Roberto Olabe e os 60/40 que fazem dele um dos melhores do mundo pt.1

Ricardo LopesDezembro 3, 20235min0

Roberto Olabe e os 60/40 que fazem dele um dos melhores do mundo pt.1

Ricardo LopesDezembro 3, 20235min0
Roberto Olabe é o arquitecto do sucesso recente da Real Sociedad e Ricardo Lopes analisa o papel do director desportivo neste artigo

A Real Sociedad de Fútbol é um dos grandes destaques do futebol europeu, na temporada 2023/24. Porém, o sucesso do emblema do País Vasco é fruto de um trabalho prolongado, com passos bem estudados. Não é algo repentino nem montado a curto prazo e não aparenta haver o risco de o projeto desabar, ou sequer de entrar em quebra.

Há um nome que tem sido tremendamente elogiado neste processo: Imanol Alguacil. O técnico tem sido o líder do balneário e a figura principal de toda a ideia montada pela Real Sociedad. O espanhol de 52 anos assumiu a equipa principal a meio da temporada 2018/19, sucedendo a Asier Garitano. Após várias épocas ao serviço da equipa B, Alguacil mostrou-se plenamente preparado para o desafio, encaixando na filosofia que foi implementada.

No entanto, este texto não serve para elogiar Imanol Alguacil, mas sim sobre quem arriscou em apostar na sua promoção. Roberto Olabe é hoje em dia um dos melhores diretores desportivos do mundo do futebol, tornando a Real Sociedad numa das equipas mais temidas em Espanha. Se Alguacil é o foco nas quatro linhas, Olabe é a estrela em toda a montagem que origina os resultados produzidos pela equipa.

Roberto Olabe, que está na sua segunda passagem pelos txuri-urdin, tem cinco pilares básicos para que o projeto corra na perfeição:

• Treino;
• Competição;
• Educação;
• Avaliação;
• Seleção.

Para o diretor desportivo, a formação é muito importante para a sucesso da Real Sociedad. Olabe criou o modelo 60/40, algo que é muito complicado de replicar em outros lugares do mundo, muito menos se não se dá tempo para executar o plano. A ideia é que 60% do plantel seja composto por elementos da cantera, que conheçam o emblema por dentro e por fora e sejam formados como jogadores e como homens no Zubieta (ter uma equipa B de qualidade e bem colocada na estrutura do futebol nacional é muito importante para tal). Os restantes 40% serãoocupados por jogadores de fora, que sejam verdadeiras mais valias.

Porque consideramos este modelo um sucesso na Real Sociedad? A nível económico, permite investir em ativos mais concretos, podendo comprar um ou outro elemento mais caro, mas com a segurança que o jogador vai render o esperado. Ao nível futebolístico, com 60% do plantel a ser formado com base em certas ideias, é muito mais fácil a equipa A jogar de maneira uníssona, onde os jogadores que chegam se podem adaptar e integrar na perfeição.

A estabilidade em ter um plantel quase “fechado”, onde chegam somente dois ou três elementos por temporada, é confortável para a equipa técnica. Quem o diz é o próprio Olabe, em entrevista ao La Voz de Galícia:

«Já estive em clubes onde tive de contratar 17 jogadores ou onde todos os anos o objetivo obrigava a muitas mudanças. E não me senti tão confortável. Os clubes com que mais me identifico são aqueles em que o objetivo é desenvolver talentos. Tive a oportunidade de trabalhar no Médio Oriente ou na América do Sul, de ver outros processos sociais, e isso dá-nos um background; e quando voltamos, temos de contextualizar um modelo que já existe, para o colocar na dimensão que a elite exige».

O trabalho realizado na ASPIRE Academy foi vital para este pensamento de Roberto Olabe, que conseguiu implementar as suas ideias na Real Sociedad, numa região que conta com o Athletic Club, com todas as suas especificidades em contratações, o que deveria dificultar o trabalho dos rivais mais cercanos, mas tal não aconteceu.

Para o sucesso deste processo, é necessário que os clubes formadores possam ter mais regalias. O espanhol explica a técnica que é implementada com cada jovem jogador, no momento da sua contratação a outros emblemas com menos bagagem, apesar de afirmar que se pode melhorar:

«No futebol espanhol não somos nada generosos nem solidários, vivemos a lei da oferta e da procura de uma forma egoísta e agressiva. Precisamos de assimilar melhor os direitos dos menores e as obrigações dos clubes no âmbito do plano de desenvolvimento. Em França, por exemplo, o futebol tem os seus próprios regulamentos, que têm muito mais em conta os clubes formadores. Aqui, seguimos os regulamentos da FIFA, os 5%. Na Real Sociedad temos alguns pormenores, e isso é bom, mas não sei se é isso que eu gostaria que me fizessem. Oferecemos ao clube um contrato em que todos ganham. Com percentagens se o jogador chegar à equipa principal ou se houver uma transferência posterior. Mas isso é o mínimo que se pode fazer, nada de extraordinário. Há uma falta de generosidade e temos de nos sentar e falar sobre isso».

Todos os jovens que chegam ao plantel de Imanol Alguacil já conhecem na perfeição todas as nuances táticas, já que em Zubieta, as equipas possuem todas a mesma identidade, sendo uma das chaves para o êxito de tantos jovens e a sua rápida afirmação no plantel principal:

«Os treinadores que temos no clube são fundamentais para este modelo. Tivemos a sorte de ter na última época o Imanol, o Xabi, a Natalia, o Sergio… São fundamentais para compreender o Zubieta e o que fazemos aqui. Transformámos o suposto valor do custo do plantel em algo que está a crescer, porque o nosso plantel foi revalorizado em todos os aspetos. Gostamos de desenvolver um modelo de jogo em que todas as equipas da Zubieta se sintam confortáveis, um sinal da nossa identidade», afirmou Roberto Olabe, ao Diário As.


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