Toni Kroos. Um pintor perfeccionista com uma bola nos pés
No futebol moderno, são muitos os jogadores que enchem o olho. Que se destacam dos demais. Que são mais irreverentes. Que inventam uma nova finta. Que marcam um número inacreditável de golos. Que criam e concretizam jogadas individuais/colectivas de forma sublime. Esses são, em muitas ocasiões, adotados como modelos a seguir por grande parte dos jovens que ambicionam chegar ao topo.
Ainda assim, são aqueles mais discretos – mas eficazes -, que fazem do futebol uma matéria bem mais interessante e intrigante. Jogadores low profile. Casos, por exemplo, de Sergio Busquets e Toni Kroos, dois centrocampistas que tantas batalhas têm travado dentro das quatro linhas.
Nos últimos quatro anos, o futebol mundial tem sido dominado pelo Real Madrid. Mas para além da BBC e dos números astronómicos de Cristiano Ronaldo, o trio do meio-campo composto por Casemiro, Luka Modric e Kroos é, por muitos considerado, como a peça essencial que permite o funcionamento da máquina comandada por Zinedine Zidane.
Foi, precisamente, desde a saída de Kroos da Baviera que a hegemonia dos merengues se fez notar. O seu representante, Volker Struth, chegou mesmo a afirmar que a transferência para a capital espanhola se transformou no «roubo do século». Isto porque Florentino Pérez apenas desembolsou 25 milhões de euros pela sua aquisição no verão de 2014, altura em que a rotura negocial com a direção do Bayern Munique estaria iminente.
Lado a lado com Modric e sempre protegido por Casemiro, Toni Kroos cedo tratou de dar conta do recado. Na verdade, as qualidades já lhe eram reconhecidas, mas no Santiago Bernabéu deu-se o veredicto final. Kroos é futebol de regra e esquadro. É o perfeccionismo de um pintor materializado numa bola de futebol. Desde o pensamento à execução existe uma linha ténue e Kroos desafia a lógica. Todo o gesto, desde levantar a cabeça, ao pisar da bola até à execução do passe, há um perfeccionismo ao alcance de poucos. E Toni Kroos é o espelho dessa mesma perfeição.
Ao contrário do camisola 10, o internacional alemão não é dono de uma técnica virtuosa nem abarca grande capacidade de criação. É, por outro lado, eficaz. Preciso. E tudo com uma grande velocidade de raciocínio. Porque o que executa é uma forma de arte. Uma pintura tão elegante e real quanto as de Leonardo Da Vinci, Ingres ou Diego Velázquez.
O Real Madrid versão 2018 continua a desiludir em todos os parâmetros. Seja pela falta de golo dos atacantes, pela falta de segurança da linha defensiva, ou até – e isto de acordo com a esmagadora parte – pela inconstância dos seus médios. São muitas as dores de cabeça que ‘Zizou’ enfrenta numa altura em que a contestação se faz sentir de forma veemente.
No entanto, o rendimento inferior quer colectivo quer individual não tem afetado o capítulo que distingue Toni Kroos dos demais: o passe. Longo, médio ou curto, acompanhado de uma visão de jogo fabulosa. É impressionante a qualidade e a precisão com que entrega a bola para os seus colegas. Autênticas pinceladas de génio. E as estatísticas comprovam-no.
Os números são tão impressionantes que a alcunha de ‘Garçom’ acaba por assentar que nem uma luva. É extremamente difícil encontrar um jogador com as características de Kroos. Com o passar dos anos, tem desenvolvido uma maior aptidão para aparecer em zonas de finalização, tanto que já soma alguns golos de «galáctica» ao peito. Isto, claro, contando com a facilidade de remate e com a classe na execução de bolas paradas, aspetos que sempre lhe foram reconhecidos.
Longe de ser um génio silencioso como Sergio Busquets, mas a elegância e, sobretudo, a simplicidade de processos que Toni Kroos transporta para o terreno de jogo torna o futebol naquilo que deveria ser. Simples.