Toni Kroos. Um pintor perfeccionista com uma bola nos pés

Ricardo LestreFevereiro 9, 20184min0

Toni Kroos. Um pintor perfeccionista com uma bola nos pés

Ricardo LestreFevereiro 9, 20184min0
Apesar do mau momento vivido pela equipa, o internacional alemão tem sido o 'relógio suíço' do meio-campo merengue e as estatísticas falam por si.

No futebol moderno, são muitos os jogadores que enchem o olho. Que se destacam dos demais. Que são mais irreverentes. Que inventam uma nova finta. Que marcam um número inacreditável de golos. Que criam e concretizam jogadas individuais/colectivas de forma sublime. Esses são, em muitas ocasiões, adotados como modelos a seguir por grande parte dos jovens que ambicionam chegar ao topo.

Ainda assim, são aqueles mais discretos – mas eficazes -, que fazem do futebol uma matéria bem mais interessante e intrigante. Jogadores low profile. Casos, por exemplo, de Sergio Busquets e Toni Kroos, dois centrocampistas que tantas batalhas têm travado dentro das quatro linhas.

Nos últimos quatro anos, o futebol mundial tem sido dominado pelo Real Madrid. Mas para além da BBC e dos números astronómicos de Cristiano Ronaldo, o trio do meio-campo composto por Casemiro, Luka Modric e Kroos é, por muitos considerado, como a peça essencial que permite o funcionamento da máquina comandada por Zinedine Zidane.

Foi, precisamente, desde a saída de Kroos da Baviera que a hegemonia dos merengues se fez notar. O seu representante, Volker Struth, chegou mesmo a afirmar que a transferência para a capital espanhola se transformou no «roubo do século». Isto porque Florentino Pérez apenas desembolsou 25 milhões de euros pela sua aquisição no verão de 2014, altura em que a rotura negocial com a direção do Bayern Munique estaria iminente.

Lado a lado com Modric e sempre protegido por Casemiro, Toni Kroos cedo tratou de dar conta do recado. Na verdade, as qualidades já lhe eram reconhecidas, mas no Santiago Bernabéu deu-se o veredicto final. Kroos é futebol de regra e esquadro. É o perfeccionismo de um pintor materializado numa bola de futebol. Desde o pensamento à execução existe uma linha ténue e Kroos desafia a lógica. Todo o gesto, desde levantar a cabeça, ao pisar da bola até à execução do passe, há um perfeccionismo ao alcance de poucos. E Toni Kroos é o espelho dessa mesma perfeição.

Ao contrário do camisola 10, o internacional alemão não é dono de uma técnica virtuosa nem abarca grande capacidade de criação. É, por outro lado, eficaz. Preciso. E tudo com uma grande velocidade de raciocínio. Porque o que executa é uma forma de arte. Uma pintura tão elegante e real quanto as de Leonardo Da Vinci, Ingres ou Diego Velázquez.

O Real Madrid versão 2018 continua a desiludir em todos os parâmetros. Seja pela falta de golo dos atacantes, pela falta de segurança da linha defensiva, ou até – e isto de acordo com a esmagadora parte – pela inconstância dos seus médios. São muitas as dores de cabeça que ‘Zizou’ enfrenta numa altura em que a contestação se faz sentir de forma veemente.

No entanto, o rendimento inferior quer colectivo quer individual não tem afetado o capítulo que distingue Toni Kroos dos demais: o passe. Longo, médio ou curto, acompanhado de uma visão de jogo fabulosa. É impressionante a qualidade e a precisão com que entrega a bola para os seus colegas. Autênticas pinceladas de génio. E as estatísticas comprovam-no.

(Fonte: WhoScored)

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Os números são tão impressionantes que a alcunha de ‘Garçom’ acaba por assentar que nem uma luva. É extremamente difícil encontrar um jogador com as características de Kroos. Com o passar dos anos, tem desenvolvido uma maior aptidão para aparecer em zonas de finalização, tanto que já soma alguns golos de «galáctica» ao peito. Isto, claro, contando com a facilidade de remate e com a classe na execução de bolas paradas, aspetos que sempre lhe foram reconhecidos.

Longe de ser um génio silencioso como Sergio Busquets, mas a elegância e, sobretudo, a simplicidade de processos que Toni Kroos transporta para o terreno de jogo torna o futebol naquilo que deveria ser. Simples.


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