FC Porto: Palmarés + Hegemonia > Democracia

Brás AssunçãoAgosto 3, 20236min0

FC Porto: Palmarés + Hegemonia > Democracia

Brás AssunçãoAgosto 3, 20236min0
Existirá democracia no FC Porto, ou o reinado de Jorge Nuno Pinto da Costa não pode ser contestado? Brás Assunção analisa a situação

É impossível pensar no Futebol Clube do Porto e não vermos a figura de Jorge Nuno Pinto da Costa.Para os portistas uma figura que significa títulos, conquistas europeias e mais do que isto, uma afirmação do bairrismo cultural portuense, que foi ganhando força muito por “culpa” do seu pensamento. Incutir a ideia no clube e na cidade de que, “somos nós contra o sul” e “o norte é sempre prejudicado”, não é para qualquer um.

É inegável o que ele fez no clube. São duas Taças dos Campeões/Liga dos Campeões, duas Taças Intercontinentais, duas Taças UEFA/Liga Europa, uma Supertaça Europeia, 21 Campeonatos Nacionais, 12 Taças de Portugal e 20 Supertaças. É o presidente mais titulado do mundo!

Além dos títulos, também coleciona polêmicas. São inúmeras as vezes em que abre guerras contra os seus rivais de Lisboa (Benfica e Sporting) e fala abertamente quando se sente prejudicado. Pelo meio, ainda esteve envolvido num caso de corrupção, o famoso apito dourado que rolou entre o ano 2004 e só terminou no ano de 2008.

Como referido anteriormente, uma figura e tanto no universo portista e do futebol nacional. Mas parece que está a perder o toque de Midas. Desde 2014 que a estrutura diretiva do FC Porto sofre mudanças, e com isso vemos decisões ao nível do futebol muito questionáveis. Desde perder jogadores importantes a custo zero por não renovar contratos, vender jogadores promissores da formação ao desbarato e por fim, não conseguir contratar como outrora, nos mercados sul americanos e português. Algo que para mim é extremamente difícil de entender.

Como se perde algo que era quase imperativo? Manter ou vender muito bem os melhores activos, scouting de excelência e a cultura do “ser Porto” enraizada na estrutura do clube, de cima para baixo. Do miúdo ao graúdo. Hoje o panorama é paradoxal. O FC Porto já não é mais o mesmo.

Não bastasse isto tudo, ainda se vive um ambiente em que não se pode questionar nada a esta direção,como se fosse uma falta de respeito por quem já deu tanto. Algo que é bastante evidente quando se chega aos períodos eleitorais do clube.

Pinto da Costa não tem concorrência à presidência faz muito tempo, porém com estas mudanças todas, e vendo os seus rivais a recuperar terreno no requisito interno, vão surgindo nomes a querer o seu lugar. Bom, pelo menos existe um nome mais sonante que outros. André Villas Boas.

André Villas Boas já falou abertamente que um dia irá presidir o seu clube do coração, afirmação que não é novidade. O que surpreende aqui é a tentativa do FC Porto de apagar o seu passado no clube, em pleno início de apresentação de candidaturas à presidência.

Não acham estranho o marketing do clube ter apagado o ano de 2011 como um dos momentos mais marcantes, depois de AVB expressar publicamente que irá se candidatar à presidência?

Não acham estranho que vários núcleos portistas estejam já a separar o “trigo do joio” de quem está com Pinto da costa e quem não está?

Meus amigos, sejamos honestos. Não existem coincidências assim tão perfeitas no mundo futebolístico. Podemos até querer continuar com o status quo do clube, mas condicionar e limitar o pensamento de quem vê diferente é algo bastante errôneo e maldoso.

Tentar branquear o passado e os méritos de quem deu algo ao clube e expressa sempre o seu amor pelo mesmo é deselegante demais. É anti-democrático.

Numa notícia do JN escrita por Nuno Fernandes, podemos ler o que AVB falou há uns meses atrás:

“Parei a minha carreira até junho de 2024 e quero ter um papel ativo como sócio votante. Se é como candidato ou não, não sei, não consigo responder. Se tenho ou não as qualidades, prefiro que sejam os outros a dizer. Felizmente neste período em que me tenho dedicado à gestão desportiva, tenho encontrado pessoas que me motivam para determinadas coisas, entre as quais a presidência”.

Fecho esta crónica com a seguinte reflexão: antes de endeusar o actual presidente, vejam o estado actual do clube, vejam as finanças, vejam como está o nosso nível competitivo. Observem como os nossos rivais estão a lidar com esta nova era do futebol mundial. Está o FC Porto a caminhar para melhorar estas lacunas?

Caso Pinto da Costa vá para mais um mandato, ele terá quase 90 anos. E uma pessoa com 90 anos conseguirá ter “rasgo” para acompanhar esta indústria de entretenimento que é o futebol hoje em dia? E não venham dizer que o homem já não manda lá, que só assina cheques, porque isso é meramente uma ficção. Alguém com o histórico de PdC não se ia deixar ludibriar por sanguessugas.

Com isto em mente, analisem as candidaturas que “possivelmente” irão aparecer, e os pontos de mudança de cada candidato. Não esperem milagres de quem nunca os fez. Se Pinto da Costa construiu uma hegemonia no futebol português, foi com visão de mudança e certeza daquilo que estava a fazer. Será que continua com essa mesma ambição e visão?


Entre na discussão


Quem somos

É com Fair Play que pretendemos trazer uma diversificada panóplia de assuntos e temas. A análise ao detalhe que definiu o jogo; a perspectiva histórica que faz sentido enquadrar; a equipa que tacticamente tem subjugado os seus concorrentes; a individualidade que teima em não deixar de brilhar – é tudo disso que é feito o Fair Play. Que o leitor poderá e deverá não só ler e acompanhar, mas dele participar, através do comentário, fomentando, assim, ainda mais o debate e a partilha.


CONTACTE-NOS