LaLiga Scouting #40 – Mohamed Ali-Cho (Real Sociedad)
Todas as épocas, milhões de fãs em todo o mundo seguem avidamente a LaLiga enquanto um dos melhores e mais entusiasmantes campeonatos do futebol mundial (em Portugal, é possível fazê-lo através da Eleven Sports, que transmite todas as partidas de todas as jornadas da principal competição de “nuestros hermanos“). Fazem-no pelos mais variados motivos, sendo que a garantia de espectáculo que os clubes espanhóis oferecem é, seguramente, um dos principais factores.
Espectacular e entusiasmante é também o mais recente protagonista do LaLiga Scouting. Com apenas 18 anos, Mohamed Ali-Cho chegou recentemente ao futebol espanhol e promete contribuir em pleno para grandes momentos de futebol, tendo em conta o seu perfil electrizante.
Nasceu em França, filho de pai costa-marfinense e mãe francesa mas de origens marroquinas. No entanto, a sua vida cedo se repartiu também entre o país de origem e a Inglaterra, onde os pais trabalhavam. O percurso futebolístico, naturalmente, acompanhou uma infância itinerante. O menino franzino e veloz começou por jogar futebol nos franceses do Chantilly, e daí passou para as academias de formação do Paris Saint-Germain, clube onde permaneceu até rumar novamente à Grã-Bretanha, com 11 anos, para representar o Everton.
Voltaria a França com 16 anos, para assumir lugar no futebol profissional pelas mãos do Angers, em 2020. Ao fazê-lo, Ali-Cho tornou-se o segundo jogador mais jovem da história a assinar um contrato profissional de futebol no país, apenas atrás de Eduardo Camavinga (curiosamente, também ele um anterior protagonista deste espaço).
As origens e o percurso do avançado, de resto, abrem-lhe as portas da selecção em 4 países distintos (Costa do Marfim, Marrocos, França, Inglaterra). Até ao momento, Ali-Cho tem actuado pelas selecções jovens francesas, sendo já internacional sub-21. Mas esta é uma situação que poderá ainda mudar no escalão principal.
Longe de ser ainda um projecto acabado, é sobretudo um “diamante em bruto” que agora deverá ser polido da melhor forma em Espanha.
O futebol de… Ali-Cho
O jovem avançado francês é um portento de capacidade atlética e técnica, e essa conjugação de qualidades transformam-no, naturalmente, num jogador difícil de travar pelo seu oponente directo. Ali-Cho é capaz de se superiorizar com frequência nos duelos individuais, o que lhe confere versatilidade na frente de ataque.
Talhado para actuar no último terço do terreno, o francês sente-se confortável para jogar a partir de qualquer corredor (laterais ou central), soltando o seu futebol explosivo sempre que é solicitado pelos seus companheiros. No Angers, por exemplo, Ali-Cho actuava como extremo-direito no 4x3x3 mas avançava para a dupla de ataque quando Gérald Baticle – o treinador da formação francesa – mudava o sistema para um 3x5x2. Diferentes espaços no relvado, diferentes funções, a mesma capacidade para acrescentar qualidade ao jogo.
Dono de uma velocidade acima da média, o avançado francês ataca regularmente as costas da defensiva adversária, quer em diagonais do meio para uma das alas (quando parte do corredor central), quer com movimentos de ruptura que lhe permitem entrar frequentemente embalado no último terço.
De bola colada ao seu pé esquerdo (embora seja razoavelmente competente com ambos os pés), arranca quase sempre com o intuito de bater o seu adversário directo e visar a baliza, através do seu apurado remate, ou de colocar o último passe para os seus colegas, graças à precisão que possui na execução. É também capaz de funcionar como referência na zona central do ataque, demonstrando já qualidade na forma como baixa para servir de apoio e guarda a bola ou tabela de forma eficaz, para receber novamente no espaço livre deixado pela movimentação do defesa que o acompanha (um dos seus movimentos predilectos).
Outra das suas qualidades – muito apreciada por qualquer treinador – é a sua capacidade de trabalho sem bola. Ali-Cho não se esconde das suas responsabilidades defensivas, reagindo com intensidade à perda da bola, colocando pressão nos seus oponentes e forçando inclusive alguns erros adversários em terrenos adiantados. Sinais muito positivos, sobretudo para um jogador do seu perfil.
Pela tenra idade, há ainda vários aspectos a limar no seu jogo. Desde logo e como grande parte dos jogadores jovens, Ali-Cho tem tendência para usar e abusar das suas forças, e isso acaba por constituir-se como uma fraqueza quando em exagero. Ainda não identifica da melhor forma os momentos em que deve dar apoio aos colegas e procurar receber no pé ou atacar o espaço vazio, recorrendo regularmente à segunda opção devido ao seu poderio atlético. Também não é ainda capaz de tomar a melhor decisão consistentemente ao nível do timing de definição da jogada, levando a que se perca em dribles e se coloque em situações pouco vantajosas (1×2, 1×3).
Porém, tudo isto é mais do que expectável e corrigível num “menino” de 18 anos que, por se destacar da maioria em termos de talento puro, se entusiasma com a bola nos pés (e entusiasma quem o assiste nas bancadas).
Dado o potencial que já apresenta numa fase inicial da carreira, e tendo em conta o negócio que o trouxe até ao Anoeta neste Verão (a Real Sociedad pagou cerca de 12M€ ao Angers), Ali-Cho pode muito bem constituir-se como uma autêntica “pechincha” dentro de algumas temporadas. Abençoado com uma capacidade atlética e dono de recursos técnicos de montra, colocar um limite ao seu potencial é muito complicado. Está aqui um “caso sério” de talento e rendimento, que agora pisará pela primeira vez os relvados da LaLiga.