Uma vida no Benito Villamarín: o “mito” Joaquín

Bruno DiasMaio 1, 20227min0

Uma vida no Benito Villamarín: o “mito” Joaquín

Bruno DiasMaio 1, 20227min0
Em 2022, Joaquín Sánchez levantou um troféu pelo Real Bétis. Este é o rescaldo da carreira de um mito "verdiblanco".

Quando se estreou em 2000, com apenas 18 anos de idade, poucos se atreveriam a vaticinar uma história de amor tão bonita entre Joaquín e o Real Bétis. É certo que este era mais um jovem talentoso e com grandes possibilidades de assumir um papel de relevo na equipa principal “bética“, mas dificilmente seria possível prever o que aconteceu a seguir.

Mais de 650 jogos oficiais pelo clube (obviamente, o jogador com mais partidas na história do Bétis), mais de 100 golos e 100 assistências, o jogador mais velho do clube e da “La Liga” a apontar um “hattrick” na competição (com 38 anos e 140 dias), incontáveis dribles geniais, remates fulgurantes, passes fabulosos, momentos de magia…

São vários capítulos de uma história que conheceu recentemente mais um momento inesquecível, com o jogador a capitanear o Bétis na conquista da Copa do Rei de 2022, mais de 20 anos depois da estreia daquele menino de olhos claros que, de bola colada ao seu pé direito, criava, desequilibrava e encantava as bancadas do Benito Villamarín.

Lançado na primeira equipa quando os “verdiblancos” se encontravam na segunda divisão espanhola, Joaquín foi um dos grandes catalisadores de uma ascensão fantástica do clube aos mais altos patamares do futebol espanhol. As suas contribuições decisivas ajudaram na subida de divisão logo na sua época de estreia e, posteriormente, nas grandes temporadas seguintes do Bétis, com o regresso às competições europeias e a presença constante nos primeiros lugares do campeonato.

Porém, seria em 2004/05 que o clube atingiria talvez o patamar mais alto da sua história recente. O lugar na “La Liga” significou a qualificação para a Champions League, a primeira na história por parte de uma equipa de Sevilha. E como “cereja no topo do bolo”, o Bétis conquistava a Copa do Rei frente ao Osasuna, naquele que era o primeiro troféu da carreira de Joaquín e o primeiro troféu do clube desde 1977.

Um momento quase premonitório daquilo que seria um regresso triunfal, muitos anos depois. É inegável que Joaquín simboliza o Real Bétis, e não é possível dissociar o Bétis de Joaquín.

(Foto: expresso.pt)

 

O hiato: de 2006 a 2015

No entanto, o Bétis não é o único clube que Joaquín conheceu na sua carreira futebolística.

Depois de vários anos enquanto figura de proa dos “béticos“, marcando também presença regular na selecção espanhola (com participações nos Mundiais de 2002 e 2006 e no Euro 2004, realizado em Portugal), naturalmente que o jogador começou a atrair o interesse de vários dos principais clubes europeus, com destaque para o Chelsea, que à data havia sido recentemente adquirido por Roman Abramovich e pretendia construir um plantel de elite europeia e mundial.

No entanto, Joaquín haveria de manter-se por Espanha. Nos últimos dias do Verão de 2006, o Bétis e o Valencia chegaram a acordo para a transferência do jogador, com o clube valenciano a desembolsar cerca de 25M€ pela sua contratação, naquele que seria o seu novo recorde de transferências. Um valor avultado, mas na altura justificado por um atleta que já se apresentava como um dos melhores jogadores do campeonato, capaz de garantir um rendimento fulcral para o sucesso das suas equipas.

No Valencia, Joaquín foi recebido em apoteose pelos adeptos mas, talvez pelas elevadíssimas expectativas em si depositadas, nunca pareceu corresponder totalmente àquilo que se esperava dentro das quatro linhas. Depois de algumas épocas em que perdeu espaço na selecção, o extremo começou inclusive a perder também espaço no 11 titular do clube, com o surgimento de novos e jovens talentos, e temia-se que a carreira de Joaquín pudesse inclinar definitivamente numa trajectória descendente.

Foi então o Málaga, a atravessar um período de grande investimento e fulgor financeiro, que viu em Joaquín mais uma peça de qualidade para a construção de um plantel de um nível superior, tendo contratado o extremo espanhol por cerca de 4M€. E Joaquín correspondeu por inteiro com um elevado rendimento individual, que se refletiu no registo colectivo, pois o Málaga conquistou o 4º lugar e apurou-se para a Champions League pela primeira vez na sua história.

O “renascimento” de Joaquín não ficaria por aqui, no entanto. Em 2012/13, na segunda temporada a representar o clube, o extremo recuperou a sua energia ofensiva contagiante e foi fundamental na caminhada fantástica do Málaga na Champions League. Depois da fase de grupos, seguiu-se uma ultrapassagem surpreendente frente ao FC Porto de Vítor Pereira, nos oitavos-de-final, e só os detalhes impediram Joaquín e companhia de eliminar também o Borussia Dortmund nos quartos-de-final.

Em 2013, com a quebra financeira do clube malaguenho, os principais jogadores foram rumando a outras paragens. Assim, Joaquín seguiu para Itália, para representar a Fiorentina. Em duas temporadas ao serviço da “La Viola“, Joaquín disputou 71 partidas e ainda foi importante na caminhada do clube de Florença na Liga Europa, onde atingiu as meias-finais.

(Foto: violanation.com)

 

O regresso triunfal

No entanto, era inevitável que Joaquín regressasse a casa, à sua verdadeira casa. E foi isso mesmo que o jogador fez no último dia do mercado de Verão em 2015, pedindo expressamente à Fiorentina para que lhe permitissem regressar ao Bétis.

Os adeptos “verdiblancos” não se esqueceram do menino de olhos claros, agora um homem feito, e compareceram em massa no dia da sua apresentação, como tantas vezes havia acontecido para ver Joaquín jogar naquele relvado. E ele correspondeu.

Neste regresso ao Bétis, Joaquín teve sempre um papel relevante nas prestações desportivas do clube. Pepe Mel, Poyet, Setién, Rubi e Pellegrini. Todos eles reconheceram o papel do agora capitão de equipa não só nos relvados, com as qualidades técnicas e criativas que nunca perdeu, mas cada vez mais no balneário, agindo como uma extensão do treinador e transmitindo a famosa “mística” do clube aos muitos e talentosos jogadores de fora que chegaram aos “verdiblancos” nas mais recentes temporadas.

Para além disso, Joaquín começa a ser sinónimo de recordes no clube e no futebol espanhol. Para além de ser o jogador com mais jogos na história do clube e o jogador mais velho a realizar um “hattrick” no campeonato, é também o 2º jogador com mais jogos na história da “La Liga” (atrás apenas de Andoni Zubizarreta), o jogador com mais vitórias da competição e o jogador com mais jogos por um só clube. Uma figura futebolística mítica, que já não é apenas um ícone no seu Bétis mas também no futebol espanhol.

(Foto: dailyadvent.com)

A imagem do extremo espanhol que conta agora 40 anos de idade, lavado em lágrimas no final da partida da Copa do Rei, é perfeitamente representativa do que significa o Bétis para o jogador, e do que significa Joaquín para o Bétis. Uma ligação umbilical que, embora não tenha sido contínua, nunca se quebrou verdadeiramente.

Com um regresso já anunciado para a época 2022/23, parece que as bancadas do Benito Villamarín continuarão a poder assistir de perto à presença nos relvados da sua maior lenda: Joaquín Sánchez Rodríguez.


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