de 2024 e quero ter um papel ativo como sócio votante. Se é como candidato ou não, não sei, não consigo responder. Se tenho ou não as qualidades, prefiro que sejam os outros a dizer. Felizmente neste período em que me tenho dedicado à gestão desportiva, tenho encontrado pessoas que me motivam para determinadas coisas, entre as quais a presidência”.
Fecho esta crónica com a seguinte reflexão: antes de endeusar o actual presidente, vejam o estado actual do clube, vejam as finanças, vejam como está o nosso nível competitivo. Observem como os nossos rivais estão a lidar com esta nova era do futebol mundial. Está o FC Porto a caminhar para melhorar estas lacunas?
Caso Pinto da Costa vá para mais um mandato, ele terá quase 90 anos. E uma pessoa com 90 anos conseguirá ter “rasgo” para acompanhar esta indústria de entretenimento que é o futebol hoje em dia? E não venham dizer que o homem já não manda lá, que só assina cheques, porque isso é meramente uma ficção. Alguém com o histórico de PdC não se ia deixar ludibriar por sanguessugas.
Com isto em mente, analisem as candidaturas que “possivelmente” irão aparecer, e os pontos de mudança de cada candidato. Não esperem milagres de quem nunca os fez. Se Pinto da Costa construiu uma hegemonia no futebol português, foi com visão de mudança e certeza daquilo que estava a fazer. Será que continua com essa mesma ambição e visão?